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Trata-se de um significativo conjunto de cerca de seis mil folhas manuscritas, cronologicamente situadas, na sua grande maioria, entre meados do século XVIII e a primeira metade da centúria seguinte. A temática desta documentação diz respeito às relações entre as autoridades portuguesas e chinesas a propósito do território de Macau, versando múltiplos e variados temas, no âmbito dos contactos ofic

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Após meses de preparação, a caravana constituída por três Mitsubishi Pagero, baptizados com os nomes de Macau, Taipa e Coloane partiram, do simbólico Jardim Camões, em Macau, para o II Raide Macau-Lisboa, no dia 27 de julho de 1990.

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1689

Luís Vasco Carneiro de Sousa e Faro foi governador de Macau (1790-1793). Moço e cavaleiro fidalgo, Luís Vasco Carneiro de Sousa e Faro era filho de Francisco Luís Carneiro da família do Conde da Ilha do Príncipe. Nasceu em Goa e foi ao serviço da armada do Estado da Índia que fez a sua carreira militar. Considerado hábil e muito aplicado nos estudos, era no entanto de “constituição débil, e pouco sofredor de trabalho”. Em 1782, estava colocado no governo de Diu e ambicionava continuar a sua carreira administrativa no governo de Moçambique, mas não foi atendido por Martinho de Melo e Castro. Substituído, regressou a Goa, onde se encontrava quando, em 1790, foi nomeado para o governo de Macau, deixado vago pela inesperada morte de Xavier Mendonça Corte Real, a 16 de Julho de 1689. Tomou posse do cargo a 29 de Julho de1790, tendo recebido o poder das mãos de Lázaro da Silva Ferreira e de Manuel da Costa Ferreira, que tinham ficado a governar a cidade após a morte de Corte Real. Nesses anos, a conjuntura política de Macau ressentia-se por um lado da rivalidade entre as potências ocidentais, que, estimuladas pelo incremento do comércio do ópio, disputavam o domínio do mercado chinês, e por outro da instabilidade que se fazia sentir na China, na sequência das sublevações que nos últimos anos da década de 1780 tinham eclodido na Formosa. A Macau foram chegando os efeitos destas movimentações, propiciando o surgimento de algumas tensões no relacionamento entre os portugueses e os funcionários chineses da província de Guangdong廣東, mas também tentativas de cooperação na luta contra os denominados ‘piratas’. Sousa e Faro acompanhou estas questões, e de modo especial as diligências efectuadas pela embaixada inglesa que nessa altura foi a Pequim, chefiada por Lord Macartney. Conhecedor dos objectivos britânicos, o governador advertiu a corte de Lisboa dos perigos que correria aquele entreposto português se o embaixador de Inglaterra fosse bem sucedido nas suas negociações na capital chinesa. Ambicioso, Sousa e Faro desejava aproveitar-se da sua colocação em Macau para obter novas promoções e realizar outras aspirações relacionadas com interesses comerciais. A documentação não nos fornece informações inequívocas sobre esta última matéria, mas a política que seguiu relativamente aos chineses, aos estrangeiros e aos macaenses conduz-nos a essa conclusão. Com efeito, logo na primeira monção após a sua tomada de posse, Sousa e Faro escreveu para Goa propondo que se retirasse do Senado a administração da Fazenda real, passando-a para as competências do governador. Nas suas alegações acusava os vereadores de má administração, mas isso já não correspondia totalmente à verdade, porque desde 1787 que o ouvidor superintendia na gestão dos dinheiros públicos. O propósito de Sousa e Faro seria o de aproveitar a gestão da Fazenda real para, através de mercadores portugueses da Índia integrados no circuito do ópio, investir em operações comerciais. Neste contexto se integravam as denúncias dos senadores em relação à cumplicidade do governador em conflitos que surgiram com mercadores estrangeiros, devido a transacções de ópio. Proibido pelas ordens régias de se dedicar ao comércio,e com o processo do seu predecessor Bernardo Aleixo Lemos e Faria ainda a decorrer, Sousa e Faro foi cuidadoso, mas a ambiguidade das suas posições nestas contendas revelam indesmentíveis interesses comerciais. A realização das suas aspirações teria inevitavelmente de chocar com os estabelecidos interesses dos macaenses, dando origem à incompatibilidade que caracterizou a relação de Sousa e Faro com os senadores. O governador queixava-se da falta de poder, mas o ouvidor Lázaro da Silva Ferreira atribuiu estas queixas à frustração que sentia por não poder realizar as suas ambições comerciais. A relação de Sousa e Faro com o bispo D. Marcelino José da Silva também não foi pacífica. O prelado desejava uma maior intervenção do governador na repressão dos maus costumes, e nomeadamente na prática da prostituição alimentada pelo dinheiro dos mercadores estrangeiros que residiam na cidade. O capitão-geral não negava a sua colaboração, mas também não actuava com a prontidão e o rigor que o bispo desejava. Para além das diferentes perspectivas que ambos teriam em relação à prostituição, não seria fácil para o governador actuar num campo que ia atingir os interesses dos mercadores estrangeiros, de cuja aliança necessitava para as suas operações mercantis. De qualquer forma, o bispo ter-se-ia excedido nas suas exigências, como se deduz de uma carta expedida de Lisboa a lembrar-lhe que não era pelo recurso à força que cumpria a sua missão pastoral. Aliás, de Lisboa, Sousa e Faro também não recebeu elogios. Martinho de Melo e Castro, ao tomar conhecimento da sua actuação no decurso do processo que em 1791 levou à execução de um filipino acusado do homicídio de três chineses, ordenou ao governador da Índia que o demitisse imediatamente do cargo. A exaltação do Secretário de Estado provinha do facto de o governador não se ter prevenido contra eventuais distúrbios que podiam eclodir durante a execução da sentença, que teve lugar em frente da Igreja de S. Domingos. Tanto o relatório do bispo como o dos vereadores frisavam que Sousa e Faro não se tinha preocupado em preparar a guarnição para intervir prontamente no caso de se verificarem desacatos. Esta incúria tinha permitido que os vereadores que assistiam à execução tivessem sido agredidos e que algumas casas e igrejas tivessem sido danificadas. Martinho de Melo e Castro, que com a Instrução de 1783 tinha decretado o aumento das forças militares para prevenir estas ocorrências, sentiu-se desapontado com a actuação de Sousa e Faro, considerando-o incompetente para o exercício do cargo de governador. De qualquer forma, não foi por efeito desta ordem que Sousa e Faro deixou a capitania macaense, porque quando a missiva de Melo e Castro chegou a Goa, já José Manuel Pinto (1793-1797) se encontrava na posse do governo de Macau. Não foi, contudo, de boa vontade que Sousa e Faro regressou a Goa no início do ano seguinte. Ciente de que não podia contar com o apoio dos macaenses para continuar em funções, e tendo-se incompatibilizado com o bispo, Sousa e Faro recorreu aos chineses para que escrevessem à Rainha D. Maria I a pedir-lhe que o mantivesse no governo de Macau. A carta foi recebida em Lisboa, mas a sua substituição já estava consumada e também não lhe serviu para regressar à Cidade do Nome de Deus, onde, apesar dos desaires, pretendia continuar como governador. [A.V.] Bibliografia: GUIMARÃES, Ângela, Uma Relação Especial: Macau e as Relações Luso-chinesas (1780-1814), (Lisboa,1996); JESUS, C. A. Montalto de, Macau Histórico, (Macau, 1990); SALDANHA, António Vasconcelos de; ALVES, Jorge Manuel dos Santos, Os Governadores e Capitães Gerais de Macau,(no prelo); TEIXEIRA, Padre Manuel, Macau no Século XVIII, (Macau, 1984); VALE, A. M. Martins do, Os Portugueses em Macau (1750-1800), (Macau, 1997).

1691

CASAL, D. JOÃO DO (?-?). Nasceu em Castelo de Vide, província do Alentejo, por volta de 1641. Doutorou-se em Teologia pela Universidade de Évora. Tinha 49 anos, quando, em 1690, foi nomeado bispo de Macau. Sagrado em Lisboa pelo cardeal Alencastre, que foi assistido pelo arcebispo de Goa, D. Frei Agostinho da Anunciação, embarcou para Goa a 25 de Março de 1691. Chegou a Goa a 18 de Setembro desse mesmo ano e a Macau a 16 de Julho de 1692, sendo o primeiro bispo a governar a diocese desde a morte de D. Diogo Correia Valente, em 1633. Esta prolongada vacância tem-se atribuído ao não reconhecimento da Restauração da Independência de Portugal por parte da Santa Sé, que impediu o restabelecimento das relações diplomáticas com a cúria romana até 1668. Este facto teve a sua influência, mas não explica por si mesmo que só em 1690 se tivesse nomeado um bispo para Macau. Na verdade, esta prolongada dilação foi mais determinada pela Sagrada Congregação de Propaganda Fide, que pretendia confinar o direito de padroado aos territórios politicamente dominados pelo padroeiro, que pela questão do reconhecimento da Independência de Portugal. A nova definição do direito de padroado levantava problemas nas dioceses de Cochim, Cranganor, S. Tomé de Meliapor e Malaca, onde a coroa portuguesa não exercia qualquer domínio político, e ainda em Macau, por este bispado incluir na sua jurisdição toda a China e Indochina, cujos territórios, segundo o princípio dos propagandistas, teriam de ser desintegrados do Padroado Português. A situação das primeiras dioceses ficou resolvida em 1689 com a nomeação dos respectivos bispos, mas o provimento das sés de Macau e de Malaca levantava ainda outros problemas relacionados com a instituição de vicariatos apostólicos, em 1657, no Tonquim, na Cochinchina e na China, e, em 1668, no Sião. O estabelecimento da nova jurisdição eclesiástica não foi reconhecido pela corte portuguesa, mas isso não obstava a que a Santa Sé mantivesse os vigários apostólicos designados antes do reatamento das relações diplomáticas com Portugal. Acresce ainda que o Sumo Pontífice tinha aprovado o estabelecimento dos vicariatos apostólicos sem ter abolido formalmente o Padroado, pelo que passou a funcionar nesses territórios uma dupla jurisdição, que esteve na origem de graves conflitos e de acesas polémicas entre os missionários adstritos ao Padroado e os enviados directamente pela Propaganda Fide. A ascensão do cardeal Pedro Ottoboni ao sólio pontifício em 1689, com o nome de Alexandre VIII, permitiu dar um primeiro passo para que se ultrapassasse o impasse existente entre o Padroado e a Propaganda. A pedido de D. Pedro II, o padre António Rego, assistente em Roma da província portuguesa da Companhia de Jesus, solicitou ao novo pontífice a nomeação de um bispo para Macau e a criação de mais duas dioceses na China. Alexandre VIII tinha estado ligado à Propaganda Fide e pertencido à comissão cardinalícia que tratava dos negócios da China, estando, por isso, bem inteirado das questões que existiam em relação ao Padroado Português. Foi, pois, com grande surpresa que os propagandistas tomaram conhecimento de que o novo Pontífice estava na disposição de criar as duas dioceses solicitadas pelo rei de Portugal para a China. Os cardeais aceitaram a nomeação de um bispo para Macau, desde que fossem claramente definidos os limites territoriais do bispado, e opuseram-se terminantemente à criação dos dois novos bispados, por a sua erecção colidir com os vicariatos apostólicos já em funcionamento no Império do Meio. Alexandre VIII recusou o parecer da Propaganda e aprovou a proposta do rei de Portugal. Esta deliberação, totalmente contrária ao que vinha sendo defendido pela cúria romana desde a criação da Sagrada Congregação da Propaganda, em 1622, tem levantado alguma perplexidade, levando os autores que se têm debruçado sobre esta matéria a sugerir que se tivesse tratado de uma decisão tomada sem a devida ponderação ou sob a influência de factores mais ou menos obscuros. Cremos, porém, que a explicação desta determinação pontifícia se deva buscar, por um lado, nas dissensões introduzidas na China com a entrada dos vigários apostólicos em 1684 e com a chegada dos Jesuítas franceses em 1687 e, por outro, no quadro das tensas relações existentes entre Luís XIV e a corte pontíficia, onde a figura do padre de la Chaize, Jesuíta e confessor do rei, assumiu uma grande importância. Com esta decisão a favor de Portugal, o Papa apenas terá pretendido travar o processo que estava a levar à hegemonia da França nas missões do Sião, da China e da Indochina, evitando o reforço do ‘galicanismo’ que atingia o seu apogeu na França. Foi, portanto, neste quadro que D. João do Casal foi escolhido para bispo de Macau, onde, após a sua chegada em 1692, teve de enfrentar os problemas decorrentes do falecimento de D. Gregório Lopes e da indecisão de D. Frei Bernardino della Chiesa, que esperava por instruções mais concludentes, dado que, com a criação das dioceses, não tinham sido formalmente abolidos os vicariatos apostólicos na China. Além disso, por qualquer razão até hoje não esclarecida, nos documentos portugueses da época, D. Gregório Lopes apareceu designado para a diocese de Pequim, enquanto que D. Frei Bernardino della Chiesa vinha indicado para a de Nanquim. Este equívoco, que os adversários do Padroado sustentam ter sido intencional, motivou situações contraditórias antes de se ter definido a situação, o que só aconteceu com a apresentação de D. Alexandre Cícero para a diocese de Nanquim. Nessa mesma altura, D. Pedro II propôs à Santa Sé que D. Frei Bernardino della Chiesa passasse para Malaca, sendo substituído em Pequim pelo Jesuíta padre Filipe Grimaldi. A oposição da Santa Sé à transferência de Mons. della Chiesa levou a corte portuguesa a propor que o bispado de Macau fosse elevado à categoria de arquidiocese, passando a ter as outras duas dioceses chinesas como sufragâneas. Esta proposta foi igualmente rejeitada, pelo que, após diligências feitas pelo padre Quémener das Missões Estrangeiras de Paris, que tinha sido enviado a Roma como representante dos missionários dependentes da Propaganda Fide, a Santa Sé decidiu que a diocese de Macau ficava com jurisdição sobre as províncias de Guangdong e de Guangxi, ficando o resto do território chinês dividido entre as duas dioceses de Nanquim e de Pequim e os nove vicariatos apostólicos entretanto criados. Ultrapassados estes problemas, D. João do Casal continuou a enfrentar os que decorriam da resistência do Senado de Macau em cumprir a ordem régia que o incumbia de proceder ao pagamento da côngrua episcopal. Esta situação foi em diversas ocasiões objecto de estudo no Conselho Ultramarino, mas nenhuma das decisões viria a ser executada, de modo que só cerca de 1720 se ultrapassou o impasse, assumindo o Senado de Macau a obrigação de satisfazer a côngrua do respectivo bispo. Outra situação altamente problemática vivida por D. João do Casal foi a que decorreu da presença do Patriarca de Antioquia, D. Carlo Tommaso Maillard de Tournon, enviado como Legado a latere à China e que permaneceu em Macau desde 30 de Junho de 1707 até à sua morte a 8 de Julho de 1710. Enviado para ajudar a ultrapassar as graves dissensões que havia entre os missionários na China, o Legado Apostólico acabou por agravar todas as questões devido à sua inflexibilidade e precipitação no que concernia à controvérsia dos ritos chineses. O bispo de Macau não se tinha manifestado claramente nem a favor nem contra a incompatibilidade dos ritos chineses com a doutrina católica, mas a promulgação do decreto do Patriarca de Antioquia, em Nanquim (Nanjing 南京) a 7 de Fevereiro de 1707, obrigou-o a tomar partido pelos missionários que se opunham à aplicação das imposições do Legado Apostólico. Este, no seu diploma, definia as respostas que os missionários deviam dar ao Imperador, quando fossem chamados para receber a autorização para continuarem na China a sua actividade missionária. Na prática, as novas orientações eram contrárias à posição defendida pela maioria dos Jesuítas e conformes com o decreto pontifício de 20 de Novembro de 1704 que condenava os ritos chineses. D. João do Casal opôs-se à execução das deliberações do Legado Apostólico, apresentando um agravo e uma apelação ao Papa. Com este expediente, o bispo desobrigava os missionários da sua diocese de obedecerem às determinações do Patriarca de Antioquia, mas contrariava a sua anterior declaração de que reconhecia e obedecia a Mons. de Tournon como representante pontifício. Com efeito, em 1705, quando o Legado ia a caminho de Pequim, o bispo de Macau tinha-se deslocado com o governador José da Gama Machado à Ilha Verde, a fim de lhe apresentar cumprimentos. O prelado romano tinha chegado ao largo de Macau a 2 de Abril de 1705, e como viesse com o propósito de não entrar nos domínios portugueses, apenas se deslocou à Ilha Verde, propriedade dos Jesuítas, onde pernoitou de 4 para 5 de Abril. Na manhã desse mesmo dia dirigiu-se para Cantão, e foi desde esta cidade que o Legado Apostólico exigiu ao bispo de Macau que publicasse o Breve Pontifício, que lhe tinha entregue no apressado encontro que tinham tido na Ilha Verde. O prelado macaense, que tinha recebido ordens do vice-rei da Goa para receber condignamente o representante pontifício, acedeu às suas imposições, publicando o breve em que declarava reconhecer Mons. de Tournon como Legado Apostólico. Entretanto informou as instâncias de Goa e pediu instruções mais rigorosas sobre esta matéria. O Arcebispo Primaz e o vice-rei responderam proibindo o reconhecimento da jurisdição do Legado Apostólico e a obrigatoriedade de o impedirem de exercer qualquer autoridade em territórios adstritos ao Padroado. Estas novas imposições estiveram na origem dos graves conflitos e contendas que ocorreram em Macau entre 1707 e 1710. O Patriarca de Antioquia insistia na sua pretensão de exercer a sua jurisdição em Macau e o bispo, com o apoio do governador Diogo de Pinho Teixeira, opôs-se por todos os meios a que o prelado romano conseguisse concretizar o seu intento. Neste preciso contexto se devem integrar as excomunhões que mutuamente decretaram e que só foram levantadas quando o novo Legado Apostólico, D. Carlo Ambrogio Mezzabarba, passou por Macau em 1719. Dividido entre a necessidade de obedecer às orientações pontíficias e a fidelidade ao rei de Portugal, D. João do Casal foi criticado pelo cardeal de Tournon por se ter deixado dominar pelos Jesuítas e censurado pelo governador de Macau e pelo vice-rei da Índia por não se empenhar decididamente na defesa dos direitos e regalias do monarca português. O bispo manifestou, de facto, algumas hesitações e parece ter agido mais por pressão dos Jesuítas e do governador de Macau do que por convicção. Era certamente um convicto defensor do Padroado, mas, tal como os seus sucessores no século XVIII, não manifestou um grande empenho em cuidar directamente as duas províncias chinesas que integravam a diocese. O rei recomendava, no início de setecentos, a visita do bispo àquelas cristandades, mas os detractores do Padroado continuaram a criticar o facto de o prelado macaense entregar o governo dessas importantes parcelas do bispado, situa¬das além das Portas do Cerco, a um vigário forâneo. Para além do múnus episcopal, D. João do Casal interveio intensamente na vida da cidade desde que chegou a Macau. No final de seiscentos, alertava para a carência de moradores e para os desmandos de alguns gover-nadores. Nos muitos anos que permaneceu em Macau, testemunhou períodos de violentas contendas entre os governadores e o Senado, destacando-se neste capítulo os episódios que envolveram Diogo de Pinho Teixeira, no final do seu mandato, e o seu sucessor Francisco de Melo e Castro. Mais tarde, testemunhou os excessos de D. Cristóvão Severim Manuel, considerando que, dos muitos governadores que tinham passado por Macau, nenhum tinha sido tão desrespeitador das ordens régias como este. Nos últimos anos assistiu aos conflitos que eclodiram entre o governador António Moniz Barreto e o ouvidor António Moreira de Sousa. Nos últimos meses de vida exerceu interinamente o cargo de governador, na sequência do extemporâneo regresso de António Amaral de Meneses a Goa. Tomou posse em Janeiro de 1734 e entregou o governo a Cosme Damião Pereira Pinto em Agosto de 1735. Este foi, certamente, o seu último acto público, porque em Setembro desse mesmo ano viria a falecer com 94 anos de idade, 44 de episcopado e 42 de vividos em Macau. Bibliografia: GUENNOU, Jean, Missions Étrangères de Paris, (Paris, 1986) ; METZELER, J. (dir.), Sacra Congregationis Propaganda Fide Memoriae Rerum 1622-1972, vol. I, 2 tms., (Roma, 1972-1973); MENSAERT, Georges, L’établissement de la Hierarchie Catholique en Chine de 1684 a 1721, (Florença, 1953) ; REGO, António da Silva, O Padroado Português do Oriente. Esboço Histórico, (Lisboa, 1940); TEIXEIRA, Manuel, Macau e a sua Diocese, vol. II, (Macau, 1940); TEIXEIRA, Padre Manuel, Macau e a sua Diocese, vol. XIII, (Macau, 1977).

1710

No dia 16 de Julho de 1710, Gaspar Francisco da Silva, que fora a Lisboa, em 1708, como delegado do Senado, regressou na fragata Nossa Senhora da Visitação, tendo conseguido a confirmação dos privilégios da cidade.

1789

No dia 16 de Julho de 1789, foi em casa do seu Marechal de Campo, Simão de Araújo Rosa, que faleceu o Governador Francisco Xavier de Mendonça Corte Real pelo que se tornou necessário fazer “vistoria ao cadáver”. “E sendo presentes os oficiais de infantaria, logo o juiz chegou ao pe do cadáver sobre a cama, o chamou pelo seu nome três vezes, e como não lhe respondesse, sinal ja de falecido, ordenou ao cirurgião que, debaixo do juramento que lhe diferiu o dito juiz, fizesse exame no dito cadáver e dissesse de que o dito senhor veio a falecer, e logo o dito cirurgião foi satisfeito, e disse que morreu de uma desinteria, que padecia ha muito tempo, acompanhada de uma caquexia e não de outra moléstia alguma, nem de veneno”.

1810

No dia 16 de Julho de 1810, apareceu de manhã o navio Sarzedas da Cochinchina, e de tarde o Comboio inglês de Bombaim onde vinham os navios de Bengala Luze , e o de Goa, Activo, e um brigue de guerra.

1838

No dia 14 de Julho de 1838, D.Maria II manda organizar um Museu no Seminário de S. José e uma livraria na cidade, mas tais benefícios não se chegaram a concretizar. (Cfr. esta Cronologia…, 1873, Dezembro,27 e 1895, Novembro, 29). No dia 16 do corrente mês, por Portaria Régia foi recomendada a criação de um Jardim Botânico em Macau, destinado principalmente à cultura das plantas medicinais de que usam os chineses e à fundação de uma biblioteca, composta principalmente de livros e mapas chineses, japoneses ou escritos em outras línguas orientais.

1838

A primeira referência da existência de um museu em Macau é de Andrew Ljungstedt (1836), que diz ter sido fundada uma instituição, em 1829, por amadores de História Natural ingleses que reuniram diferentes produtos da natureza. Mas este museu não se manteve muito tempo, devido à dissolução da feitoria inglesa em Cantão, que levou ao abandono de Macau dos seus fundadores. A 16 de Julho de 1838, por ordem régia, de D. Maria II, institui-se a formação “de um museu que houvesse de comprehender os mais raros productos orientaes”. No ano seguinte, a rainha convida os “habitantes para contribuírem com livros e mapas chineses e japoneses, para se estabelecer uma livraria e museu no Colégio de S. José”, ideias que não vingam devido a dificuldades de instalação. Em 1871, o governo de Macau revelava a intenção de construir um museu e jardim botânico, também sem efeitos práticos. Só em 1883 surgiu um Museu Municipal, que resultou do pedido de Portugal de produtos e objectos para o Museu da Universidade de Coimbra e Museu Colonial, por parte do Dr. Júlio Augusto Henrique, Director do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra (que em 1878 escrevera uma carta solicitando o material). Pedido que foi satisfeito em 1880 e, que antes de seguir para o reino foi exibido nas salas do Leal Senado. Aquando da inauguração do primeiro evento deste género em Macau, a 2 de Maio, o advogado António Joaquim Basto propôs a criação de um Museu Municipal. Em 1882, segue outra remessa, maioritariamente com produtos de Timor. Na inauguração desta segunda exposição o Dr. José Alberto Homem da Cunha Corte Real, Secretário Geral do Governador de Macau e Timor, proferiu um discurso no qual salientava que “a comissão desde o principio de seus trabalhos pensou na utilidade de organizar um museu local em Macau”, e com permissão do Governador, “deixou um exemplar de todos os produtos (…), constituindo assim um nucleo para servir de principio a este util estabelecimento”. O museu existiu, mas não deve ter cativado muitos adeptos, pois o jornal O Independente (1883) comenta a existência em Macau “sobre um humido e escuro quarto o letreiro – Museu Municipal- le! treiro que pode satisfazer as aspirações do presidente da camara, mas que não satisfaz certamente a dos filhos de Macau”. O museu não tinha sucesso, pois o estímulo e empenho das personalidades locais estavam concentrados para satisfazer os pedidos de aquisições de produtos e objectos para os museus da Metrópole, e na organização das primeiras participações de Macau nas grandes exposições internacionais, como a Exposição em Londres (1862), Porto (1865), Paris (1867), Filadélfia (1877), Exposição de Arte Ornamental Hespanhola e Portuguesa em Lisboa (1881), Exposição Colonial do Palácio de Cristal do Porto (1894) e a Exposição Universal de Paris (1900). O não cumprimento da Portaria Provincial, de 16 de Julho de 1906, votou ao fracasso mais uma pretensão de se constituir um museu, com os objectos do “núcleo de museu” instalado no Hospital Militar de S. Januário, juntamente com outras peças que existissem em Macau. O Governador Eduardo Marques, em Junho de 1910, revela ao Governador de Timor, Alfredo Cardoso Soveral Martins, a “melhor vontade de organizar um museu de exemplares e produtos de Timor, de modo a facultar o conhecimento dos recursos e condições da província […]às pessoas que visitarem esta cidade, e satisfazer a avidez de informações com que comerciantes, capitalistas e aventureiros por vezes acorrem a Macau”. Vontade que se concretizou através da portaria n°231, de 4 de Novembro, que criou um Museu e, cujos objectivos eram: reunir, preservar, estudar e mostrar “todos os elementos de valor histórico, relativos ao estabelecimento dos portugueses em Macau e a sua acção no Extremo-Oriente” e, criar um mostruário de produtos de Timor. Determina-se assim, a formação de “um museu histórico, ethnographico, physiographico, commercial e industrial, sob a designação “Museu Luiz de Camões”, com a “incumbência de velar pela guarda e conservação dos monumentos” e, qu! e ficaria instalado no edifício do Jardim da Gruta de Camões. Nomeou-se uma comissão directora, com duas categorias de vogais: natos (6 representantes de instituições de Macau) e os nomeados (Camilo d’Almeida Pessanha, Dr. Lourenço Pereira Marques, Capitão Eduardo Cirilo Lourenço, Carlos da Rocha Assunção). Mas, como era impossível reunirem-se todos gorou-se o museu. Daí que, a 12 de Outubro de 1911, o governador interino Álvaro de Melo Machado, exonera a comissão substituindo-a por uma composta apenas por três vogais: Capitão Ribas da Silva, José Vicente Jorge, Manuel Ignácio Resende (todos colec-cionadores de arte chinesa). Mas nada se sabe desta comissão, apenas que elegeram entre si para Presidente Manuel Ignacio de Rezende. Em 1914, o jornal O Progresso publica um artigo intitulado “Um Museu em Macau”, enumerando as dificuldades da instituição: localização complicada para um estrangeiro que não conheça a cidade, dizendo ser apenas um salão de estruturas velhas com trapos, bocados de madeira e produtos de Timor. E, que o governo devia reunir pinturas e gravuras antigas de Macau para exibir no Museu, e não tão pobre mostruário só de peças não artísticas de Timor. Sem desenvolvimento e apoios, a comissão do Museu opta pela sua extinção a 2 de Junho de 1919 e, ceder os seus artigos para o futuro museu marítimo. Em 1920, surge a associação “Instituto de Macau”, que queria promover a conservação do património de Macau e criar um museu. Mas também as suas boas intenções se goraram, fizeram algumas conferências, mas depois cessaram as actividades. Só em 1926, sob o impulso da organização da Exposição Industrial e Feira da Macau, se consegue reunir material suficiente e pessoas motivadas para a criação de um museu. A 5 de Novembro de 1926, é publicada a portaria n°221 pelo Governador Hugo Carvalho de Lacerda Castelo Branco, em que considera indispensável um mostruário para fins comerciais de produtos de Portugal e suas colónias, nomeadamente de Timor, sendo a exposição industrial uma ampliação deste mostruário. Recomenda que o Museu agregue uma colecção de exemplares da fauna e flora da região, que a Comissão de Pescarias estava a organizar. Com o Palacete da Flora devoluto resolvia-se a dificuldade das instalações, e agora, sob o nome de Museu Comercial e Etnográfico “Luiz de Camões”, o espólio iria constituir-se com os artigos da Exposição Industrial, os dispensados pelas repartições e, completando-se à medida das possibilidades com artigos doados e emprestados. Dependente da entidade administrativa do Porto, tinha essencialmente um carácter comercial e industrial, devendo ser administrado por um funcionário da administração do Porto. E mais, determinava-se que o Jardim da Flora se tornaria num jardim botânico da colónia. O Governador nomeia para a Direcção do Museu como Director principal o engenheiro João Carlos Alves, para Director da secção do mostruário o missionário Manuel José Pita e, para Director da secção do museu o professor do Liceu Central, Dr. Telo de Azevedo Gomes. Esta direcção de três pessoas foi de facto mais diligente, escreveram cartas a várias entidades, empresas de Macau, das colónias e Portugal pedindo colaboração no envio de mostruários e, apresentando as vantagens promocionais e comerciais ao facultarem os seus produtos para serem expostos no Museu. Em 1927, enviaram uma colecção de produtos para o Japão, organizam um “Concurso Fotográfico e Expo-sição de Arte”. Entre 1927-1930 conseguiram reunir muitos objectos e produtos, sobretudo comerciais. Iniciaram também o Projecto da Biblioteca a instalar em algumas salas do andar nobre do edifício do Leal Senado. Redigiram ainda o “Regulamento dos Serviços do Museu Comercial e Etnográfico “Luís de Camões” (1927), que definia como objectivos: estudar a acção e influência portuguesa no Oriente; organizar mostruários de arte, comércio, indústria, história, biologia marítima; organizar uma biblioteca pública; fomentar a defesa da indústria e comércio de Macau; proporcionar o estudo da arte, história, comércio e suas relações com as regiões limítrofes e colónias do Oriente. O museu desenvolveria as seguintes secções: Biblioteca, Etnografia-Histórica, Biologia Marítima e Comercial e, as que as circunstâncias recomendem. A Direcção era composta por três directores nomeados pelo Governador, que elegiam entre si o presidente, competindo-lhes: gerir os fundos e o desenvolvimento da instituição, promover a organização de mostruários permanentes nas principais cidades do Extremo- Oriente, Portugal e Colónias Portuguesas e, reunir uma vez por mês. Em Dezembro de 1928, o Cónego António Maria de Morais Sarmento foi nomeado Director do Museu, cargo que manteve até aos anos 50. Entretanto o Palacete da Flora teve de ser desocupado, e a Secção Comercial foi transferida para o rés-do-chão da Santa Casa da Misericórdia, e a secção de Arte Sacra, Etnográfica e Artística para o primeiro andar do Leal Senado, reabrindo ao público em Junho de 1929. O Inspector dos Serviços Económicos, Pedro José Lobo, apresenta em 1931, uma Proposta de Organização dos Serviços de Turismo com um projecto para um Diploma Legislativo: criando uma Agência de Turismo que entre outras coisas iria “Organizar um Museu- Biblioteca, aproveitando os livros e artigos existentes no actual Museu, que ficaria anexado aos serviços de turismo”. Mas após os protestos da Direcção do Museu, que não foi consultada, o Governador decide a 16 de Julho de 1931, através da portaria n°691, que o Museu e Biblioteca passariam para a tutela da Inspecção de Instrução Pública. Em 1932 é anunciada a venda da valiosa colecção de Manuel da Silva Mendes, e logo se vislumbra uma oportunidade única para enriquecer o Museu com uma valiosa e rara variedade de peças de arte chinesa: pintura, bronzes, cerâmica, porcelana chinesa, destacando-se as cerâmicas de Shec Wan (Shiwan 石灣), e pintura do século XIX designada por China Trade. A Direcção do Museu pede ao Governador para que seja nomeada uma comissão, para estudar a possibilidade de compra das peças de arte e alguns livros sobre arte chinesa que muito conviria à Biblioteca. Mas não havia dinheiro, então a comissão dirigiu-se ao Inspector dos Serviços Económicos, e insistiu para que se fizesse uma subscrição entre os capitalistas chineses, que juntamente com alguma verba dos Serviços Económicos e do Museu foi suficiente para comprar a colecção. Mas, em Julho de 1933, surge uma nova contrariedade, a Santa Casa da Misericórdia pede que seja removida a Secção Comercial do seu edifício, pois necessita do espaço. Pensa-se então em transferir os mostruários para a Inspecção dos Serviços Económicos, mas o edifício não tem condições, e decide-se encaixotar e arrecadar provisoriamente todo o material na Fábrica do Ópio. Só que esta medida de provisória passou a definitiva e o material acabou por estragar-se, e assim a Secção Comercial desapareceu. Este encerramento dos mostruá-rios dos produtos naturais e industriais, na mesma altura em que se fizera a aquisição da colecção de peças de arte da colecção Silva Mendes contribuiu para a alteração do conteúdo museológico, agora mais etnográfico e artístico, e com um elevado número de peças em exibição. Dá-se uma alteração dos objectos expostos e consequentemente de objectivos, em relação ao que fora definido sete anos antes, aquando da fundação do museu em 1926. Nos anos seguintes instala-se uma crise económica que não permitiu o desenvolvimento do Museu, e o projecto de um edifício próprio ou alternativo foi sendo adiado. Em 1936, já sem rumo, o museu volta a ser transferido para outro serviço. Em virtude da Carta Orgânica do Império Colonial Português, o Ministério das Colónias decreta, a 18 de Abril, que o Museu e a Biblioteca Pública (apresentados como entidades separadas) ficam sob a tutela da Repartição Central dos Serviços da Administração Civil. E neste mesmo ano, o edifício do Leal Senado necessita de obras urgentes, tendo a Secção Etnográfica e Artística do Museu de ser removida mais uma vez. Opta-se pelo edifício de Santa Sancha, onde ficam amontoadas em condições precárias as cerca de 1.400 peças, inaugurando-se estas novas instalações a 12 de Dezembro. Em Abril de 1937, várias peças estavam já muito danificadas, pelo que no mês seguinte o Governador determinou a remoção imediata dos objectos para três compartimentos do edifício da Imprensa Nacional (Casa junto ao Jardim Camões, também chamada Casa Garden, onde ficou instalado o primeiro museu entre 1910-1919), e onde ficou o museu até ao seu encerramento definitivo. A partir daí, foi apenas uma “arrecadação”, com um director, o Cónego António Morais Sarmento, e um guarda, situação que permaneceu até finais dos anos 50. Todas as atenções e fundos estavam voltadas para a Biblioteca, esqueceram-se do Museu! O jornal União, em Maio de 1944, dá-nos conta de que “encafuado numas lôbregas salas do velho casarão da Imprensa Nacional há também um museu público ou coisa que o quer ser. O lugar é impróprio e a disposição é má. Está tudo ao trouxe mouxe”. Só em 1952, surge um novo interesse na sua reabertura, por parte do Governador Joaquim Marques Esparteiro, que pede aos Serviços da Fazenda e Contabilidade uma resenha da legislação que regula o “Museu Comercial e Etnográfico Luís de Camões”. E em 1954, perante a desocupação total do edifício onde ficava a Imprensa Nacional, decide tomar providências para aí instalar o Arquivo Geral da Província, assim como todo o recheio do Museu. Nomeia uma comissão que deverá apresentar com urgência a indicação dos trabalhos a realizar e custos. Destacou o Chefe da Repartição Provincial dos Serviços de Administração Civil, o Intendente Administrativo José Peile da Costa Pereira, o Chefe da Repartição das Obras Públicas Engenheiro José dos Santos Baptista, e o Professor do Liceu Nacional Luís Gonzaga Gomes para tratar da restauração do edifício e arrumar os objectos do museu. As obras de madeiras foram custeadas pela Comissão do Centenário do Estabelecimento de Macau, que incluiria no seu programa de festejos a sua reabertura, o que não chegou a acontecer. Luís Gonzaga Gomes elabora um relatório com a lista de objectos existentes no Museu para o estudo da adaptação das salas, sendo três delas, as do fundo, “onde actualmente se encontra alojado o recheio do Museu, para o Arquivo”, e as outras seis salas para as exposições. Planeava-se para Janeiro de 1956 a reabertura das remodeladas instalações, sob a nova designação de “Museu Luís de Camões”, mas com o regresso do governador a Portugal o projecto voltou a desvanecer. A 4 de Outubro de 1958, um Diploma Legislativo define que o museu e seu recheio são transferidos, a partir de 1 Janeiro de 1959, para o Leal Senado, assim como as suas despesas. Foi sob esta nova tutela que em 1960 voltou a abrir o museu. O Presidente do Leal Senado, Pedro José Lobo, (conhecido amante das artes, que já em 1945 tinha doado ao Museu sessenta aguarelas de Macau de George Smirnoff ) solicita obras urgentes para reparar o edifício, a inaugurar a 25 de Setembro de 1960, para as Comemorações Henriquinas. Nomeou-se para conservador Luís Gonzaga Gomes, que realizou nova selecção, classificação, distribuição e arrumação. O Anuário de Macau de 1965, menciona a existência de sete salas, uma Secção Sacra e uma Secção de Pintura, onde se exibiam as peças da colecção Silva Mendes e alguns quadros e imagens das Igrejas e Conventos de Macau. O museu permaneceu estático, sem reformulações até ao falecimento do conservador macaense em 1976, e com continuidade até 1978, os dois anos em que o Museu foi dirigido por Lino Silveira Amaral, conservador-adjunto. Foi com António Conceição Júnior, nomeado conservador em 1978, que o museu iniciou uma nova “vida”, através da fomentação de intercâmbios com outras instituições, que permitiram trazer até Macau várias exposições do exterior. Na mesma altura, o Leal Senado começa a valorizar e promover a Arte e História de Macau, com aquisições de pintura do período China Trade de cenários de Macau, sobretudo de George Chinnery e Auguste Borget para enriquecer o espólio do museu. Outro factor importante foi a visita de José Azeredo Perdigão, presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa), a convite do Governo de Macau e Leal Senado, para estabelecer um intercâmbio cultural com o Museu e preparar a Quinzena de Macau (que foi celebrada com uma exposição da colecção do museu na Fundação). Sob este impulso, e algum apoio financeiro da Fundação, iniciam-se, em Fevereiro de 1979, as obras no edifício do museu. A reabertura, a 19 de Novembro de 1980, dá-se com novos moldes museológicos e, com uma equipa de funcionários para o planeamento e organização das muitas exposições. Passados oito anos, já o edifício pedia novamente obras de restauro, e o Governador Carlos Montez Melancia decide então vender o imóvel à Fundação Oriente. Em alternativa, cria em 1988 um “Gabinete para o Complexo Cultural de Macau com o objectivo de projectar e construir um novo museu [para recuperação do “Museu Luís de Camões”] a que será associado um centro de artes visuais”, sendo o seu presidente o conservador do museu. A reabertura era aguardada para cerca de três anos num local diferente. Entretanto o espólio foi armazenado, e os funcionários foram transferidos para o edifício Nam Kwong (Nanguang 南光), onde continuaram a planear as exposições, utilizando a Galeria de Exposições Temporárias do Leal Senado. O projecto inicial do Complexo Cultural elaborado pela comissão previa um aterro a construir-se em frente ao Hotel Presidente, e incluía um Museu de Arte Chinesa, duas galerias de exposições, um Centro de Arte, um espaço para actuações e um hotel de cinco estrelas especializado em turismo cultural e convenções. Em Maio de 1989, o relatório da Comissão estava concluído. Mas, o projecto arrastou-se e acabou por não ter seguimento com o Governador Vasco Rocha Vieira, que optou pela elaboração de um outro projecto: O Centro Cultural de Macau, englobando dois edifícios, um destinado aos espectáculos, e outro para o Museu de Arte de Macau. Este novo Museu, também sob a tutela do Leal Senado, herdou todo o espólio do Museu Luís de Camões (encaixotado desde 1988). E, assim, se fez a transição do antigo museu para o moderno edifício, ganhando uma nova dinâmica e projecção, mas ainda assim constituindo cerca de 70% do espólio do Museu de Arte de Macau. [M.I.V.] Bibliografia: Arquivo Histórico de Macau; Boletim da Província de Macau e Timor 1871-1886; Boletim Oficial do Governo da Província de Macau e Timor 1887-1927; Boletim Oficial da Colónia de Macau 1928-1950; Boletim Oficial de Macau 1951-1988; GOMES, Luís Gonzaga, Museu Luís de Camões, (Macau, 1973); NUNES, Isabel, “Museu Luís de Camões. A sua Criação”, in Revista de Cultura, n.° 16, (Macau, Outubro- Dezembro de 1991), pp. 187-195; SILVA, Beatriz Basto da, Cronologia da História de Macau, vols. 3-5, (Macau, 1995- 1998); Periódicos de Macau, 1880-1999: O Independente, O Macaense, O Progresso, A Pátria, A Verdade, União, A Voz de Macau, Notícias de Macau, O Clarim, Jornal de Macau, Gazeta Macaense, Diário de Macau, Macao Travel Talk, Tribuna de Macau, Macau Hoje, Hoje Macau.

1924

O B.O. n.° 28 nomeia o Coronel Joaquim Augusto dos Santos para, interinamente, substituir o Governador Rodrigo José Rodrigues, enquanto ausente. O nomeado entra em funções no dia 16 de Julho de 1924.

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