Omura Sumitada era o segundo filho de Arima Harazumi Sengan, um daimio poderoso que dominava uma boa parte do reino de Hizen, no Japão, e que desde cedo mostrou uma política hábil ao conseguir colocar em posições de poder todos os seus filhos varões. Com excepção do primogénito, que herdava todos os territórios, Sumitada e os seus irmãos mais novos foram adoptados por famílias influentes e poderosas. Assim, Sumitada passou para a casa de Omura em 1537, e em 1550, com apenas 17 anos, sucedeu ao daimio Omura Sumiaki, seu pai adoptivo. Teve, no entanto, de enfrentar desde o início os ataques do senhor do feudo vizinho e filho bastardo de Sumiaki, que aspirava ser daimio de Omura. Takaaki, aliado aos poderosos vizinhos Matsuura de Hirado e Ryuzoji de Saga, e juntamente com alguns vassalos de Omura descontentes com a eleição de Sumitada, conspirou constantemente com o intuíto de se apoderar do feudo de Omura. Este feudo não era muito grande nem muito rico em recursos, que permitissem ao jovem dáimio fazer face, com sucesso, a este tipo de ataques. A oportunidade de comércio com os portugueses passou a ser considerada, por Sumitada, uma forma de conseguir os recursos de que não dispunha ou manter aqueles que já possuía. Os namban jin mostravam-se um potencial aliado, que o poderia enriquecer através do comércio e fortalecer militarmente. Omura Sumitada decide entrar na competição pela presença portuguesa no seu território, na mesma altura que os portugueses começavam a sentir fortemente a hostilidade do dáimio de Hirado, onde a nau do trato aportava, devido às excelentes condições geográficas que oferecia. Em 1561, Omura Sumitada sai do anonimato para os portugueses, começando por pedir ao padre Cosme de Torres, superior da missão jesuíta no Japão, que lhe enviasse alguém que lhe explicasse a religião cristã e que a nau de Macau fosse a um dos seus portos. Para garantir que tanto o Evangelho como os marinheiros fossem bem recebidos, oferecia aos portugueses o porto de Yokoseura, pequeno, mas extremamente bem localizado, tão propício ao comércio com Macau como os portos de Hirado, isenção de impostos por dois anos, e aos missionários cedia metade da aldeia de Yokoseura, garantindo plena liberdade religiosa no seu território. Assim, a partir de 1562, começa uma nova página da história dos portugueses no Império do Sol Nascente. Omura Sumitada devia ter, nessa altura, 29 anos. Em Junho de 1563 Sumitada baptiza-se, adoptando o nome cristão de Bartolomeu. Tudo pressagiava um novo avanço na evangelização e uma maior prosperidade para o comércio português e para o território de Omura. No entanto, D.Bartolomeu, ao atrair as naus portuguesas, tinha acirrado ainda mais a inveja dos seus inimigos, o seu baptismo afastara a lealdade de alguns dos seus vassalos, e os bonzos budistas atiçavam os ódios. Em finais de Novembro de 1563, grande parte dos súbitos de Sumitada revoltaram-se contra o dáimio, arrasando o porto de Yokoseura. Em 1564, tudo parecia ter voltado ao início, D.Bartolomeu teve de enfrentar rebeliões internas e Yokoseura não passava de um monte de escombros. Omura Sumitada foi um exemplo das cordiais e efectivas relações que se estabeleceram, desde logo, entre portugueses e japoneses. O que começou por ser, inicialmente, um mero interesse comercial, tornou-se para Sumitada uma convicção religiosa. Foi o primeiro dáimio cristão, o homem que abriu caminho à expansão do Cristianismo no Japão, o protector do comércio namban, e foi acima de tudo uma figura que manteve, até à sua morte, uma vontade férrea para salvar os seus domínios, e uma luta contínua para manter a fé a que se convertera. Em 1587, com a aproximação da festa do Corpo de Deus, D. Bartolomeu, já agonizante no seu leito, sentindo que se aproximava a sua hora, pediu que abrissem a porta da gaiola ao pássaro cantor de penas verdes, característico dos montes de Nagasáqui, e o deixassem partir em liberdade. A 24 de Maio, com 54 anos de idade, o primeiro dáimio cristão, Omura Sumitada, D.Bartolomeu, partia serenamente. [P.C.S.]
Bibliografia: COSTA, João Paulo Oliveira e, A Descoberta da Civilização Japonesa pelos Portugueses, (Macau, 1995); COSTA, João Paulo Oliveira e (coord.), Encontro Portugal-Japão, (Lisboa, 1994); YUUKI, Diego, “O Dáimio Sumitada”, in Revista ICALP, n°s. 12-13, (Lisboa, 1988).

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Data de atualização: 2022/11/03