Leonardo de Sá Fernandes nasceu no Cartaxo, em Portugal, talvez por volta de 1550, e ingressou na Ordem de Cristo, sendo sagrado em 1577. Um ano depois era nomeado bispo de Macau e da China, partindo para o Oriente pouco mais tarde, pois está documentada a sua presença em Goa entre 1579 e 1580, onde emite um parecer sobre a oportunidade de enviar uma missão a Akbar, imperador dos Mogores. Em finais deste último ano já se encontrava em Malaca, de onde partiu para Macau em Maio de 1581. Alguma correspondência escrita por Alessandro Valignano atesta que o novo bispo se envolveu em questões com a comunidade jesuíta residente em Macau, a propósito de algumas casas que pertenceriam ao bispado, mas que os missionários jesuítas entendiam serem suas, pois haviam sido adquiridas pelo anterior bispo Melchior Carneiro, ele próprio jesuíta. Quando, em finais de Maio de 1582, chegou a Macau, vindo das Filipinas, o padre jesuíta Alonso Sanchez, com a notícia de que o monarca espanhol Filipe II assumira no ano anterior o trono de Portugal, D. Leonardo de Sá fazia parte do grupo de portugueses que proclamou a fidelidade do território macaense ao novo monarca espanhol. Sabe-se ainda que em 1582 era provedor da Misericórdia de Macau. Em 1584 fez uma viagem a Goa, para assistir ao III Concílio Provincial que teve lugar na capital do Estado Português da Índia no ano seguinte. Não se sabe muito bem se foi logo para Macau após o final do concílio e depois voltou à Índia. Mas esta segunda jornada à capital do Estado da Índia parece segura, se tivermos em conta que em Setembro de 1589 o bispo assinava em Macau a autorização para a impressão do célebre tratado De Missione Legatorum Iaponemsium ad Romanam Curiam, da autoria dos padres Alessandro Valignao e Duarte Sande (que foi efectivamente impresso em 1590) e que em Outubro de 1591 se encontrava de novo em Goa, de acordo com fontes jesuítas. Por ocasião do regresso a Macau, que teve lugar em 1592, o navio em que seguia naufragou no litoral da ilha de Samatra e D. Leonardo foi capturado por forças achinenses, ficando cativo durante vários anos em terras do Achém, o poderoso sultanato islamizado que hegemonizava o norte daquela ilha. As autoridades de Malaca, segundo parece, encarregaram Tomás Pinto, um opulento mercador residente naquela cidade, de negociar no Achém a libertação do bispo de Macau e dos seus companheiros de viagem. Entretanto, fontes várias indicam que os prisioneiros foram bem tratados pelo sultão Alaud-Din, que os libertou pouco tempo depois. Uma carta ânua jesuíta, enviada de Macau em 1596, refere que D. Leonardo chegara à cidade em Outubro do ano anterior, depois de três anos de cativeiro no Achém. Será que esta fonte contém um lapso de datação? É que em 1594, o capitão-mor da viagem do Japão desse ano, que era D. Francisco de Sá, perdeu- -se no litoral do Achém, quando efectuava a viagem entre Goa e Macau, ficando ali prisioneiro. Pode assim levantar-se a hipótese de D. Leonardo e D. Francisco terem viajado junto em 1594 (seriam parentes?). Neste caso, o cativeiro do bispo no sultanato islâmico teria sido muito mais curto do que o que se tem pretendido. D. Leonardo faleceu em Setembro de 1597, sendo sepultado na Sé de Macau. [R.M.L.]
Bibliografia: TEIXEIRA, Padre Manuel, Macau e a sua Diocese, vol. II, (Macau, 1940).

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Data de atualização: 2022/11/03