José Inácio de Andrade nasceu no dia 2 de Novembro de 1780 em Santa Maria, Açores. Faleceu em Lisboa no primeiro dia do ano de 1863. Em Lisboa dedicou-se à vida política activa, tendo sido eleito vereador da Câmara Municipal de Lisboa em 1837. No biénio 1838-1839, Inácio de Andrade ocupou a Presidência da Câmara da capital portuguesa. Posteriormente veio a assumir o cargo de Director do Banco de Portugal. José Inácio de Andrade foi um homem do seu tempo, marcado cultural e ideologicamente por uma visão do mundo humanista e individualista, caracterizadora do pensamento liberal. Erudito e dedicado às letras, Inácio de Andrade escreveu em 1835 dois textos que foram publicados em Lisboa: Memória sobre a Destruição dos Piratas da China e o Desembarque dos Ingleses na Cidade de Macau e sua Retirada e Biografia de Rodrigo Ferreira da Costa. A sua ligação ao Oriente teve início nos primeiros anos de Oitocentos com um conjunto de viagens a Macau e à Índia como capitão de navios. Casou duas vezes e foi à sua primeira esposa, Maria Gertrudes de Andrade, que dirigiu as cartas que escreveu e que reuniu na obra Cartas Escriptas da India e da China, as quais constituem um conjunto de cem breves reflexões, publicadas pela primeira vez em dois volumes pela Imprensa Nacional, em 1843. Ao longo desta obra, o autor revela um conhecimento alargado sobre a China, adquirido através das suas viagens que o mantêm ligado ao Oriente durante vinte anos. Cem cartas recheadas de descrições e reflexões sobre o que ia observando e estudando, e que Inácio de Andrade dividiu em dois volumes. As cinquenta cartas que compõem o primeiro volume centram-se no início da sua viagem até à Índia, nalguns aspectos da civilização indiana, na viagem até Macau e à China e, finalmente, na milenar história chinesa. No segundo volume, composto pelas restantes cinquenta cartas, o autor lança um olhar sobre os diferentes aspectos que caracterizam a civilização chinesa, aproveitando para reflectir sobre outros temas. Estas reflexões ajudam-nos a compreender a sua linha de pensamento, com particular realce para as suas constantes comparações entre o Ocidente e as características do Império do Meio. As viagens realizadas por José Inácio de Andrade exerceram sobre o autor um natural fascínio, levando-o a enaltecer os aspectos mais positivos que foi encontrando no seu contacto com os povos e os lugares que visitou. Mantendo o quadro de valores civilizacionais e de referência do Ocidente visíveis na forma como aborda alguns temas, nas reflexões que elabora e nos autores que utiliza para criticar ou para servirem de suporte às suas análises (Adam Smith, Helvecio, Montesquieu, Voltaire, Abade Reynal, Hobbes, Fernão Mendes Pinto, Gaspar da Cruz, Jerónimo Osório, Tomé Pires, entre outros), Inácio de Andrade faz um esforço no sentido de valorizar o ‘outro’ face a si próprio. Não podendo deixar de sublinhar a erudição e a riqueza multidisciplinar que as Cartas Escriptas da India e da China ainda hoje nos revelam, importa destacar o modo como este autor coloca o seu racionalismo e os seus sentimentos ao serviço da civilização visitada, acabando por se render ao exotismo esmagador de um Oriente que, naquele tempo, ainda estava em grande parte por descobrir. Não obstante os limites que a obra revela, relativamente ao grau de profundidade e de precisão dos conhecimentos que nos transmite sobre as civilizações orientais, as Cartas constituem um objecto de estudo em si mesmas, pela riqueza do texto, pelos sentimentos que nos transmitem e pelas ideias que veiculam: o respeito e a admiração por outras civilizações, pelo diferente, base fundamental em que se alicerçou a secular presença portuguesa no Extremo Oriente. Bibliografia: DIAS, Alfredo Gomes, “As Cartas de José Ignacio de Andrade”, in Macau, n.° 1, (Macau, 2000), pp.78-88; ANDRADE, José Ignacio de, Cartas Escriptas da India e da China, (Macau, 1998).

Informações relevantes

Data de atualização: 2020/04/16