O calambá (ou calambac, calambouc, calambourg) provém do Malaio kalambaq e designa um extracto ou derivado da madeira de um tipo de árvore da família das timeleáceas, pela maioria designada de Aquilaria agallocha (Roxburgh) e, por outros, Aloexylum agallochum (Padre Loureiro), Aquilaria crassana pierre (por Pételot), Aquilaria Baillonii pierre (Boulbet) e Aquilaria malacensis (Medrom). Foi designado por uma multiplicidade de nomes, segundo o local, a língua e a qualidade do produto, o que criou uma enorme confusão. Em latim, é o Linaloes, em sânscrito chamava-se aguru, que passou ao árabe como agaladjin (do qual provêm agalugem e agaloc, referidos por Orta). A simplificação do nome sânscrito deu, em hindi e deckani, os nomes de agar e aghir, e, muito possivelmente, às designações em malaio de garu (Orta adaptou para garro, outras adaptações deram gaharu, gahlau, guaro), agil e agila, as quais teriam sido aportuguesadas em aguila e páo de aguila. Franceses e ingleses desconhecendo esta evolução, confundiram com o nome português da “ave águia” e traduziram para bois d’aigle e eagle wood. Uma outra designação, para a mesma árvore, era muito comum em árabe: ’ud (a madeira), a qual, ao ser ligada ao artigo al-‘ud, teria originado possivelmente o nome muito difundido de aloes. O conde de Ficalho esclarece-nos que, o linaloes “esta madeira do Extremo Oriente não tem a mais remota similhança, nem nas propriedades, nem na procedência, nem em qualquer outra circunstância, com o aloes, extrahido de uma Liliacea”. Para diferenciarem estes nomes semelhantes, os autores normalmente designam os sinónimos do linaloes com o prefixo de lenho, pau ou madeira e, assim, aparecemnos as designações de pau de agila ou madeira de aloé, entre outras. O calambac foi, desde cedo, considerado um produto suficientemente digno, para figurar como oferta a soberanos ou autoridades principais. Nomeadamente, numa oferta ao rei de Portugal, como a referida na carta de Pedro de Faria, de meados do século XVI, em que anuncia ao rei o envio de uma flor e de um pau de Calambar que cheiram bem, assim como dois sombreiros da China, um para sua alteza e outro para o prínciPadre O próprio rei da Cochinchina enviou às autoridades de Macau, em 1651, um presente no qual se incluem 3 pedaços de calambac, com o peso de 1 cate. Nas galeotas portuguesas, de 1637, foram levadas de Macau ao Japão, 22 cates de calambac (cerca de 13 kg), de qualidade superior, e 1330 cates (cerca de 813kg) de pau de águila; esta enorme desproporção entre o escasso calambac e a abundância de pau de águila, revela bem a muito maior valorização do cambalac (avaliado em cerca de 605 taéis cada cate), em comparação com o pau de águila, que foi avaliado em cerca de 1.700 taéis cada pico (segundo António Nunes, a 1 pico equivalem a 100 cates, e 1 pico pesa 133 1/3 arráteis. Boxer, citando Pedro Baeza, refere, cerca de 1600, que a cambalac “é preta e contém óleo, e que vale 50 cruzados por cate para os portugueses enquanto no seu reino de origem vale tanto como a prata, peso por peso”; o mesmo Boxer, citando a obra Labor evangélica, de Colin e Pastells, acrescenta que a variedade de calambac de superior qualidade é a proveniente da Champa, que é melhor ainda que a de Tonking-Annam). Linschoten descreve-nos (baseado em Garcia da Orta) a “madeira calamba, aliás, lignum aloes” “quanto mais seca estiver, melhor cheira. O âmago da madeira é a parte melhor e a que melhor cheira”, distinguindo três qualidades diferentes: “A qualidade melhor chama-se calamba, a outra pau de águila. Para se distinguir entre ambas, deve saber-se que aquela que pesa muito, tendo veias pretas e castanhas, e que segrega muito óleo ou humidade, coisa que se comprova com fogo, é a melhor e a que tem mais virtude. … Ainda há um outro pau de águila, chamado águila brava, também muito estimado, pois os indianos usam-no para queimar os seus brâmanes e senhores quando morrem. … Mas este não tem comparação na estima com o outro pau de águila e a calamba”. Além de ser considerada pelo seu valor terapêutico (problemas de estômago e fígado e intestinais) “são muito usadas na Índia para fazer rosários, terços e crucifixos, que são tidos em muita conta…pois na verdade têm um aroma muito suave”. Em documento português, de cerca de 1775, somos informados que o pau de aquila de qualidade superior pagava 6% de direitos na alfândega de Macau, enquanto que o de segundo e terceira qualidade pagava 10% . Quatro anos depois, D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho, refere-nos, em 1779, que “O pau de Aquila sahe de Batavia, Malaca, Cochinchina e Sião e vai para a China onde se vende de 30 a 40 Taeis o Pico. O de Sião e Ainão he melhor que o de Batavia e Malaca, e se vende de 40 a 50. Tambem se tras para Surrate, Moka, Judá, Bassorá, e tambem todas as terras, que tem Mouros. Para este ser bom he preciso … não ter nódoa, nem podre, botando- se na água deve ir ao fundo, cortado mostra rezina, porque por fora pode ter rezina artificial, a cor dele é preta, consumido pelo fogo, porque se fizer em Carvão o dito óleo não presta. O de Sião e Ainão tem melhor saida em Surrate”. Sobre outros tipos de madeira, que poderiam confundir o mercador, esclarece “Há pau chamado Jagra, que he similhante ao pau aguila, mas o cheiro não é agradável. O Pau ambom é uma qualidade de pau muito nobre para obras finas, como papeleiras, contadores, carteiras…, este se aliza como o marfim e tem boas ondas, vem de batavia e custa cada pico de taboas na china 50 a 60 taeis e a sua raiz tem mais estimação”. Vários são os nomes dados na China a diferentes tipos ou estádios de preparação da árvore Aquilaria agallocha. A de melhor qualidade, mais apreciada e preciosa, era conhecida sob o nome de Qinanxiang 奇楠香 (ou Jialanxiang 伽楠香), e era importada de Champa, mas outra podia vir de Jiaozhi, e de Xiagang. Entre 1589 e 1615, as taxas alfandegárias cobradas às mercadorias importadas pela província do Fujian 福建, foram registadas no livro Dongxiyang kao 東西洋考, da autoria de Chang Hsieh’s (Zhang Xie 張 燮), publicado em 1617. Nele, cada 5kg de Qinanxiang 奇楠香 pagavam no ano de 1589, 2 qian 錢 e 8 fen 分 (14 g) de prata, e no ano de 1615, pagou 12, 1g de prata. A resina aromática da madeira Aquilaria agallocha é designada na China de chenxiang 沉香, é densa, negra e não flutua na água, são muito apreciadas as suas propriedades terapêuticas, para o estomâgo e no alívio da dor. Era importado, para além dos locais já assinalados, para Qinanxiang 奇楠香, Cambodja, Sião, Pahang, Porto Antigo e de Sujigang. O Chenxiang 沉香 pagou, por cada 50 kg, entre 1 qian 錢 e 6 fen 分 (o que corresponde a 8g) de prata, no ano de 1589 e a taxa cobrada em 1615, no valor de 1 qian 錢 e 3 fen (分) e 8 li 釐 (6, 9g).

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Data de atualização: 2023/05/17