Sacerdote da Diocese de Macau e historiador contemporâneo. Nascido a 15 de Abril de 1912, na Vila de Freixo-de-Espada-à-Cinta (Portugal), embarcou aos 12 anos para Macau, com destino ao Seminário de S. José, no qual ingressou em Outubro de 1924. Ordenado padre 10 anos depois, pelo prelado da diocese D. José da Costa Nunes, desempenhou funções de pároco (S. Lourenço, 1934-1947), de professor do Seminário (1932-1946) e do Liceu (1942-1945), de promotor da Justiça e defensor do Vínculo do Tribunal Eclesiástico (1936-1947), e de procurador dos Bens das Missões Portuguesas na China. Em paralelo com a actividade pastoral (fundou/organizou/dinamizou diversos movimentos de leigos), foi director do Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau (1934-1947), publicação que tornou conhecida internacionalmente, com a colaboração de figuras como José M. Braga e Charles R. Boxer. Em 1942 fundou a revista mensal O Clarim e integrou o núcleo fundador do semanário União, órgão da União Nacional. Em 1948, já com cerca de duas dezenas de livros publicados, partiu para Singapura e iniciou uma nova fase da sua vida como Superior e Vigário-geral das Missões Portuguesas de Singapura e Malaca. Por lá se manteve durante 14 anos, período de vasto labor literário em que publicou mais de uma dezena de títulos novos, além de haver fundado publicações, como a revista Rally e o boletim Stop, Look, Go. Em reconhecimento pelos brilhantes serviços que vinha prestando, o Governo Português agraciou-o com o oficialato da Ordem do Império Colonial (1952). Ao regressar a Macau, em 1962, retomou funções docentes no Colégio de S. José (1962-1965), na Escola Comercial Pedro Nolasco (1962-1964) e no Liceu Nacional Infante D. Henrique (1964-1970), tendo também assumido as funções de director dos Arquivos de Macau (1976-1980) e do Boletim do Instituto Luís de Camões (1976-1980). Paralelamente, manteve actividade pastoral, agora como capelão do Convento de Santa Clara. Na sequência dos acontecimentos do 1, 2, 3 (Revolução Cultural, 1966), constituiu equipa com o Padre Videira Pires, S.J. e com Luís Gonzaga Gomes, para a recuperação e reorganização do Arquivo do Leal Senado, então deitado fora por manifestantes sublevados. Como eclesiástico ou como historiador, consciente da íntima associação da História da Igreja de Macau com a História Civil do Território, representou Macau e Portugal em numerosos congressos internacionais: em Manila (1937 e 1974), Singapura (1960), Taipé (1962), Sidney (1968 e 1970), Paris (1972) e Banguecoque (1974 e 1986). Manteve relações com diversas organizações no âmbito da ciência e da cultura, sendo membro da Associação Internacional de Historiadores da Ásia, da Academia Portuguesa de História e da Academia Portuguesa de Marinha. Foi ainda sócio correspondente da Sociedade de Geografia de Lisboa, sócio de número da Sociedade Científica Católica Portuguesa, vogal do Centro de Estudos Históricos Ultramarinos e do Conselho da Universidade da Ásia Oriental, e Doutor Honoris Causa, em Letras, pela mesma Universidade. Algumas das suas obras estão traduzidas (a versão tailandesa de Portugal na Tailândia, por exemplo, foi promovida pelo Ministério da Cultura em Banguecoque). Articulista, editor, director e fundador de periódicos eclesiásticos ao longo de muitas décadas, colaborou activamente também em diversos jornais e revistas de Portugal e do estrangeiro, tendo também prestado colaboração à Enciclopédia Verbo, ao Dicionário da História da Igreja em Portugal e à Enciclopédia Católica Japonesa. Igualmente conhecido como Monsenhor Macau e por muitos considerado como expres são da memória colectiva da cidade, estudou todos os monumentos e ruas (A Voz das Pedras de Macau, 1980; Toponímia de Macau, 1979-1981) e efectuou o levantamento de todos os cartórios paroquiais, bem como dos respectivos registos de baptismo, casamento e óbito. Os seus estudos genealógicos e outros revelam um conhecimento profundo da sociedade macaense (Galeria de Macaenses Ilustres do Séc. XIX, 1942; Galeria de Mulheres Ilustres em Macau, 1974; Os Macaenses, 1965; Origem dos Macaenses, 1975; O Trajo Feminino em Macau do Séc. XVII ao Séc. XVIII, 1969). Tão profícua actividade foi coroada de honras e distinções: Comenda da Ordem do Infante D. Henrique (1974); Medalha de Valor, pelo Presidente da República Portuguesa (1985); prémios de História, da Fundação Calouste Gulbenkian (1981, pelo trabalho Militares em Macau; 1983, pela Toponímia de Macau); Figura do Ano em Macau (1982); Comenda da Ordem Militar de Santiago e Espada, pelo Presidente da República Portuguesa (1989); Cidadão Benemérito de Macau, pelo Leal Senado de Macau (1998). Em 1984, ao celebrar o jubileu de ouro sacerdotal, foi agraciado pela Santa Sé com o título de Monsenhor. Na sequência da exposição retrospectiva da sua obra, promovida em Lisboa pelo Governo de Macau, em 1999, foi criada a Sala Monsenhor Teixeira, no Centro Científico e Cultural de Macau. Assumido homem de Igreja, criou diversos fundos de beneficência, sobretudo para apoio a jovens estudantes e a velhos carenciados, os quais aplicou em Singapura, Macau, Moçambique e Portugal. A atestar a enorme popularidade desta figura emblemática de Macau, uma cadeia de televisão norte-americana rodou no território, em 1983, cenas de um filme, financiado pela ONU, que considerava o Padre Teixeira um dos quatro anciãos mais activos do mundo. Tratando-se de uma figura consagrada internacionalmente, foi procurado por estudantes, diplomatas e historiadores de todo o mundo, funcionando assim, ao longo de décadas, como um precioso apoio ao turismo de qualidade. Na fase final da sua vida, a então administração portuguesa de Macau acolheu-o na Pousada de Mong Há (Wangxia 望廈), do Instituto de Formação Turística, onde fixou residência. A obra deste grande vulto da cultura macaense é composta por mais de cem livros e para cima de duas centenas de artigos, além de incontáveis apontamentos e crónicas do quotidiano publicados na imprensa de Macau. Monsenhor Teixeira considerava Macau e a sua Diocese, 16 vols., Macau, 1940-1979, como a sua obra principal. Jorge Arrimar, que efectuou o levantamento de todas as suas publicações, faz referência a 307 títulos. Além de duas dezenas de títulos sobre os Jesuítas no Oriente e de oito títulos sobre Camões (dos quais Camões em Macau: Contribuições para o Estudo do Problema, 1940), são ali referenciados todos os demais, como: Bispos e Governadores do Bispado de Macau, 1940; Bocage em Macau, 1977; Camilo de Almeida Pessanha, 1969; O Comércio de Escravos em Macau – The so Called Portuguese Slave Trade in Macao, 1976; Companhias Estrangeiras em Macau, 1978; O Cristianismo na China antes do Séc. XVI, 1941; A Diocese de Timor, 1965; A Diocese Portuguesa de Malaca, 1957; Documentos para a História do Movimento Liberal de 1822-1823, 1974; A Educação em Macau, 1982; Fortalezas de Macau: Fortaleza de Nossa Senhora da Guia, 1969; Fundação de Macau, O Fundador do Leal Senado, 1968; A Igreja em Cantão, 1996; A imprensa Periódica Portuguesa no Extremo Oriente, 1965; Influência do Português na Língua Malaia, 1961; Japoneses em Macau, 1993; Joaquim Paço D’Arcos, 1979; Macau no Séc. XVI, 1981; Macau no Séc. XVII, 1982; Macau no Séc. XVIII, 1984; Antigos Navegadores e Marinheiros Ilustres nos Monumentos e Toponímia de Macau, 1984; A Medicina em Macau, 4 vols., 1975-1976; Pagodes de Macau, 1982; A Polícia de Macau, 1970; Os Cafres em Macau, 1972. O Padre Manuel Teixeira faleceu em Portugal, em Setembro de 2003. [A G. de A.]
Bibliografia: ARAÚJO, Amadeu, “O Último Abencerragem do Padroado”, in Diálogos em Bronze – Memórias de Macau, (Macau, 2001); ARESTA, António, “Monsenhor Manuel Teixeira e a História da Educação em Macau”, in Brigantia (Bragança, 1998); ARRIMAR, Jorge de Abreu, Mons. Manuel Teixeira: O homem e a Obra – Father Teixeira: The Man and his Work, (Macau, 1992); COUTINHO, Paulo, “Monsenhor Macau”, in MacaU, (Macau, Nov. 1994).

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Data de atualização: 2022/11/03