Vice-almirante francês (1862), auxiliar de Napoleão III (1864), director do Serviço de Mapas do Ministério da Marinha (1871), colaborador da Revue des Deux Mondes e autor de cerca de dezasseis obras sobre a Marinha, entre as quais La marine d'autrefois (1865) e La marine d'aujourd'hui. Voyage de la corvette la Bayonnaise dans les mers de China, 2 vols., 1872. Gravière viaja paraa China como comandante da corveta La Bayonnaise, enviada pelo governo francês (1847-1850), com o objectivo de transportar os recém-nomeados diplomatas franceses para Cantão, na sequência da embaixada do ministro plenipotenciário Théodose de Lagrené (1800-1862) e da assinatura do tratado franco-chinês (1844), recolhendo apontamentos hidrográficos sobre os mares da China. O autor redige um testemunho pessoal da viagem que dura cerca de três anos, publicado com o título Vóyage en Chine et dans les mers et archipels de cet empire pendant les années 1847-1848-1849-1850. Ao longo do texto, o viajante descreve a sua chegada e estada em Macau, pouco depois da Guerra do Ópio e do Tratado de Nanquim, referindo o poderio inglês, as iniciativas militares do governador de Hong Kong, Sir John Davis, e os efeitos das mesmas no moribundo enclave sino-português, governado por Ferreira do Amaral. O almirante francês resume as medidas iniciais de Amaral na cidade (agora porto franco, em detrimento das receitas das alfândegas), as lutas que este trava quer com as autoridades mandarínicas quer como Senado, os novos impostos e o pagamento da renda anual de 500 taéis aos chineses pela 'posse'' da península onde habitam vinte e cinco mil chineses e cinco mil cristãos. O texto descreve ainda os efeitos da Guerra do Ópio e da fundação de Hong Kong na Europa e no Sul da China. É nesse contexto histórico que La Bayonnaise chega a Macau, onde muitos dos súbditos ingleses, não se mudando para Hong Kong, ainda residem devido à melhor qualidade de vida e ao clima mais agradável. É neste afluxo de comerciantes estrangeiros que o governador português deposita parte da sua confiança para o futuro do enclave, mesmo que este não possa oferecer um porto como o de Hong Kong, pois o porto interior não é acessível durante as marés normais aos grandes navios que fundeiam na Taipa e em Coloane.O almirante descreve ainda as viagens dos juncos e dos 'enxames de tancares'' chineses, a bordo dos quais se desloca o comprador (de seu nome Ayo), que transportaos mantimentos para a tripulação francesa adquiridos em Cantão ou nos mercados/bazares de Macau. A Praia Grande é descrita como 'uma longa fila de casas, com arcadas enormes”. O texto, acompanhando o movimento do olhar do viajante francês, descreve ainda os altaneiros cemitérios chineses, os passeios a pé pelos montes fortificados da cidade, a vista do mar, as ilhas, as aldeias chinesas e a actividade agrícola dos seus habitantes, os parses que o lucrativo tráfico de ópio fixara em Macau, os jardins e as emaranhadas vielas, a silenciosa Gruta de Camões, os sons chineses que alegram a taciturna cidade portuguesa, as mulheres quase reclusas, envoltas por uma ''mortalha' branca, que apenas saem para se dirigir à igreja, a fisionomia dos cules e dos vendedores ambulantes que povoam o espaço português do enclave, os pés enfaixados, o culto chinês dos antepassados, os sons, rituais e cores da cerimónia do casamento chinês, concluindo: 'Macau foi para nós a primeira amostra do Império Celeste'. Jurien de la Gravière descreve as lutas de poder e de interesses no Sul da China pouco após a Guerra do Ópio, bem como a situação de Macau nesse contexto, enfatizando a singularidade cultural e política do enclave. [R.M.P.]
Bibliografia: GRAVIÈRE, Jurien de la, La Marine d'Autrefois. Souvenirs d'un Marin d'Aujourd'hui. La Sardaigne en 1842, (Paris, 1865); GRAVIÈRE, Jurien de la, Voyage en Chine et dans les Mers et Archipels de cet Empire pendant les Années 1847~ 1848~1849-1850 par Jurien de la Gravière Capitaine, Commandant la Corvette La Bayonnaise, Expédié par le Gouvernement Français dans ces Parages, avec une Belle Carte Gravée sur Acier, 2 vols., (Paris, 1854); ANÓNIMO, Notice sur les Travaux Sientifiques et les Services du Vice-amiral Jurien de la Gravière, (Paris, 1965); Commandant Grandin, Histoire d'un Marin. Le Vice-amiral Jurien de la Gmviere, (Paris, 1895); DUMOLIN, Louis, Amiral Jurien de la Gravière (1812-1892) , s./l., s./d.; Louis Malleret, Jurien de la Gravière: Un Ami Gannatois, (Dessaigne, 1984).

Informações relevantes

Data de atualização: 2023/06/14