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Data de atualização: 2020/09/03
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Data de atualização: 2020/09/03
Associado à mitologia e à cosmologia, o dragão, símbolo exterior e visível que melhor identifica e distingue a civilização e acultura chinesas, é o único signo que corresponde a um animal mítico (os restantes onze representam animais reais) e constitui assunto recorrente nas artes e nas letras, nos mitos, nas lendas e nos contos populares da China, país onde Macau se integra. – 1. Culto. O dragão é venerado, desde tempos imemoriais, como um dos quatro animais divinos, de parceria com o unicórnio, a fénix e a tartaruga. Constituindo o panteão dos animais divinos, os que marcam as quatro direcções daTerra, cabendo ao dragão azona Este, a do Sol nascente, das chuvas, da fertilidade. Nessa qualidade, era usado já há 5-6 mil anos, no período do neolítico chinês, em diversos utensílios, como vasos pintados e peças em laca e em jade. Acompanhou todas as dinastias, sendo tema permanente para a pintura e a poesia. A tradição mitológica chinesa refere várias espécies de dragões: o Dragão Celestial, guardião das mansões dos deuses; o Dragão Espiritual, 01que controla o vento e a chuva; o Dragão Terreno, que demarca o curso dos águas dos rios; o Dragão dos Tesouros Escondidos, que protege as riquezas; o Dragão Alado; o Dragão Anelado; o Dragão de Chifres; e o Dragão Amarelo. Por vezes aparecem subdivididos em dragões do mar, do ar e da terra, ou associados a diferentes cores. Em Macau e, em geral, em toda a China, o dragão simboliza a benevolência, a dignidade e a majestade.Trata-se, porém, de um símbolo complexo, a começar pela sua origem. Discutem os antropólogos ocidentais sobre o que terá inspirado a figura do dragão chinês. As opiniões repartem-se pelo lagarto, pela serpente, ou pelo crocodilo que, em tempos remotos, era frequente nos pantanais chineses, e que ainda aparecerá, ocasionalmente, no RioYangtze (Yangzi 揚子). Alguns associam a figura mítica do dragão na China ao culto do crocodilo no Antigo Egipto. Outros ainda, associam-no ao javali. Certo para todos é que nada tem aver com oferoz dragão da mitologia medieval do Ocidente, que normalmente incarna forças do mal. Como símbolo demoníaco, o dragão aparece identificado com a serpente, tanto no Ocidente como no Oriente. A Ocidente, esta associação é bem anterior à Idade Média, e já Orígenes (185-254) confirma tal interpretação na primitiva Igreja grega. Mas também como símbolos do ódio e do mal. Acala, o terrível Fudô nipónico, ao dominar o dragão, vence a ignorância e a obscuridade. Em The Encyclopaedia Sinica, Samuel Couling é de opinião que, pela sua forma e aspecto, “deriva do crocodilo, outrora comum na China, que se oculta no inverno e reaparece na primavera” (pág.147). Esta interpretação destaca o simbolismo cíclico do dragão, que, elevando-se no céu no equinócio da Primavera, mergulha no abismo no equinócio do Outono. O aparecimento do dragão corresponderá à Primavera, ao aumento dos trovões, ao yan 陽, à vida, à vegetação, à cor verde, à renovação cíclica. Na perspectiva deste autor, o dragão simbolizará sobretudo a chuva que fertiliza a terra. Associadoao trovão, ao raio e à fertilidade, cuspindo fogo e provocando chuva, adquiriu enorme importância numa civilização agrária como a chinesa. É idêntico o parecer de E.T.C. Werner, em Myths and Legends of China,ao afirmar que o dragão controla a chuva e assegura, assim, a prosperidade e a paz. Refere ainda que na imagem do dragão chinês a pérola representa o Sol. Defacto, o culto do dragão parece também associado ao Sol, talvez namedida em que este influencia a formação das nuvens e da chuva. C. A. S. Williams, em Outlines of Chinese Symbolism & Art Motives, apresenta uma perspectiva diferente sobre a origem deste culto, que poderá estar associado ao culto de Naga, serpente mítica presente na tradição religiosa da Índia, desde o tempo dos Vedas. De acordo com atradição budista, há lendas que referem que Naga protegeu Buda, enquanto este meditava na floresta, antes de atingir a Iluminação. Lembre-se que o Budismo atribui ao dragão predicados importantes de protector das divindades e de guardião dos templos.Também o Taoísmo lhe atribui propriedades mágicas [ o dragão é o próprioTao (Dao道), uma força total, momentaneamente revelada]. Quando, a partir da dinastia Han漢, o dragão passou a representar simbolicamente o poder imperial, tornou-se também manifesta a sua associação ao Confucionismo. Aliás, parece óbvio que, embora o culto deste animal divino seja muito anterior ao Budismo, ao Taoísmo e ao Confucionismo, não conseguiria manter-se tão profundamente enraizado na cultura chinesa, e no Oriente em geral,sem o suporte dos três. A mais antiga descoberta de uma imagem de dragão em escavações arqueológicas, representa-o com corpo de serpente, o que parece apoiar esta versão. De facto, o corpo do dragão chinês, na versão actual, assemelha-se a um réptil, embora a cabeça pareça inspirada noutro animal. Alguns arqueólogos,observando escavações de túmulos milenares, inclinam-se para um animal domesticado, familiar dos camponeses, por ser rural o mundo tradicional chinês. Cavalo? Búfalo? Porco? Camelo? Há ainda os que defendem que a imagem do dragão representa uma evolução a partir da representação do javali. Jades funerárias antigas parecem confirmar que ambos terão tido grande importância nos primitivos rituais agrários. Parece, efectivamente, um monstro complicado, o dragão chinês: com cabeça de animal não identificado, tem olhos de lebre, chifres de veado, pescoço de serpente, ventre de rã, garras de gavião, escamas de carpa, patas de tigre e orelhas de vaca. Qualquer que seja a sua origem, o dragão andava associado à ideiade uma boa administração por parte dos oficiais imperiais que controlavam as sementeiras, os canais de rega, etc., e acabou por transformar-se também em símbolo dadignidade imperial. Simbolizando inicialmente os ritmos de vida que garantem a prosperidade, a fartura e a ordem, passou a andar associado às funções da realeza e tornou-se emblema do imperador. Aliás, este simbolismo, corrente na China, aplicava-se também entre os Celtas, e já um texto hebraico se refere ao dragão celeste comoum “rei sobre oseu trono”. Mas, foi a partir da dinastia Han 漢 (206 a.C. – 220 p.C.) que o dragão passou a representar simbolicamente o poder imperial, com esta alteração aparecendo associada ao aumento do tamanho do trono imperial que se verificou na época do imperador Liu Bang 劉邦 (206a.C. – 195a.C.). O rei-dragão (lông vóng [lon-gwang 龍王]), na sua forma divinizada, confundia-se com o imperador, também ele deificado – o filho do Céu. A imagem do dragão transformou-se deste modo numa manifestação permanente da omnipotência imperial: a face do dragão passou a significar a face do imperador, etc. As expressões alargavam-se a tudo quanto com ele se relacionava: o trono do dragão, os olhos do dragão, a pena do dragão, o traje do dragão, etc.. O complexo simbolismo do dragão é ambivalente. Tal ambivalência exprime-se, em Macau, pelas imagens correntes de dois dragões frente a frente, a lembrar as serpentes do caduceu ocidental, as quais sugerem o equilíbrio por integração de forças contrárias. De facto, o caduceu, geralmente representado como um ramo de oliveira ou de loureiro, terminado em duas asas e no qual se enroscam duas serpentes, é, nos nossos dias, o emblema universal da ciência médica. Segundo uma interpretação mitológica, o caduceu é atribuído a Asclépio (ou Esculápio, na versão romana), deus da medicina, entre os gregos e os romanos, que sabia usar as poções para curar os doentes e ressuscitar os mortos. As serpentes enroladas em volta do bastão, que simbolizará a árvore da vida, significarão que a saúde resulta do equilíbrio. Equilíbrio psicossomático, também. A serpente assume assim um duplo aspecto simbólico: um, benéfico, o outro, maléfico, e o caduceu representa, se quiser, este antagonismo e este equilíbrio. Também no simbolismo do dragão a ambivalênciaé constante: é yang 陽, como signo do trovão, da Primavera e da vida, como se referiu, e é yin (陰), como soberano das regiões aquáticas onde mergulha no Outono, como também já se observou. Associada ao yang 陽, simboliza o vigor masculino e a fertilidade. E será por isso que nos surge associado àfestividade do duplo yang 陽(ou de aprovisionamento do princípio masculino): no nono dia do nono mês lunar (duplo nove) os homens subiam festivamente aos montes e embebedavam-se com vinho de flores de crisântemo. Talvez por andar associado ao elemento água, o dragão adquiriu também importância em termos de geomância [o fông-sôi(feng shui 風水) ou “vento e água” – preocupação ainda muito viva entre a actual população de Macau]: uma das regras fundamentais é não despertar e sobretudo não enfurecer o dragão, cuja presençaos “técnicos” geomantes conseguem “ver” nas formas dos montes, dos vales e dos rios, nos detalhes das ruas e das casas. Eram e são numerosos os talismãs de monífugos com representações do dragão, pois asociedade chinesa vive da e na simbologia das coisas e dos actos e, em qualquer situação, se necessário, cria ou adapta pequenos rituais, recorrendo ao poder dos símbolos, como se este fosse mágico e automático. Deste modo, o povo, a quem primeiramente o culto dizia respeito, e a quem foi interdito o uso do dragão nove stuário ou na decoração das suas casas, continuou, porém, e até aos nossos dias, a respeitá-lo e a venerá-lo como símbolo das quatro grandes bênçãos: harmonia, virtude, prosperidade e longa vida. Hoje, o povo chinês associao dragão sobre tudo ao oculto, ao sobrenatural, à mística e ao mistério. Surge, assim, associado também aos novos movimentos religiosos que parecem de regresso à China dono vomilénio. Em Macau, os vestígios do culto do dragão são bem manifestos em três momentos altos do calendário lunar: a dança do dragão, no início do Ano Novo Lunar, a celebração do dragão em briagado, no 8.º dia da 4.ª lua, e as regatas dos barcos-dragão, no 5.º dia da 5.ª lua. [A.J.G.A.] Bibliografia: ARAÚJO, Amadeu, Diálogos em Bronze – Memó - rias de Macau, (Macau, 2001); BREDON, Juliet; MITROPHA- NOW, Igor, The Moon Year, (Hong Kong, 1982); CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain, Dicionário dos Símbolos, (Lisboa, 1982); CHRISTIE, Anthony, Chinese Mythology, (Hong Kong, 1983); COULING, Samuel, The Encyclopaedia Sinica, (Hong Kong, 1983); EBERHARD, Wolfram, A Dictionary of Chinese Symbols, (New York, 1998); JORGE, Cecília, Dragão, Dragão, in Revista Macau, II série, n.° 13, (Macau, 1993), pp. 22-31; ROCHA, Rui, O Início do Milénio sob o Signo do Dragão, in Revista Macau, II série, n.° 92, (Macau, 1999), pp. 274-283; WERNER, E.T.C., Myths and Legends of China, (New York, 1994); WILLIAMS, C.A.S., Outlines of Chinese Symbolism & Art Motives, (New York, 1976).
CULTO DO DRAGÃO
Do complexo e vasto simbolismo que anda associado ao dragão, prevalece o aquático, como se observou. Os dragões vivem na água, e cospem raios que fazem brotar as nascentes, estando, porisso, ligados à produção da chuva fertilizante. Unindo a terra e o céu, o dragão simboliza sobretudo a chuva celeste que fecunda a terra. É, assim, um animal auspicioso, de bomaugúrio, e as danças que tradicionalmente lhe eram dedicadas, destinavam-se a pedir-lhe chuva. Em Macau é familiar a todos a dança do dragão,que normalmente se realiza no 2.º dia do Ano Novo Lunar (ou festividade da Primavera, como é hoje conhecida na República Popular da China). Sendo uma das manifestações folclóricas chinesas mais apreciadas pelos estrangeiros, evido ao seu movimento, cor e espectacularidade, costuma atrair uma enorme multidão e constitui o ponto alto dos programas festivos preparados para celebrar a mais importante data do calendário lunar. Em ambiente lúdico, a dança inicia-se com uma breve cerimónia para “despertar” o dragão. Uma vez desperto, com uma pincelada nos olhos e no meio da língua, corre atrás da pérola de cinábrio – a essência que deixou fugir. O corpo, com cerca de 100 metros,é transportado por dezenas de homens muito ágeis, e a cabeça, controlada por outra pessoa, segue os movimentos ziguezagueados de uma tocha de fogo, que é transportada por outro homem, em passo de corrida. Percorre importantes áreas da cidade, enquanto a população comenta festivamente: longxi zhu 龍戲珠 “o dragão brinca com a pérola”. Esta dança era bem menos colorida, ainda em tempos recentes. Com origem num ritual de súplicas ao deus dragão, que se realizava para marcar as comemorações mais importantes ou para rogar chuva em tempo de seca, a dança tinha também um carácter exorcizante. Destinava-se apedir chuva e a afastar epidemias no ano que se iniciava. O missionário americano Justus Doolittle que em meados do século passado trabalhou no Sul da China durante 25 anos, é um dos muitos estrangeiros que observou e relatou oritual. Na descrição,transcrita por Cecília Jorge, narra como em épocas particularmente secas se organizavam preces públicas pela chuva, quer entre as classes altas da sociedade, quer entre o povo inculto. Por vezes constroem uma imagem […] a que chamam rei dragão […] Sendo muito leve, é carregada em procissão […] gritando “vem aí a chuva!” ou “que chova! que chova!” . Homens e rapazes transportavam bandeiras a anunciar que se ofereciam “preces pela chuva”ou “para salvação e alívio do povo” . Outros carregavam gongos e tambores, fazendo-os soar incessantemente pelas ruas enquanto desfilam.Um dos homens aspergia o chão ressequido com um ramo de bambu, clamando “venha a chuva! Venha a chuva!” . Os participantes, gente simples do povo, usavam chapéus de forma cónica e trajavam de branco, a cor do luto. Muitos seguravam um pivete de incenso aceso. Por vezes, o desfile entrava nos pátios das residências oficiais ou dos nobres de então, aproveitando estes para oferecer incenso ao rei dragão. Nos dias em que estas procissões de preces, rogos e súplicas se efectuavam, os comerciantes da zona colocavam sobre os balcões das suas lojas uma espécie de cartaz de papel dedicado ao “Rei Dragão dos Cinco Lagos e Quatro Mares. Aquele que nos Concede a Chuva” . À frente do cartaz ardem três pivetes de incenso e velas de cera brancas. The Moon Year, reproduz uma expressiva fotografia que documenta o carácter exorcizante e precatório destas procissões. [A.J.G.A.] Bibliografia: ARAÚJO, Amadeu, Diálogos em Bronze – Memó - rias de Macau, (Macau, 2001); BREDON, Juliet; MITROPHA- NOW, Igor, The Moon Year, (Hong Kong, 1982); CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain, Dicionário dos Símbolos, (Lisboa, 1982); CHRISTIE, Anthony, Chinese Mythology, (Hong Kong, 1983); COULING, Samuel, The Encyclopaedia Sinica, (Hong Kong, 1983); EBERHARD, Wolfram, A Dictionary of Chinese Symbols, (New York, 1998); JORGE, Cecília, Dragão, Dragão, in Revista Macau, II série, n.° 13, (Macau, 1993), pp. 22-31; ROCHA, Rui, O Início do Milénio sob o Signo do Dragão, in Revista Macau, II série, n.° 92, (Macau, 1999), pp. 274-283; WERNER, E.T.C., Myths and Legends of China, (New York, 1994); WILLIAMS, C.A.S., Outlines of Chinese Symbolism & Art Motives, (New York, 1976).
Dança do Dragão
Tempo: | Após o estabelecimento da RPC em 1949 até 1999 |
Década 1980 | |
Palavra-chave: | Festival Qingming |
Prestar culto |
Fonte: | Arquivo de Macau, documento n.º MNL.05.07.006.F |
Entidade de coleção: | Arquivo de Macau |
Fornecedor da digitalização: | Arquivo de Macau |
Tipo: | Imagem |
Fotografia | |
Preto e branco | |
Formato das informações digitais: | TIF, 2000x1398, 2.67MB |
Identificador: | p0004181 |
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