Toyotomi Hideyoshi foi militar, ditador e unificador do Japão. Quando nasceu, em 1536, deram-lhe o nome de Hideyoshi, que mudou em várias ocasiões. No Japão é habitualmente chamado Hideyoshi, da família Toyotomi, iniciada pelo mesmo em 1586. Nasceu na aldeia de Nakamura, senhorio de Owari, hoje província de Aichi. O seu pai, Nakamura Yanosuke, morreu pouco depois, e a mãe viúva, Yae, casada em segundas núpcias, internou o menino na teragoya do templo Koinyoji, com a intenção de fazer dele bonzo. Porém, Hideyoshi, cumpridos os seus 15 anos, fugiu da escola e entrou ao serviço de Matsushita Yukitsuna de Kurio, no senhorio de Totomi, hoje província de Shizuoka. Sem autorização do seu amo, voltou a fugir para servir Oda Nobunaga como soldado, com o nome de Kinoshita Tokichiro. Em 1562, casou-se com uma filha de Sugiliara Yoshifusa, tendo de novo mudado o nome para Hideyoshi. Pelos seus êxitos em várias campanhas, Nobunaga concedeu-lhe, em 1574, o título de Chikuzeri no karni e o castelo de Imaliama, na margem Nordeste do Lago Biwa, com uma renda de 220.000 kokus. Hideyoshi reconstruiu o castelo e denominou-o Nagahamajo, na altura em que adoptou Hashiba como seu quarto nome. Nos cinco anos seguintes, Hideyoshi comandou com êxito o exército de Nobunaga contra Mori Terumoto de Hiroshima, seu principal inimigo, e recuperou cinco senhorios, pelo que obteve como recompensa, em 1580, a mudança da sua residência para o castelo de Himeji. Dois anos depois, Nobunaga morreu em Quioto, atraiçoado por Akechi Mitsuhide. Hideyoshi preparou- se para ocupar o posto do seu senhor, adiantandose a Mori Terumoto, com quem assinou uma trégua, mas teve de se confrontar com os filhos de Nobunaga, aliados de Tokugawa Ieyasu. Em 1584, negociou a paz, oferecendo a Ieyasu a mão da sua irmã Ashinokata e, em troca, este entregou-lhe, como refém, o seu filho Tokugawa Hideyasu. Hideyoshi começou a edificar o sumptuoso castelo de Osaka e ordenou a todos os dáimios do Japão – para os enfraquecer nos seus senhorios – que levantassem as suas mansões aos pés da fortaleza, obrigando-os ainda, desapiedadamente, a contribuir com dinheiro e homens. Alguns deles, incapazes de pagar em metal, preferiram suicidar- se. Entretanto, Hideyoshi conduziu os seus homens contra os sohei ou yamabushi, caterva de monges-soldados do mosteiro de Negorodera, responsáveis por diversos tumultos. Em 1585, encarregou Kuroda Yoshitaka a campanha para subjugar os Chosokabe da ilha de Shikoku, após o que Hideyoshi se sentiu seguro no poder. Em 1586, desejou ser nomeado xogum, mas a sua origem plebeia impediu-o, e Kibutei Harusue, ministro da coroa, propôs-lhe a distinção de Karibaku (Kanpaku), outro título reservado aos nobres da família Nijo, com uma renda de 3.000.000 kokus, o que foi aceite por Hideyoshi. Para o governo da nação, criou um gabinete de cinco bugyos ou ministros supremos. O passo seguinte foi a campanha de Kyushu contra o crescente poderio do dáimio Shimazu Yoshihisa, respondendo a um pedido de ajuda dos restantes senhores da ilha. A campanha durou alguns meses, entre 1586 e 1587, e foi de novo liderada por Kuroda Yoshitaka, o qual, em plena acção bélica, se converteu ao Cristianismo, tal como muitos outros “capitães” do exército de Hideyoshi. O viceprovincial jesuíta Gaspar Coelho viajou de Nagasáqui para Shimonoseki para saudar Hideyoshi, a 2 de Maio de 1587. As relações deste com os jesuítas, nos primeiros cinco anos desde a sua subida ao poder, eram, aparentemente, amistosas. “A los 20 de julio de 87 estaba la Companhia [de Jesus] en Japóri levantada en los cuernos de la luna (como dicen), y a los 25 del mismo julio estábamos todos con sentencia pública desterrados de Japón, y desterrada la ley Dios de todo Japón”, escrevia o jesuíta Pedro Górnez. A mudança foi repentina e deu lugar a várias interpretações acerca da motivação de Hideyoshi, uma vez que este não pôs em execução o decreto de expulsão Pateren tsuihorei, mas também não o revogou. Depois de reinstalar em toda a área geográfica do Japão antigos dáimios e de nomear outros novos, sitiou, em 1589, os Hojo de Odawara, que cederam ao fim de quatro meses, ficando terminada a unificação da nação. Hideyoshi deu a Tokugawa Ieyasu todas as províncias de Kanto e começou a planear a acção no continente. Em 1589, enviou So Yoshitoshi ao rei da Coreia, convidando-o, em vão, a tornar-se seu vassalo. Em 1591 reclamou a vassalagem das Filipinas e dos reis e senhores vizinhos. Como quartel-general para a invasão da Coreia, construiu, em Hizen, o castelo de Nagoya, ao qual chegou em Abril de 1592. Contava com um exército de 130.000 homens, com Kuki Yoshitaka e Todo Takatora como autoridades máximas, mas o comando efectivo ficou a cargo de Konishi Yukinaga Agustín e Kato Kiyornasa, pagão, que encetaram a invasão em meados de Maio de 1592. Ao rápido avanço, seguiu-se a retirada ao Sul da península, e Konishi iniciou demoradas negociações com a China, aliada da Coreia. No mesmo ano, Pérez Dasmariñas, governador das Filipinas, enviou ao Japão o capitão Lope de Llano e o dominicano Juan Cobo para responder, de viva voz, a “una carta muy soberbia y mal educada” que Hideyoshi lhe havia remetido, ameaçando-o de “destruirlos y asolarlos” se os espanhóis não o reconhecessem como seu senhor. A audiência teve lugar na Fortaleza de Nagoya de Hizen. Os embaixadores queixaram-se de que os portugueses de Macau haviam refreado o comércio do Japão com as Filipinas. Hideyoshi “rehusó dar permiso a Cobo en 1592 para que los misioneros dominicos se establecieran y predicaran en Japón, basando su decisión en el edicto de expulsión de 1587” e mandou destruir a igreja de Nagasáqui. O visitador Valignano comentou o desastre: “a Companhia de Japão destruida quanto ao temporal, e desfeitos e perdidos o collegio e casa de provação, seminários com todas as mais casas e residencias que tinhamos nas partes de Bungo, de Amanguchi e do Goquinay [...] sem termos nenhuma renda nem propriedade em Jappão”. Nos últimos dez dias de Agosto de 1592, Hideyoshi recebeu a notícia da morte de Yae, sua mãe, e partiu apressadamente de Nagoya para Osaka, deixando em seu lugar Maeda Toshiie, para ficar a par da guerra. Em Osaka, Hideyoshi cedeu o título de Kanbaku ao seu filho adoptivo Hidetsugu, adoptando para si o nome de Taiko. Pensando na inevitável velhice, Hideyoshi construiu outro castelo para si em Fushimi e, prevendo que viriam a surgir diferendos entre o seu filho legítimo Hideyori, recém-nascido, e o seu filho adoptivo Hidetsugu, acusou este de tramar uma conspiração, pelo que o desterrou para o monte Koya, ordenando-lhe o suicídio ritual seppuku, em 1595. No início de 1596, chegou a Osaka uma delegação do imperador da China, propondo a paz sob condições que enfureceram Hideyoshi. Na Primavera do mesmo ano, enviou para a Coreia outros 100.000 homens, sob o comando de Kobayakawa Hideaki, seu sobrinho. Pouco depois, adoeceu gravemente, por entre rumores de haver sido envenenado pelo delegado chinês, mas melhorou e passou a viver no novo Palácio de Fushimi. A 5 de Fevereiro de 1597, por ordem de Hideyoshi, morreram crucificados os chamados 26 Mártires de Nagasáqui, 6 franciscanos e 17 laicos, aos quais se juntaram 3 jesuítas. Hideyoshi ordenou ainda a expulsão de outros cinco franciscanos e, a 20 (24) de Março, desempoeirou o édito de 1587 e enviou-o a Terazawa Masanari Agustín, Governador de Nagasáqui, para que o comunicasse a todos os dáimios que estavam na Coreia, mas o desterro dos jesuítas também não foi levado a efeito desta vez. Prevendo a sua própria morte, instituiu um conselho de cinco tutores gotairo para proteger o menino Hideyori até à sua maioridade. Encarregou também o principal de entre eles, Tokugawa Ieyasu, de ordenar o regresso ao Japão das tropas da Coreia, o que só foi cumprido em Janeiro de 1599. No início de Setembro de 1598, Hideyoshi recebeu, em Fushimi, a visita do seu intérprete, o jesuíta João Rodriguez Tsuzu, que pretendeu ajudá-lo a bem morrer para se apresentar perante o tribunal divino, mas a tentativa foi inútil. Hideyoshi morreu a 16 de Setembro de 1598 no Palácio de Fushimi, aos 62 anos de idade. Como escreveu Papinot, “Hideyoshi es ciertamente una de las grandes figuras en la Historia de Japón. De familia plebeya, subió a la categoria por su inteligencia. Un astuto político, más que un experto guerrero, fue capaz de imponer su autoridad sobre los ambiciosos daimyos de aquellos turbulentos tiempos. Reestableció el orden y la prosperidad en un país arruinado por las guerras civiles durante un siglo y medio. Fiel servidor de la dinastia imperial, reconstruyó el palacio de Kyoto y aseguró suficientes ingresos para que la corte pagara los gastos necesarios, por lo cual el emperador Goyosei le concedió el título de Toyokuni Daimyojin. Pero para descrédito suyo la historia cuenta la desastrosa expedición a Korea, inspirada o por el orgullo o por el deseo de humillar a la casta alta militar de Japón. Ni hay que olvidar que Hideyoshi inauguró la persecución religiosa en Japón, creyerido salvar de mayor peligro al país, crucificando a los 26 primeros mártires en Nagasáqui”. [J.R.M.]
Bibliografia: BOXER,
The Christian Century in Japan, 1549- 1650, (Manchester, 1993); FRÓIS, Luís,
História de Japam, 5 vols., (Lisboa, 1976-1984); SCHÜTTE, Joseph F.,
Introductio ad Historiam Societatis Jesu in Japponia, 1549-1650, (Roma, 1968).
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