Henrique Rodrigues de Senna Fernandes nasceu em 15 de Outubro de 1923 em Macau (freguesia da Sé), no seio de uma família tradicional macaense, sendo neto paterno do 2.º Conde de Senna Fernandes. Em 1939, viveu episodicamente em Cantão, onde a família foi surpreendida pela ocupação japonesa e o início da Guerra do Pacífico, acabando por regressar a Macau, onde o jovem Senna Fernandes concluiu os estudos secundários. Estando-se então em 1942, no auge do conflito mundial, só em 1946 o nosso biografado pode partir para Portugal, a fim de prosseguir os seus estudos, licenciando-se em Direito pela Universidade de Coimbra, em 1952. Voltando a Macau dois anos depois, dedicou-se à advocacia, sendo presentemente o Decano dos Advogados de Macau, após ter presidido à Associação local dos Advogados entre 1992 e 1995. Exerceu, na interinidade, as funções de Juiz de Direito, Delegado do Ministério Público e de Director do Centro de Informação e Turismo. Henrique de Senna Fernandes, que antes da sua partida para Portugal fora professor do Ensino Primário Oficial, leccionou depois na Escola Comercial Pedro Nolasco da Silva e na Escola do Magistério Primário, e desempenhou funções de bibliotecário nas Bibliotecas Nacional de Macau e Sir Robert Ho Tung, entre 1968 e 1981. Ligado às principais associações locais, é Irmão da Santa Casa da Misericórdia de Macau; foi Presidente da Direcção do Clube de Macau; do Rotary Clube de Macau; e, entre 1990 e1997, da Assembleia-geral da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM). Presidiu ainda à Comissão Executiva do Grande Prémio de Macau, em 1967 e em 1986. Politicamente conservador, integrou o Conselho Legislativo de Macau antes de 1974, e, depois, a ADIM, Associação para a Defesa dos Interesses de Macau, de que foi sócio-fundador, tendo sido o mandatário local da candidatura de Cavaco e Silva às eleições presidenciais de 1996. Membro dos Conselhos de Educação e de Cultura de Macau, foi, pelos serviços prestados à causa da Educação, agraciado com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique em 1987, possuindo, desde 1978, o grau de Oficial da Ordem da Instrução Pública. Em 1989 foi-lhe atribuída a Medalha de Mérito Cultural pelo Governador de Macau, que, em 1995, o distinguiu com a Medalha de Valor, a mais alta condecoração doTerritório. Em 1998 foi-lhe concedido o Graude Grande Oficial da Ordem de Santiago da Espada. Iniciando-se na escrita ainda nos tempos de estudante, recebeu o Prémio Fialho de Almeida de 1950, nos Jogos Florais da Queima das Fitas da Universidade de Coimbra, com “A-Chan, A Tancareira”, conto que, depois de divulgado localmente na revista Mosaico, em 1956, viria a ser publicado em livro, em 1974, na Colecção “Cadernos Capricórnio”, do Lobito, e mais tarde incluído na colectânea Nam Van. Contos de Macau. A esta se seguirão, em 1986 e 1993, os romances Amor e Dedinhos de Pé–que constituiu um imediato sucesso editorial, e A Trança Feiticeira, ambos traduzidos para chinês, em 1994 e 1996, respectivamente. Do primeiro, resultou o filme homónimo, realizado por Luís Filipe Rocha, comercializado em Portugal nos primeiros dias de 1993. A Trança Feiticeira, por seu turno, despertou a atenção do realizador chinês Choi Unun, dando origem a um filme com o mesmo título, que se estreou em Macau em Junho de 1996, após excelente acolhimento na República Popular da China, onde granjeou dois prémios em festivais de cinema. Este romance foi ainda adaptado e encenado por Rui Brás, que, em 1997, dirigiu a representação do Grupo deTeatro da Escola Comercial Pedro Nolasco da Silva, também levada à cena em Portugal, onde fez uma curta digressão em Julho de 1997, apresentando-se em Lisboa, no teatro “A Barraca”, e em Guimarães. Socorrendo-se da sua própria vivência, das memórias familiares e da comunidade, Henrique de Senna Fernandes retrata – não sem alguma crítica implícita, e acentuando o fosso existente entre os universos chinês e português – os ambientes e pequenos dramas, familiares e sociais, de uma Macau em muito desaparecida. Empenhado em fixar e preservar a memória e as vivências da sua terra, com destaque para os costumes, hábitos e tradições macaenses, novo livro de contos do autor, reunidos sob o título de Mong-Há, surgiu em 1998. Postura semelhante transborda da vasta colaboração que, de forma dispersa, tem semeado pelos jornais e revistas locais, capaz de suscitar o interesse de diversos investigadores, com relevo para David Brookshaw. Orador em inúmeras conferências, palestras e sessões culturais – actividade em que se estreou nos tempos de Faculdade, em Coimbra, com a conferência “Macau a desconhecida”, em 1953, mais tarde publicada na revista Temas Ultramarinos (1955) – e um contista nato, Henrique de Senna Fernandes é também um cinéfilo apaixonado, autor de diversos artigos sobre o cinema em Macau, tendo durante vários anos assegurado a crítica cinematográfica na antiga Emissora de Macau. – Obras. A-Chan, A Tancareira (conto), 1974; Nam Van. Contos de Macau, 1978, (2.ª ed., 1997); Amor e Dedinhos de Pé (romance), 1986, (4 a ed.,1994); A Trança Feiticeira, 1993; Mong-Há, 1998. [M.T.S.]
Bibliografia: BROOKSHAW, David, “Macau e os Macaenses: Considerações sobre a Obra de Henrique de Senna Fernandes e Rodrigo Leal de Carvalho”, in Veredas, n.° 2, (Porto, 1999), pp. 169-178; BROOKSHAW, David, “Imperial Diasporas and the Search for Authenticity: The Macanese Fiction of Henrique de Senna Fernandes”, in Lusotopie (Paris, 2001); BROOKSHAW, David; WILLIS, Clive (eds.), Luso-Asian Voices, (Bristol, 2000); FORJAZ, Jorge, Famílias Macaenses, vol. 3, (Macau, 1996); SENA, Maria Tereza; BASTO, Jorge, Macau nas Palavras, CD-ROM, (Macau, 1998).

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Data de atualização: 2023/06/14