Surgimento e mudança da Ribeira Lin Kai de San Kio
Macau e a Rota da Seda: “Macau nos Mapas Antigos” Série de Conhecimentos (I)
Escravo Negro de Macau que Podia Viver no Fundo da Água
Que tipo de país é a China ? O que disseram os primeiros portugueses aqui chegados sobre a China, 1515
O projecto “Memória de Macau” foi galardoado com “Estrela de Descobrimento” do “Prémio Global 2024 para Casos Inovadores em Educação do Património Mundial (AWHEIC)”.
Trata-se de um significativo conjunto de cerca de seis mil folhas manuscritas, cronologicamente situadas, na sua grande maioria, entre meados do século XVIII e a primeira metade da centúria seguinte. A temática desta documentação diz respeito às relações entre as autoridades portuguesas e chinesas a propósito do território de Macau, versando múltiplos e variados temas, no âmbito dos contactos ofic
Após meses de preparação, a caravana constituída por três Mitsubishi Pagero, baptizados com os nomes de Macau, Taipa e Coloane partiram, do simbólico Jardim Camões, em Macau, para o II Raide Macau-Lisboa, no dia 27 de julho de 1990.
Chegamos a ver fotografias antigas de Macau, cujos cenários são irreconhecíveis. Agora o fotojornalista Gonçalo Lobo Pinheiro coloca as fotografias antigas de Macau nos cenários actuais, permitindo-nos viajar nos diferentes tempos ......
>>Ir à exposição
No projecto “À Procura de Macau” o fotógrafo reuniu algumas das muitas fotografias que fez quando residiu neste território entre 1986 a 1994, e quando o revisitou em 2005 e 2016.
>>Ir à página da exposição
Eremita de S. Agostinho, nasceu em Torres Vedras, onde foi baptizado a 16 de Janeiro de 1684, e faleceu no mar, entre Goa e Macau, a 19 de Abril de 1741. Vestiu o hábito no convento da Graça de Lisboa, a 17 de Março de 1702, e chefiou a missão que, em 1720, partiu para Goa. Foi Comissário e Visitador das Missões de Bengala, em 1715, e exerceu por um ano o governo da diocese de Meliapor, onde recebeu, a 22 de Fevereiro de 1725, as bulas de Bispo de Uranópolis, coadjutor e futuro sucessor do Bispo de Macau D. João do Casal. Foi sagrado na igreja da Graça de Macau, a 7 de Dezembro de 1726. Em 1734 partiu para Cantão, em cuja Sé foi prelado algum tempo. Dali embarcou de regresso a Portugal, mas uma tempestade medonha atrasou-lhe a viagem e só conseguiu chegar a Lisboa em 1736. Entretanto, a 20 de Novembro de 1735, o Bispo de Macau, D. João do Casal, morreu, o que o levou a apressar a viagem para a diocese, aonde chegou a 28 de Agosto de 1738 e fez a entrada oficial no dia 8 de Setembro de 1738. Era muito prudente, zelosíssimo, muito piedoso e bom, de extrema humildade, tendo percorrido a sua extensa diocese. Em 11 de Fevereiro de 1740 chegaram as bulas da sua transferência para Goa (de 11 de Fevereiro de 1739), como Arcebispo. Deixou Macau a 27 de Novembro do mesmo ano, a caminho de Goa, a fim de tomar posse da arquidiocese. Já fora da barra de Calecute, morreu a 19 de Abril de 1741. O capitão do navio lançou o corpo ao mar. [H.P.R.] Bibliografia: ALMEIDA, Fortunato de, História da Igreja em Portugal, vol. 2, p. 706; CONCEIÇÃO, Cláudio da, Gabinete Histórico, tomo XI, p. 99; FERNANDES, Gabriel, “Relação dos Bispo de Macau”, in Boletim da Sociedade de Geografia, ser. 6, p. 123; NAZARÉ, Casimiro Cristóvão da, “Mitras Lusitanas no Oriente”, in Boletim da Sociedade de Geografia, ser. 14; p. 436; TEIXEIRA, Padre Manuel, “Bispos e Governadores de Macau”, in Macau e a sua Diocese, vol. 2, (Macau, 1940), pp. 196-205.
O artista George Chinnery nasceu em Londres, a 5 de Janeiro de 1774, e foi o terceiro filho sobrevivente de um “mestre da escrita”, William Chinnery, que tinha exposto retratos na Sociedade Livre de Artistas em 1764 e 1766. Chegou a Macau em 1825 e aí morreu, em 1852. Macau foi a sua casa durante a maior parte destes 27 anos. Foi o mais eminente artista ocidental que viveu e trabalhou na costa da China. O seu irmão mais velho, outro William Chinnery, fez fortuna como agente oficial em várias colónias da Coroa. Emprestou dinheiro ao irmão artista nos primeiros tempos da carreira deste. Contudo, em 1812 soube-se que a maior parte da riqueza de William Chinnery tinha sido obtida através de fraudes e ele fugiu do país para não mais voltar. O segundo irmão, John Terry Chinnery, foi para a Índia ao serviço da Companhia das Índias Orientais; juntou-se-lhe, em 1802, George Chinnery, o irmão mais novo. George Chinnery já tinha ganho uma reputação considerável em Londres. A 6 de Junho de 1792 inscreveu-se na Royal Academy Schools, o primeiro passo para se tornar artista professional. ‘’Os seus modelos eram Sir Joshua Reynolds (que morreu pouco antes de Chinnery começar os seus estudos nas Escolas) e Thomas Lawrence, a estrela em ascensão entre os retratistas britânicos. Entre 1791 e 1785 expôs 12 retratos em miniatura e retratos desenhados nas exposições anuais da Real Academia. Em 1796, mudou-se para a Irlanda e fixou-se em Dublin, onde tinha parentes afastados. A alta burguesia protestante irlandesa encontrava-se no auge da sua riqueza e do seu poder e o jovem artista recebeu encomendas de uma quantidade de retratos, não só miniaturas mas também retratos a óleo em tamanho natural. A 19 de Abril de 1799 casou com Marianne Vigne, a filha mais nova do senhorio. Em 1800, foi fundada a Sociedade de Artistas da Irlanda; Chinnery foi o primeiro Secretário da Sociedade e um dos seus membros mais activos. No final do ano de 1800 foi abolido o Parlamento irlandês, de maneira que o povo irlândês só era representado em Londres. Em consequência disto, muitos dos residentes abastados de Dublin saíram da cidade; alguns deles, incluindo George Chinnery, foram para Inglaterra. Decidiu ir para junto do irmão, John, que estava na Índia, onde vários artistas britânicos tinham desfrutado uma carreira lucrativa, embora outros artistas prometedores tenham falhado, ou morrido prematuramente. Solicitou à Companhia das Índias Orientais autorização para viajar para a Índia, a fim de trabalhar como pintor. Foi-lhe autorizado o pedido (à segunda tentativa), e partiu para a Índia em Junho de 1802 a bordo do Gilwell, um navio construído na Índia e baptizado com o nome da casa de campo do irmão mais velho. Deixou em Inglaterra a mulher e dois filhos pequenos. Era costume os homens casados irem sozinhos para o Oriente e a família juntar-se-lhes mais tarde, logo que estivessem definitivamente instalados. Em Dezembro de 1802, Chinnery juntou-se ao irmão em Madras. No início, parece que as coisas correram lentamente, embora tivesse conseguido pintar os retratos de vários colegas do irmão, civis e militares. O seu quadro mais famoso do período de Madras é o retrato de William e Katherine Kirkpatrik que representa o filho e a filha meio-indianos do embaixador na corte de Hyderabad, pouco antes da partida destes para Inglaterra. Chinnery também desenvolveu o seu talento de desenhador produzindo uma série de gravuras, The Indian Magazine and European Miscellany, publicadas em 1807. No mesmo ano, recebeu a incumbência de pintar o retrato mais importante até aquele momento, o do novo Presidente do Supremo Tribunal de Bengala, Sir Henry Russel. Isto levou-o a Calcutá, que, era de facto, a capital das Indias Britânicas. O retrato cerimonial (no Supremo Tribunal de Calcutá) foi muito elogiado e foi feita em Londres uma gravura do mesmo retrato. Mas antes de se mudar definitivamente para Calcutá, foi encontrar-se com o seu amigo Sir Charles D’Oyly em Dacca. D’Oyly era um artista amador entusiasta e, depois de ele se ter juntado a Chinnery em Calcutá, em 1812, foi em casa de D’Oyly que um grupo de artistas amadores se reuniu, em torno de Chinnery e tentou seguir o seu exemplo. Em Calcutá, Chinnery, tornou-se o principal artista expatriado, retratando muitas das figuras mais importantes da sociedade de Calcutá e suas famílias.Tornou-se uma figura muito conhecida na cidade, famoso pela sua excentricidade e pela sua graça à mesa. Tinha muito boa relação com a família do Governador Geral, o primeiro Conde de Minto, do qual pintou pelo menos quatro retratos. Para além disto, pintou inúmeros desenhos (e alguns óleos) de cenas de aldeia Bengal, muitas vezes com habitações em ruínas, túmulos arruinados e animais domésticos. Vê-se os aldeões carregando bilhas de água, a preparar comida em fogões provisórios ou a lavar roupa à beira de um rio. A mulher e os filhos, finalmente, juntaram-se-lhe. Em Julho de 1817 chegou à Índia a filha, Matilda, seguida, em 1818, pela esposa, Mariana e pelo filho, John, em 1822. Por esta altura, porém, Chinnery e a mulher viviam separados. Chinnery esteve algum tempo com o filho, que depois começou uma viagem fluvial para ir visitar a mãe, mas adoeceu e morreu antes de chegar junto dela. Chinnery era bem remunerado por muitos dos seus trabalhos em Calcutá. Mas gastava ainda mais do que ganhava e as dívidas transformaram-se num problema crescente. Em 1821, foi viver para o estabelecimento dinamarquês de Serampore, onde não se aplicava a lei civil britânica. Os amigos emprestaram-lhe dinheiro para permitir que o artista voltasse para Calcutá e pagasse as dívidas, mas acontece que o artista tinha subestimado as suas responsabilidades. Para fugir aos credores, partiu de barco para a costa da China, em 13 de Julho de 1825, dizendo que fazia a viagem por mar para restabelecer a saúde. A mulher e a filha (agora já casada) ficaram para trás, assim como os dois filhos ilegítimos, de mãe indiana, nascidos em 1812-1813. Chegou a Macau a 29 de Setembro de 1825. Passou aqui o Outono e, em Junho do ano seguinte, arrendou a curto prazo uma habitação na Rua de Ignácia Baptista, número 8, perto da igreja de S. Lourenço. Os arquivos do Senado de Macau registam que, “a 17 de Junho de 1826, Maria de Carvalho, mulher de Manuel Homem de Carvalho, pediu licença para alugar por seis meses a sua casa na rua de São Lourenço que desce para a praia do Manduco” a ‘George Chinnery, comerciante estrangeiro’. Parece que ocupou estas instalações durante o resto da sua vida. Em 1830, os seus vizinhos mais próximos eram o missionário Dr. Robert Morrison e dois empregados da Companhia das Índias Orientais, Robert Hudleston e John Jackson. Durante alguns anos, entre 1826 e 1832, Chinnery dividiu o seu tempo entre Macau e Cantão. Embora a sua potencial clientela fosse aqui menor do que em Calcutá, conseguiu pintar os retratos tanto de oficiais chineses – incluindo os mercadores hong conhecidos como Howqua e Mowqua – e ocidentais, entre os quais William Jardine, James Matheson e vários outros associados destes. Pintou, também, as gentes locais que encontrava – barbeiros e carregadores, pescadores, ferreiros e tancareiras chineses. Macau oferecia-lhe grande variedade de assuntos: a Praia Grande vista de vários ângulos, as igrejas e seminários no alto de colinas, os jardins de Camões, o templo de Á-Ma (Mage Miao 媽閣廟) com os rochedos circundantes, as tendinhas apinhadas de gente no mercado de rua, em volta do mercado de S. Domingos. A partir de 1832, raramente saía de Macau. As suas movimentações podem ser inferidas com alguma confiança a partir dos seus desenhos, os quais são muitas vezes datados com precisão. Mais que isso, apresentam muitas vezes anotações, em estenografia, no sistema Gurney, que ele aprendeu, sem dúvida, quando era jovem. Estas anotações, em estenografia, nos esboços pintados serviam como auxiliares de memória, que o artista podia consultar quando chegava a executar uma versão à pena, uma aguarela ou uma pintura a óleo, do assunto. Em Macau, Chinnery continuou a gozar uma vida social activa, tal como fizera em Calcutá. Relatos contemporâneos, particularmente o diário da americana Harriett Low, descrevem-no a jantar a rigor (tinha um bom apetite famoso), a jogar cartas e a participar em representações teatrais amadoras. Em Calcutá, Chinnery e os seus discípulos amadores tinham desenhado os cenários para os eventos teatrais na Câmara de Calcutá e no teatro Chowringhee. De forma idêntica, em Macau, pintou cenários e, para além disso, participava nas peças fazendo papéis femininos de efeito muito humorístico. Em 1833 Chinnery concluiu o retrato da própria diarista Harriett Low, uma das suas obras mais bem documentadas que se encontra no Peabody Essex Museum, em Salem, Mass. Ao chegar a Macau com o tio, William Low, comerciante de Nova Inglaterra, ela descobriu que era a única mulher solteira na comunidade de expatriados ocidentais. Tal como outros visitantes, teve lições de esboço com Chinnery e copiou os desenhos deste. No diário refere-se a Chinnery como um contador de histórias, guloso, actor cómico, um génio divertido, ‘um dos homens mais feios que existem’ e ‘especialmente desagradável ao pequeno almoço’. A primeira vez que visitou o estúdio dele (ou a sala dele, como ela geralmente o descreve), admirou as “belas semelhanças’que ali viu. Contudo, quando o seu próprio retrato foi finalmente executado (juntamente com os retratos do tio e da tia) ficou menos satisfeita e escreveu que “não alimentou mesmo nada a minha vaidade’. Os visitantes dos aposentos de Chinnery, em Macau, viram muitas vezes auto-retratos, tanto desenhos como pinturas. Os auto-retratos que sobreviveram, especialmente os que foram pintados em idade mais avançada, parecem enfatizar a “fealdade” de que ele se orgulhava. Uma das versões mais lisonjeiras foi levada para a América pelo comerciante Benjamin Willcocks e está agora no Metropolitan Museum, em Nova Yorque. Os retratos mais tardios incluem o que está na National Portrait Gallery, em Londres, (exposto em 1846), no qual o artista confronta o espectador com uma postura agressiva, com sobrancelhas pesadas, cenho carregado e um vermelhão forte – um leitmotiv dos seus retratos – aplicado nos lábios e no nariz. Ao lado, encontram-se pinturas que representam as duas fases mais importantes da sua carreira: um túmulo na Índia e a Praia Grande em Macau. Este auto-retrato foi um dos catorze quadros que Chinnery enviou de Macau ou Cantão para serem expostos na Royal Academy, em Londres. Desta maneira, ele mantinha a reputação na pátria, que deixara em 1802 e à qual nunca voltou. Outros quadros expostos incluíam Howqua, o viajante cego Tenente Holman, RN (Royal Society, Londres), o missionário pomeraniano Charles Gutzlaff, que viajou nos barcos de ópio de Jardine e Matheson para trazer o Evangelho à China (em local desconhecido), o Dr Thomas Colledge, na sua enfermaria oftalmológica, com as suas assistentes chinesas (Peabody Essex Museum, Salem, Mass.); e ‘Assor, uma tancareira de Macau’ (em local desconhecido). Apesar da sua fama e do seu estatuto de figura lendária procurada por muitos dos que visitavam Macau, Chinnery nunca foi capaz de tirar muito proveito da sua obra. Alguns dos seus credores na Índia continuavam a pressionar para serem pagos muito tempo depois da sua partida. Conseguiram uma ordem do tribunal exigindo-lhe que pagasse metade dos seus ganhos ilíquidos durante cinco anos, a partir de 11 de Março de 1836. Quando ele não pagava, James Mattheson, em Macau, tratava com o agente em Calcutá para fazer ‘mais um esforço para o libertar’, estabelecendo um crédito de 16.000 rupias para os credores de Chinnery. Nessa altura, Chinnery estava a sofrer a concorrência dos artistas chineses ‘de exportação’, que pintavam num estilo ocidentalizado. O seu rival mais notável era Guan Qiaochang (關喬昌), conhecido pelos ocidentais como Lamqua (Lin Gua 林呱). Já se disse muitas vezes que Lamqua (Lin Gua 林呱) teve lições com Chinnery, mas o próprio Chinnery o negou. De qualquer maneira, Lamqua (Lin Gua 林呱) adoptou com notável facilidade o estilo de Chinnery e baixou muito os preços. Quando Chinnery se estabeleceu definitivamente em Macau, Lamqua ficou sem rival em Cantão e trabalhava com muitos assistentes num enorme estúdio, em Cantão, o qual foi sucessivamente descrito por muitos visitantes. Para mais, no início dos anos 40 do século XIX, Lamqua (Lin Gua 林呱) pintava também retratos para clientes ocidentais em Macau e, em 1845, abriu um estúdio na Queen’s Road, em Hong Kong. Na primeira fase da ‘Guerra do Ópio’, o nome de Chinnery foi referido, numa proclamação chinesa de 1840, como um um dos seis expatriados que recebiam ordem de sair da colónia, sob pena de captura imediata pelas autoridades chinesas. Tentou, sem êxito, arranjar passagem para Bengala. O alívio que sentiu com a chegada das forças navais britânicas está expresso numa nota, em estenografia, num desenho datado de 16 de Junho de 1840 – ‘o dia mais importante que os ingleses jamais experimentaram na China’, escreveu ele. Pouco depois do Tratado de Nanquim, executou um dos seus mais célebres retratos de grupo, On Dent’s Verandah. Neste, dois “mercadores na China” e amigos próximos do artista, o americano William Hunter e o francês J. A. Durran, aparecem ao lado do Capitão William Hall, comandante do vapor de ferro Nemesis. À medida que Hong Kong se desenvolvia depois da Guerra, muitos dos clientes de Chinnery mudaram-se de Macau para lá. Ele mesmo passou seis meses em Hong Kong, em 1846, mas não estava bem de saúde e não chegaram até nós muitos dos seus desenhos desta época. Em 1843, a casa em que ele vivia, foi ocupada pela missão católica. Chinnery não pagou o aluguer aos novos senhorios e o dinheiro em dívida só foi recuperado depois da sua morte pelo padre Superior, Frei Joaquim Leite. Chinnery morreu a 30 de Maio de 1852, aos 78 anos – uma idade excepcionalmente avançada para europeus nas costas da China. A autópsia foi feita pelo seu amigo (e artista amador) Dr. Thomas Boswall Watson, que declarou que o célebre estômago do artista estava de perfeita saúde, mas ele tinha morrido de uma “apoplexia séria”, ou, em termos modernos, de um ataque. Foi sepultado no Cemitério Protestante de Macau . Não se encontrou qualquer testamento, mas uma venda das obras do estúdio, em 28 de Julho de 1852, atraíu bastante público. O Hong Kong Register relatava que “uma regata, um baile e as obras do falecido senhor Chinnery em Macau, afastaram a elite da sociedade de Hong Kong, esta semana”. A 30 de Março de 1974 foi descerrada uma lápide com uma inscrição trilingue criada por Sir Lindsay Ride. A lápide foi colocada sobre a grande pedra tumular do século dezanove, que tinha apenas a inscrição ‘George Chinnery’. Na mesma altura, uma rua, perto do lugar da sua antiga casa, que até então se chamava Rua do Hospital dos Gatos, mudou oficialmente de nome para ‘Rua George Chinnery’. As autoridades de Macau também deram um novo nome chinês ao artista. Em lugar do nome que era tudo menos elogioso de Chin lup Ley (Qiannali 錢納利) (dinheiro a juros), passou a ser Chin Lin Lei (Qiannianli 千年利) (mil anos de benefício). Bibliografia: CONNER, Patrick R. M., George Chinnery 1774- 1852, Artist of India and the China Coast, (1993); NUÑEZ, César Guillen, (ed.), “Macau, uma Viagem Sentimental”, in George Chinnery 1771-1852, (Lisboa, 1995); Museu Luís de Camões, ‘George Chinnery – Macau’, (Macau, 1985); BONSALL, Geoffrey W., “George Chinnery’s Shorthand”, in HUTCHEON, Robin, Chinnery. The Man and the Legend, (1975), pp. 147-153; HODGES, Nan; HUMMEL, Arthur W., (eds.), Lights and Shadows of a Macao Life. The Journal of Harriett Low, Traveling Spinster, 2 vols., (2002); HUNTER, William C., An American in Canton (published originally as The ‘Fan Kwae’ at Canton before Treaty Days, 1825-1849, and Bits of Old China), (1994); TEIXEIRA, Padre Manuel, George Chinnery no Bicentenário do seu Nascimento, (Macau, 1974).
Joaquim Teles d'Almada e Castro faleceu em Malaca, a 19 de Abril de 1842, onde estava de passagem em viagem para Portugal. Da segunda geração da família macaense 'Almada e Castro' de Macau, nascido em Lisboa a 15 de Fevereiro de 1782. Não se sabe em que data foi para o Oriente, conhecendo-se somente que em 1809 era tenente do Batalhão Príncipe Regente criado nesse ano em Macau. Em 1822 era 1º tenente do Batalhão de Artilharia de Goa e em 1825 regressa definitivamente a Macau. Por carta patente de 11.10. 1828 é nomeado sargento-mor de Artilharia da guarnição de Macau e lente de Artilharia da Academia Militar; por carta patente de 10.4.1830 teve a comenda das aldeias de Pragma e Nagar, em Goa; nomeado governador da Fortaleza da Barra em Macau, por decreto régio de 27.7.1840; promovido a tenente-coronel do Estado da Índia por carta patente de 1.10.1841; promovido a coronel e passado à reforma. Foi cavaleiro da Ordem Militar de Avis.
No dia 13 de Fevereiro de 1846, o Herói de Itaparica João Maria Ferreira do Amaral embarca para Macau no navio inglês Madrid, vindo a ser o primeiro Governador a administrar a Província, como independente da Tutela do Estado da Índia. No dia 22 de Abril de 1846, tomou posse do Governo da Província de Macau, Timor e Solor, o Conselheiro Capitão de Mar-e-Guerra, João Maria Ferreira do Amaral, até aí conhecido como “O herói de Itaparica”, que tinha chegado no dia 19 deste mês e ano. João Maria Ferreira do Amaral é o novo Governador de Macau e só não ultrapassa a data de 1849 no cargo porque é assassinado. O cavaleiro-fidalgo era natural de Lisboa e muito culto em línguas e Filosofia, em Matemática e Cálculo Astronómico. [Precisava, pensamos nós, de mais Psicologia para perceber no rosto que parecia oferecer-lhe flores, a expressão de quem ia derrubá-lo do cavalo e decapitá-lo!] Foi preso pelos miguelistas mas libertado por falta de provas, dezoito meses depois. Emigrou com outros liberais para Inglaterra e depois para a Ilha Terceira. Esteve, ao serviço de Portugal, em Turim e Roma, em Génova e portos de Espanha. Vigiou o contrabando e tráfego de escravos entre os Açores e a América Latina. Resgatou liberais em Brest, foi exercer funções em Luanda. Opôs-se ao desrespeito dos britânicos para com as autoridades portuguesas. Foi para o Brasil e perdeu lá um braço, em combate. Foi repetidamente agraciado pela Coroa. Trocou a marinha pela política e, como homem de confiança do Ministro da Marinha e Ultramar, Joaquim José Falcão, a acrescentar ao perfil firme e determinado de que Macau carecia, tomou posse como Governador a 22 de Abril de 1846. Começou por saldar dívidas à tropa e a funcionários com dinheiro da Pagadoria da Marinha e preparou-se para definir nova estratégia política em Macau. Em 1847 comunicou a QiYing que ia construir uma casa forte na Taipa. A posse da Taipa era, sobretudo, a posse de um porto com melhores condições do que Macau e mais avançado para defesa de qualquer investida estrangeira. Para reparação do cais de Macau, instituiu tributação de uma pataca mensal aos barcos “faitiões” que se registassem na Procuratura. Não foi aceite pelos “contribuintes” esta iniciativa e 1500 chineses em 37 “faitiões” vindos pelo rio abaixo romperam de madrugada pelo cais do porto interior e atacaram a cidade. Foram reprimidos pelos soldados e porque a população ribeirinha os escondeu na confusão de ruelas e casebres daquela parte da cidade. O Governo de Ferreira do Amaral é rico e controverso. Demos um apontamento nesta passagem sobre Governadores, mas a Cronologia indica fontes para seguir de perto o seu mandato até e depois do infeliz desenlace. Como Governador, (V. Governadores De Macau, op. e ed. cit., pp. 210 a 217). • João Maria Ferreira do Amaral concebeu o plano de despojar o Mandarim de parte dos poderes de que estava revestido, ampliando a esfera de atribuições da Procuratura (único tribunal, em Macau, para julgamento de chineses). Igualmente mandou fechar definitivamente a Alfândega Chinesa de Macau. V. nesta Cronologia…, 1849, Março, 5.
No dia 19 de Abril de 1880, para codificar os regulamentos, instruções, ordens, avisos e outros, o Governador de Macau nomea uma comissão comporta por: Bacharel Eduardo Alfredo Braga de Oliveira, juiz de direito da comarca de Macau, que servirá de presidente; António Joaquim Bastos Junior, agente do ministério público junto à prcuratura dos negócios sínicos; Leoncio Alfredo Ferreira, administrador do concelho de Macau; Pedro Nolasco da Silva, 1.º intérprete junto à procuratura, substituto do procurador, actualmente em exercício por impedimento do proprietário que se acha doente; Eduardo Marques, 2.º intérprete junto à procuratura, que servirá de secretário.
No dia 19 de Abril de 1880, não estando ainda convenientemente organizada a repartição do correio desta cidade, a qual, embora encarregada a um administrador nomeado por portaria provincial, sem vencimento de estado, se pode considerar uma dependência do correio de Hong Kong, em benefício do qual revertem os rendimentos postais, o Governador determina que uma comissão especial formule um projecto de organização do correio para esta província, devendo ser postas à sua disposição, que sobre o serviço de correio existir nas repartições públicas da colónia, bem como quaisquer outros esclarecimentos, que a comissão necessitar. Esta comissão será composta do secretário geral do governo, José Alberto Côrte Real que servirá de presidente; do presidente do leal senado, Domingos Clemente Pacheco; do secretário da junta da fazenda, João Correio apres de Assumpção; do director das obras públicas, Raymundo José de Quintanilha; do administrador do correio, Ricardo de Sousa; do advogado António Joaquim Bastos Junior; e do alferes João Maria de Sousa e Brito, que servirá de secretário. A comissão deverá ter em vista, que com quanto não seja provavelmente possível sujeitar desde já a população chinesa à instituição do correio, convém contudo dispor as coisas por forma que a mesma população possa servir-se dela e gradualmente habituar-se a reconhecer as suas vantagens.
Mais
Instruções de uso
Já tem a conta da "Memória de Macau"? Login