BOUGAINVILLE, BARÃO DE ou BOUGAINVILLE, HYACINTHE YVES PHILIPPE POTENTIEN DE (1781-1846). Explorador, filho do famoso navegador Louis Antoine de Bougainville (1729-1811). Bougainville visita Macau no ano de 1825 e descreve o território no diário ilustrado da sua viagem à volta do mundo publicado em 1837 [Journal de la navigation autour du monde de la frégate La Thétis et de la corvette L’Espérance pendant les années 1824, 1825 et 1826 publié par ordre du roi sous les auspices de département de la Marine]. Na obra, o autor informa que acaba por permanecer mais tempo em Macau que o inicialmente previsto, pois apenas se dirigira ao território para aí deixar uns missionários (os srs. Voisin e Masson) e visitar o “pavilhão francês”, acabando por se alojar na casa do chefe da feitoria espanhola, Gabriel Goyenna. O explorador informa o leitor da pirataria comum nas águas próximas de Macau, adiantando que é no território que se contratam pilotos chineses para a viagem até Cantão. Em 27 de Dezembro, Bougainvillle desembarca no enclave, com vários oficiais da fragata, descrevendo as colinas, os edifícios brancos, a Praia Grande, o bairro dos estrangeiros, os conventos e os fortes. A descrição continua com as baterias de fogo nas extremidades Norte e Sul da cidade; as igrejas; as embarcações (juncos e sampanas) que “animam este quadro”. O autor encontra-se com o bispo de Macau, Francisco da Luz Chaçin, com o major Cabral de Estafique, governador interino do território, e com o padre Baroudel, procurador das missões francesas nesta cidade, “meia-chinesa e meia-portuguesa”, que poucos recursos oferece na ausência dos sobrecargas ingleses. A tripulação pernoita no edifício central das Missões francesas em Macau, igualmente descrito, e de onde partem os jovens missionários franceses para a China, e o texto apresenta ainda o estado das Missões na China, a actividade do padre Lamiot e as relações desse país com as nações europeias, informando que as vantagens comerciais de Macau são agora nulas para Portugal. A cidade, circunscrita a Oeste por colinas, encontra-se situada numa reduzida península e defendida por uma fortaleza no monte. Devido à sua localização geográfica, Macau rapidamente se tornara um dos maiores mercados asiáticos até o poderio do Estado da Índia começar a decair. O viajante refere a humilhação dos portugueses ao submeterem-se aos desígnios das autoridades mandarínicas que, por sua vez, nunca deixaram que a bandeira inglesa substituísse a portuguesa em Macau, nomeadamente quando da tentativa de ocupação militar de 1808. O texto refere o comércio inglês de ópio e a difícil situação económica de Macau, que apenas retira dividendos do ópio vindo de Goa. Os fortes da cidade são “pobres”, pois a defesa da mesma está mal pensada uma vez que na cidadela não existem nem fontes nem cisternas e a velha artilharia é composta por vinte calibres diferentes. Os soldados são homens “de cor” oriundos de Goa e Macau que pertencem ao batalhão do príncipe regente recentemente criado para defender a guarnição, sendo os oficiais filhos da terra, ou seja, as defesas do enclave consistem em dois fortes, um numa montanha, e outro à entrada do porto; três redutos que cobrem a baía e a cidadela, todos em mau estado. Os portugueses não têm um único barco armado na baía. O explorador visita ainda os jardins (criados pelo sobrecarga da Companhia das Índias inglesa, W. Robert), que, em 1825, pertenciam ao português Sr. Pereira, e a Gruta de Camões, descrevendo-a juntamente com o “quiosque” construído no topo da mesma, ao lado da actual Casa Garden, em que, como refere, se alojara Lord Macartney quando da sua embaixada à China (1793-1794). São ainda apresentadas as diferentes vistas do jardim (os telhados da cidade chinesa; o porto; as montanhas e o rio), comparando o autor as aldeias chinesas, ao longo do rio e com altas torres de pagodes, com as aldeias europeias encimadas por torres sineiras. O texto refere o estabelecimento dos portugueses no território há cerca de dois séculos e meio, após a derrota de uma frota de piratas, façanha agradecida pelo imperador que lhes cede Macau. Relativamente ao governo da cidade, existe, para além do governador, um mandarim chinês que vigia o primeiro e governa a população chinesa, descrevendo o texto os negócios dos ingleses em Cantão e Lintim, a Porta do Cerco e o “grande pagode de Macau […] construído próximo da aldeia da Casa-Branca”, com os seus bonzos, sinos e figuras de culto – longamente apresentados também através de gravuras que ilustram o texto –, tal como trajes, pescadores, lojistas e comerciantes, concluindo com a síntese: “Macao […] cidade fronteira e de comércio marítimo”. Bibliografia: BOUGAINVILLE, Baron de, Journal de la Navigation autour du Monde de la Frégate La Thétis et de la Corvette L’Espérance pendant les Années 1824, 1825 et 1826 Publié par Ordre du Roi sous les Auspices de Département de la Marine, 2 vols., (Paris, 1837); BOUGAINVILLE, Baron de, Atlas. Journal de la Navigation autour du Globe de la Frégate la Thétis et de la Corvette l’Espérance, Archival Facsimiles, (Alburgh, 1987); RIVIÈRE, Marc Serge (ed.), The Governor’s Noble Quest: Hyacinthe de Bougainville’s Account of Port Jackson, (Carlton South, 1999); Sabix : Bulletin de la Société des Amis de la Bibliothèque de l’École Polytechnique, n.° 31: Hyacinthe de Bougainville 1781- 1846, (Abril de 2002).

Informações relevantes

Data de atualização: 2020/04/17