Informações relevantes
Data de atualização: 2020/07/17
Surgimento e mudança da Ribeira Lin Kai de San Kio
Macau e a Rota da Seda: “Macau nos Mapas Antigos” Série de Conhecimentos (I)
Escravo Negro de Macau que Podia Viver no Fundo da Água
Que tipo de país é a China ? O que disseram os primeiros portugueses aqui chegados sobre a China, 1515
Data de atualização: 2020/07/17
COATES, AUSTIN (1922-1997). Administrador colonial, diplomata, escritor, Austin Coates viveu os seus últimos anos em Portugal, onde morreu no dia 17 de Março de 1997, semanas antes de completar 75 anos de idade. A escolha da Rua das Horas da Paz, em Colares, Sintra, para última morada não foi um acaso na vida aventurosa deste aristocrata inglês, cidadão do mundo, que conheceu Portugal a Oriente e dedicou a essa dimensão da gesta parte da sua obra literária. Austin Francis Harrisson Coates nasceu em Londres a 16 de Abril de 1922; estudou na Stowe School, e em Paris. Filho do compositor Eric Coates, Austin desde novo acalentou a ideia de se tornar escritor, mas os seus planos seriam abruptamente interrompidos pelo eclodir da II Guerra Mundial. Mobilizado pela Royal Air Force Intelligence, começa por prestar serviço em Londres, partindo em 1942 para a Índia, onde privou com Mahatma Ghandi (durante cerca de um mês, em gozo de licença militar, acompanhou o profeta da paz nas suas deambulações por um continente em plena ebulição). Ainda nos Serviços de Informação da RAF, cumpre comissões na Birmânia (Myanmar), Singapura e Indonésia, até 1947. Dois anos depois, ingressa na administração colonial britânica, tendo sido indigitado Secretário Colonial Adjunto e colocado em Hong Kong. É nesta colónia britânica que passa a dedicar-se à escrita, e surgem as primeiras obras: Invitation to an Eastern Feast e Personal and Oriental. A sua obra mais famosa, Myself a Mandarim (1967), seria também inspirada pelas vivências no último posto britânico do Oriente, concretamente do período em que desempenhou os cargos de administrador civil e magistrado nos Novos Territórios, entre 1953 e 1955. Segue-se o período malaio: de 1957 a 1962, exerce funções de magistrado, diplomata e administrador colonial em Sarawak, Penang e Kuala Lumpur. Em 1962, abandona a administração britânica e, de regresso à sua Londres natal, dedica-se a tempo inteiro à escrita, produzindo obra em diversos géneros, da novela à ficção histórica; das memórias à biografia, de que se destaca, neste último género, o seu livro de maior fôlego, Rizal: Philippine Nationalist and Martyr (1968). Macau, que conhecera numa tarde cálida do início dos anos 1950, ocupa parte relevante do seu labor literário. Era a Macau de Gonzaga Gomes e Jack Braga, com quem priva na célebre tertúlia do Hotel Riviera: nessa altura, havia 27 carros e o ‘dia europeu’ não começava antes das 11 da manhã. Do convívio com a intelectualidade e as famílias tradicionais macaenses, parte para a investigação ao passado do enclave português, e dessa viagem resultam obras incontornáveis como A Macao Narrative (1978) e City of Broken Promises (1967) – em que mistura, com mestria literária, a realidade e a ficção (embora tais devaneios lhe mereçam críticas dos puristas da verdade histórica). Em 1966, depois de quatro frios invernos na Velha Albion, volta a Hong Kong, fixando ali residência para os 27 anos seguintes – durante os quais se desloca amiúde a Macau, hospedando-se, invariavelmente, no Hotel Bela Vista – onde produziu boa parte da sua obra literária. Entretanto, em 1974, faz uma viagem exploratória a Portugal, à procura de uma alternativa mais amena aos verões sufocantes de Hong Kong. Mas, 10 dias depois de ter deixado Lisboa, dá-se o 25 de Abril, e o Grande Oficial Cavaleiro de Sua Majestade, que presenciara o declínio do império colonial britânico na Índia, Malásia e Singapura, decide não trocar a sua casa na Upper MacDonald Road, sobranceira a Central, pela perspectiva de viver novas convulsões revolucionárias, e volta ao Extremo Oriente. Só duas décadas depois, a partir de 1993, se cumpre o sonho de acabar os seus dias na serra de Sintra, no país que tem o povo mais profundamente cosmopolita do mundo, como disse um dia Austin Coates, inveterado apreciador de vinhos do Dão e charutos havanos.
COATES, AUSTIN (1922-1997)
ANSON, BARÃO GEORGE (1697-1752). Almirante cuja rota da circum-navegação (1740- 1744) passa por Macau. Entre outras façanhas, Anson derrota a frota francesa no Cabo Finisterra em 1747, e, enquanto First Lord of the Admiralty (1751-1756, 1757-1762), leva a cabo importantes reformas navais, contribuindo para o sucesso de Inglaterra na Guerra dos Sete Anos (1756-1763). Após cerca de dois anos de viagem, em 12 de Novembro de 1742, encontrando-se apenas quatro embarcações da EIC no Sul da China, chega à rada de Macau, com o intuito de se reabastecer, o primeiro barco de guerra da Marinha Real inglesa, o H. M. Centurion, sob o comando de George Anson, que partira de Southampton em 18 de Setembro de 1740 para desequilibrar os interesses espanhóis, sobretudo no continente americano. Um dos membros da tripulação descreve a chegada à Taipa e o poder (cada vez mais nominal) dos portugueses em Macau. O enclave funciona como porto familiar e seguro durante longas viagens de embarcações europeias. Na China Meridional inúmeros barcos europeus necessitam de se reabastecer e de ser reparados, como é o caso do Centurion. O capitão inglês do Augusta, barco da EIC, informa Anson dos procedimentos habituais dos estrangeiros à chegada a Macau, nomeadamente o pedido de autorização às autoridades chinesas para entrar no rio de Cantão e as taxas alfandegárias que o Centurion teria que pagar, aconselhando o Comodoro a informar-se melhor junto do governador e do Senado de Macau, que, temendo represálias chinesas como as que a cidade sofrera ao receber o London e outras embarcações inglesas, aconselha Anson a atracar discretamente na Taipa e a não entrar no rio das Pérolas, pois caso o fizesse teria de pagar as taxas alfandegárias ao mandarinato cantonense. Os portugueses servem, mais uma vez, de fonte de informação sobre a China para visitantes estrangeiros, deslocando-se Anson, no segundo dia da sua estada, a terra para inquirir o governador sobre as possibilidades de adquirir mantimentos e reparar o barco. Este último responde que se vê forçado a pedir autorização às autoridades mandarínicas e, perante tal postura, o Comodoro, apercebendo-se de que apenas o vice-rei de Cantão poderia autorizar o reabastecimento e a reparação do Centurion, aluga um pequeno junco e dirige-se para Cantão, onde, após aconselhar-se junto dos sobrecar¬gas da EIC aí instalados, tenta, através do Co-Hong (Gonghang 公行), em vão, falar com o mandarim, regressando à Taipa cerca de um mês depois, em 16 de Dezembro. Já em Macau o Comodoro entrega ao Hopu (Hubu 户部) uma carta traduzida para chinês dirigida ao vice-rei de Cantão, ameaçando o oficial da alfândega de Macau que subiria a Cantão no seu barco caso a missiva não fosse entregue ao seu destinatário. Dois dias depois, uma frota de dezoito juncos desce ao Canal da Taipa transportando enviados do vice-rei de Cantão que se encontram com Anson, que, por sua vez, ameaça quer as autoridades chinesas, quer indirectamente a Cidade do Santo Nome de Deus com a força do seu barco de guerra caso essa mesma embarcação não seja reabastecida e reparada. A permissão do vice-rei chega em 6 de Janeiro de 1743, e, em 19 de Abril, encontrando-se o barco pronto para viajar, Anson deixa a rada de Macau, afirmando estrategicamente que se dirige para Batávia para regressar três meses mais tarde, em 11 de Julho, com o galeão espanhol Nuestra Señora de Cobadonga, que tomara nas Filipinas, em 30 de Junho, enquanto este fazia a viagem Acapulco-Manila carregado de mercadoria. O comodoro, lutando novamente contra as exigências dos chineses, dirige-se, três dias depois, à Boca do Tigre, onde pede mantimentos e permanece algum tempo à espera dos mesmos, visitando Whampoa (Huangpu 黃埔) e Cantão até regressar a Macau e partir, posteriormente, após mais uma estada de seis meses nos mares da China, para Inglaterra, onde chega em Junho de 1744. O relato da viagem do Comodoro Anson, atribuído a Richard Walter, capelão do H. M. Centurion, mas redigido, segundo alguns estudiosos, por Benjamin Robins, e publicado em 1748, espelha a atitude inglesa em relação à China, um país considerado intolerante, enquanto a administração mandarínica reforça a vigilância de Macau para evitar a entrada de mais barcos ‘bárbaros’ no Império do Meio através de Macau. O texto atribuído a Richard Walter descreve a estada da tripulação em Macau, e, tal como os autores dos relatos da embaixada de Lord Macartney farão mais tarde, refere a riqueza de que a cidade gozara no início da ocupação portuguesa e a decadência em que então se encontra, permanecendo os portugueses no enclave com autorização dos chineses, que podem, quando o entendem, bloquear a entrada de comida obrigando assim o governador a obedecer-lhes. A obra é traduzida para francês em 1751, ilustrada com uma gravura da cidade vista do mar, onde o Centurion se encontra representado, com base na gravura de Nieuhoff (1665). No que diz respeito às consequências da viagem do Centurion pelo globo e pelos mares da China Meridional, e de entre os muitos exemplos de obras que reflectem e aplaudem o resultado da expedição, John Campbell publica Navigantium atque Itinerantium Bibliotecha: or, A Compleat Collection of Voyages and Travels (1744-1748), na qual glorifica as façanhas marítimas inglesas e descreve o interesse crescente das nações europeias no comércio, sobretudo com a China, servindo-se ainda das muitas inconveniências enfrentadas pelo comodoro Anson em Macau, das dificuldades da circum-navegação e das relações com as autoridades chinesas para provar a capacidade dos ingleses, que futuramente deverão seguir o exemplo do comodoro pelos mares, honrando a Inglaterra. Bibliografia: WALTER, Richard, A Voyage Round the World in the Years MDCCXL, I, II, III, IV, by George Anson, (Londres, 1748); WALTER, Richard, Anson’s Voyage Round the World, introdução e notas de G. S. Laird Clowes, (Londres, 1928); MORSE, Hosea Ballou, The Gilds of China, (Nova Iorque, 1909); MORSE, Hosea Ballou, The International Relations of the Chinese Empire, vol. 1: The Period of the Conflict 1834- 1869, (Londres, 1910); MORSE, Hosea Ballou, The Chronicles of the East India Company Trading to China 1635-1834, vol. 1, (Oxford, 1926); SOMMERVILLE, Boyle, Commodore Anson’s Voyage into the South Seas and Around the World, (Londres, 1934); WILLIAMS, Glyndwr (ed.), Documents Relating to Anson’s Voyage Round the World 1740-1744, (Londres, 1967); WILLIAMS, Glyndwr (ed.), “Anson at Canton, 1743: ‘A Little Secret History’”, in CLOUGH, Cecil P.; HAIR, P. E. H. (eds.), The European Outhrust and Encounter: The Firts Phase (c. 1400-c. 1700), (Liverpool, 1994), pp. 271-290; WILLIAMS, Glyndwr, The Prize of all Oceans: The Triumph and Tragedy of Anson’s Voyage Round the World, Harper Collins, (Londres, 1999); SUMAREZ, Philip, Log of the Centurion Based on the Original Papers of Captain Philip Saumarez on Board HMS Centurion, Lord Anson’s Flagship During his Circumnavigation 1740-44, (Londres, 1973); EAMES, James Bromley, The English in China, (Londres, 1974); LOYD, Christopher, “Introduction”, in SUMAREZ, Philip, Log of the Centurion. Based on the Original Papers of Captain Philip Saumarez on Board HMS Centurion, Lord Anson’s Flagship during his Circumnavigation 1740-1744, (1973), pp. 10-13.
ANSON, BARÃO GEORGE (1697-1752)
AUDEN, W. H. (1907-1973). Durante a sua viagem pela China (1937-1938) aquando da guerra sinojaponesa o poeta inglês W. H. Auden (Wystan Hugh Auden) recolhe, na companhia de Christopher Isherwood, impressões para redigir Journey to a War (1939), acabando por visitar Hong Kong, em Fevereiro de 1938, bem como Macau, entrepostos comerciais que descreve comparativamente em dois sonetos em verso branco redigidos em Bruxelas durante o mês de Dezembro de 1938. O poema “Macao” apresenta uma imagem dupla do território, sendo o exotismo e o prazer sem peso do pecado uma das suas principais características, esterótipos facilmente associados ao Oriente pelo turista ou viajante ocidental. Enquanto a comercial Hong Kong não agrada nem a Auden nem ao sujeito poético, Macau, “a weed from Catholic Europe”, ganhou raízes entre as montanhas e o mar. O texto lírico, predominantemente descritivo, apresenta um policromático ‘retrato’ do enclave através das suas casas alegres, um “exótico fruto” que simboliza a singularidade das vivências portuguesa e chinesa da cidade. O olhar protestante do “eu lírico” demora-se nas imagens e estátuas de santos de estilo rococó que prometem salvação aos jogadores, enquanto igrejas se acomodam, lado a lado, com casas de prazer, materialização espacial do “comportamento natural” do ser humano que a fé pode perdoar, imagem esta continuada nos tercetos. Erotismo rima, portanto, com exotismo, através do campo semântico constituído pelos adjectivos utilizados, por entre vielas e edifícios da urbe, recordando os relógios e sinos das altaneiras torres católicas que o inferno poderá esperar os mais temerosos que se entregam aos mistérios do Oriente, rodeados por uma vivência também ocidental. Macau é, como revela o símile botânico utilizado no texto, caracterizado como um “enxerto cultural” ou erva daninha luso-sínica, advindo daí a sua singularidade e o facto de o território representar metaforicamente as fraquezas ‘da carne’ e as virtudes da natureza humana. A dimensão exotica assume no poema uma sugestiva proeminência que se repete no imaginário ‘inglês’ relativamente a Macau e que recompensa o viajante que se depara com a familiaridade da “infantil”, porque inocente, porta de entrada do Ocidente na China. Bibliografia: AUDEN, W. H., Collected Poems, introdução e notas de Edward Mendelson, (Londres, 1991 [1976]); BAKER, Donald C.; BAKER, Elizabeth D., “A Great English Poet on China, Hong Kong and Macao: W. H. Auden and a “Weed from Catholic Europe””, in Review of Culture, 2.ª série, n.º 25, edição inglesa, (Macau, 1995), pp. 241-248; CARPENTER, Humphrey, W. H. Auden: A Biography, (Londres, 1981); DAVENPORT-HINES, Richard, Auden, (Londres, 1995); PUGA, Rogério Miguel, ““Macao” e “Hong Kong” de W. H. Auden: Uma Abordagem Comparativista”, in Administração: Revista de Administração Pública de Macau, vol. 15, n.º 55:1, (Macau, 2002), pp. 325-338.
AUDEN, W. H. (1907-1973)
Em 1745, Fr. José de Jesus Maria, que terá concluído neste ano a sua Azia Sinica e Japonica, dá-nos as seguintes informações: “De 1735 a 1745, Macau perdeu em naufrágios mais de 11 navios. Em 1745 a população de Macau é de 5 212 cristãos e 5 000 chinas gentios. Compare-se este numero com as 44000 almas que aqui viviam um século antes.Os portugueses do reino são apenas 90; os homens e crianças 1 911 e as mulheres 3 301, parecendo uma cidade de mulheres”. (Cfr. António Martins do Vale, Os Portugueses em Macau (1750-1800). Degredados, ignorantes e ambiciosos ou fiéis vassalos d’El – Rei?, Macau, IPOR, 1997, pp. 220,221,230 e 231).
Azia Sinica e Japonica
CARVALHO, RODRIGO LEAL DE (1932-). Nasceu na Praia da Vitória, Açores, em 20 de Novembro de 1932, tendo vivido parte da infância em Trás-os-Montes e no Algarve, para além dos Açores, onde fez a escolaridade e o Curso dos Liceus. Licenciou-se em Direito (Universidade de Lisboa), ingressando de seguida na Magistratura. Foi colocado na ilha do Pico em 1956 e, no ano seguinte, em S. Tomé e Príncipe, a que se seguiu Macau, onde viverá, se bem que de forma não continuada, cerca de quatro décadas, e a maior parte da sua vida activa. Em 1959 chegou ao Território como delegado do Ministério Público, onde ficou até 1963, ocasião em que foi colocado na Guiné como Juiz de Direito. Nessa qualidade voltou a Macau, em 1966, aqui permanecendo até 1971. Foi então colocado em Luanda, onde esteve ano e meio, sendo depois enviado para Moçambique, onde foi promovido à Relação, e donde saiu em 1975. Após uma curta estadia em Lisboa, na Direcção dos Assuntos Jurídicos do Ministério do Ultramar, regressou uma vez mais a Macau, em 1976, como Procurador da República, cargo entretanto criado no âmbito do Estatuto Orgânico do Território, e depois designado de Procurador-Geral Adjunto. Nele permaneceu até ser nomeado Presidente do Tribunal de Contas em 1996, lugar que deteve até às vésperas da transferência da Administração de Macau para a República Popular da China, regressando a Portugal ainda em 1999. Por impedimento, pediu, ao ser investido nessas funções, a suspensão dos cargos de curador da Fundação Macau e de membro do Conselho Universitário de Macau, que há anos vinha desempenhando. Rodrigo Leal de Carvalho viu os seus serviços serem reconhecidos pelo Estado português ao ser agraciado, em 1986, com o grau de Grande Oficial da Ordem do Mérito, enquanto que o Governador de Macau o distinguiu, em 1998, com a Medalha de Valor. Se bem que tenha despertado para a escrita ainda nos tempos do Liceu, só em 1993 deu à estampa o seu 1.º romance, Requiem por Irina Ostrakoff, o qual obteve tal aceitação pública que viria a ser reeditado logo em 1995. Galardoado com o Prémio Camilo Pessanha 1993, atribuído pelo Instituto Português do Oriente, foi recentemente (1999) publicado em língua chinesa e objecto da dissertação de Mestrado de Vânia Maria Pinto Coelho Reis. Em 1994 é a vez de publicar Os Construtores do Império, já esgotado, logo seguido, em 1996, de dois outros novos romances: A IV Cruzada, em que o autor em parte se assume como protagonista, e Ao Serviço de Sua Majestade, surgindo, em 1999, O Senhor Conde e as Suas Três Mulheres. Com fina ironia e delicadeza, Rodrigo Leal de Carvalho tem-se revelado um escritor das memórias da cidade de Macau e do universo do funcionalismo português de além-mar das décadas de 1950 e 1960, recreando ambientes e vivências testemunhadas por ele mesmo, sempre devidamente enquadradas no panorama da conjuntura mundial do século XX, o que despertou a atenção de outros investigadores como David Brookshow e Lee Shuk Yee. – Principais Obras. Romance – Requiem por Irina Ostrakoff, 1993 (2.ª ed., 1995); Os Construtores do Império, 1994; A IV Cruzada, 1996; Ao Serviço de Sua Majestade, 1996; O Senhor Conde e as Suas Três Mulheres, 1999. Bibliografia: BROOKSHAW, David, “Macau e os Macaenses: Considerações sobre a Obra de Henrique de Senna Fernandes e Rodrigo Leal de Carvalho”, vol. 2, (Porto, 1999), pp. 169-178; REIS, Vânia Maria Pinto Coelho, A Ironia em “Requiem por Irina Ostrakoff ”, policopiado, (São Paulo, 1999); SENA, Tereza; BASTO, Jorge, Macau nas Palavras, CD-ROM, (Macau, 1998).
CARVALHO, RODRIGO LEAL DE (1932-)
BEAUVOIR, CONDE LUDOVIC DE (1846-1929). Visita Macau como acompanhante do duque de Penthiève, primo do rei de Portugal por via materna, em 1867, regressando a França nesse mesmo ano, de onde partira, em 1866, para dar a volta ao mundo. Em 1869, o conde de Beauvoir publica Australie et Java, Siam, Canton, em dois volumes, e três anos mais tarde, Pékin, Yeddo, San Francisco, a terceira parte da sua viagem. O viajante chega ao “pavilhão europeu” a bordo do vapor norte-americano Fire- Dart, em 11 de Fevereiro de 1867, e deambula pelas principais atracções turísticas da cidade, incluindo os barracões onde permanecem os cules antes de serem enviados para o continente americano, prática longamente descrita e criticada. Pelas ruas de Macau, Beauvoir compara as casas de granito a prisões, observando macaenses e mestiços no exterior, onde, após o pôr-do-sol, nada há para ver senão os teatros chineses, descritos pelo autor, embora mais tarde, descreva também as casas de jogo da cidade, Mónaco da China e península em forma de uma pegada humana. São ainda referidos e descritos os fortes, as igrejas e os templos da cidade, bem como a Praia Grande, a Gruta do poeta exilado (Camões), no topo da qual se encontra um “observatório”; a paisagem humana adornada pelas mulheres cobertas de mantilhas e a população do território (125 mil chineses, dois mil portugueses). Breves apontamentos históricos referem a fundação portuguesa da cidade; a morte do governador Ferreira do Amaral; as ocupações militares inglesas da cidade (1802, 1808) e a fundação de Hong Kong, que “mata” o antigo entreposto português, antes da descrição da chegada do autor a Cantão, a bordo de uma canhoneira cedida pelo governador José da Ponte e Horta. Bibliografia: BEAUVOIR, Conde de, Voyage Autour du Monde, (Paris, 1869-1870); BEAUVOIR, Conde de, Java, Siam, Canton, (Paris, 1872); BEAUVOIR, Conde de, Pékin, Yeddo, San Francisco, 5.ª edição, (Paris, 1872); LOMBARD, Denis, “O Conde de Beauvoir e Macau (Fevereiro de 1867): Impressões de Macau do Conde de Beauvoir”, in Revista de Cultura, 2.ª série, n.° 23, (Macau, Abril-Junho de 1995), pp. 96-110.
BEAUVOIR, CONDE LUDOVIC DE (1846-1929)
José Inácio de Andrade nasceu no dia 2 de Novembro de 1780 em Santa Maria, Açores. Faleceu em Lisboa no primeiro dia do ano de 1863. Em Lisboa dedicou-se à vida política activa, tendo sido eleito vereador da Câmara Municipal de Lisboa em 1837. No biénio 1838-1839, Inácio de Andrade ocupou a Presidência da Câmara da capital portuguesa. Posteriormente veio a assumir o cargo de Director do Banco de Portugal. José Inácio de Andrade foi um homem do seu tempo, marcado cultural e ideologicamente por uma visão do mundo humanista e individualista, caracterizadora do pensamento liberal. Erudito e dedicado às letras, Inácio de Andrade escreveu em 1835 dois textos que foram publicados em Lisboa: Memória sobre a Destruição dos Piratas da China e o Desembarque dos Ingleses na Cidade de Macau e sua Retirada e Biografia de Rodrigo Ferreira da Costa. A sua ligação ao Oriente teve início nos primeiros anos de Oitocentos com um conjunto de viagens a Macau e à Índia como capitão de navios. Casou duas vezes e foi à sua primeira esposa, Maria Gertrudes de Andrade, que dirigiu as cartas que escreveu e que reuniu na obra Cartas Escriptas da India e da China, as quais constituem um conjunto de cem breves reflexões, publicadas pela primeira vez em dois volumes pela Imprensa Nacional, em 1843. Ao longo desta obra, o autor revela um conhecimento alargado sobre a China, adquirido através das suas viagens que o mantêm ligado ao Oriente durante vinte anos. Cem cartas recheadas de descrições e reflexões sobre o que ia observando e estudando, e que Inácio de Andrade dividiu em dois volumes. As cinquenta cartas que compõem o primeiro volume centram-se no início da sua viagem até à Índia, nalguns aspectos da civilização indiana, na viagem até Macau e à China e, finalmente, na milenar história chinesa. No segundo volume, composto pelas restantes cinquenta cartas, o autor lança um olhar sobre os diferentes aspectos que caracterizam a civilização chinesa, aproveitando para reflectir sobre outros temas. Estas reflexões ajudam-nos a compreender a sua linha de pensamento, com particular realce para as suas constantes comparações entre o Ocidente e as características do Império do Meio. As viagens realizadas por José Inácio de Andrade exerceram sobre o autor um natural fascínio, levando-o a enaltecer os aspectos mais positivos que foi encontrando no seu contacto com os povos e os lugares que visitou. Mantendo o quadro de valores civilizacionais e de referência do Ocidente visíveis na forma como aborda alguns temas, nas reflexões que elabora e nos autores que utiliza para criticar ou para servirem de suporte às suas análises (Adam Smith, Helvecio, Montesquieu, Voltaire, Abade Reynal, Hobbes, Fernão Mendes Pinto, Gaspar da Cruz, Jerónimo Osório, Tomé Pires, entre outros), Inácio de Andrade faz um esforço no sentido de valorizar o ‘outro’ face a si próprio. Não podendo deixar de sublinhar a erudição e a riqueza multidisciplinar que as Cartas Escriptas da India e da China ainda hoje nos revelam, importa destacar o modo como este autor coloca o seu racionalismo e os seus sentimentos ao serviço da civilização visitada, acabando por se render ao exotismo esmagador de um Oriente que, naquele tempo, ainda estava em grande parte por descobrir. Não obstante os limites que a obra revela, relativamente ao grau de profundidade e de precisão dos conhecimentos que nos transmite sobre as civilizações orientais, as Cartas constituem um objecto de estudo em si mesmas, pela riqueza do texto, pelos sentimentos que nos transmitem e pelas ideias que veiculam: o respeito e a admiração por outras civilizações, pelo diferente, base fundamental em que se alicerçou a secular presença portuguesa no Extremo Oriente. Bibliografia: DIAS, Alfredo Gomes, “As Cartas de José Ignacio de Andrade”, in Macau, n.° 1, (Macau, 2000), pp.78-88; ANDRADE, José Ignacio de, Cartas Escriptas da India e da China, (Macau, 1998).
ANDRADE, JOSÉ INÁCIO DE (1780-1863)
CLEVELAND, LUCY HILLER (1780-1866). Viajante, poetisa, autora de livros infantis, desenhadora, diarista, artista têxtil (1830-1865) e reformista social oriunda de Salem, Massachusetts e filha mais nova do major Joseph Hiller (1748-1814), relojoeiro que luta na Guerra Civil, e de Margaret Cleveland Hiller (1748-1804). Em 1803, o major Hiller muda-se, com a família, para Lancaster (Massachusetts), onde Lucy casa com o capitão William Lambert of Roxbury em Julho de 1806, enviuvando um ano depois, quando o marido morre na Holanda, em Agosto de 1807. Lucy regressa a Lancaster para viver com as suas irmãs mais velhas, Dorcas (1773-1850) e Mary (1779-1815), que haviam casado, respectivamente, com os irmãos Richard Jeffrey Cleveland (1773-1860) e William Cleveland (1777-1842), mercadores de Salem e que são primos em primeiro grau das mulheres, sendo estes casamentos estimulados de forma a preservar a riqueza e a influência das famílias locais. O pai de Lucy morre em 1814, seguindo-se-lhe a irmã Mary, no ano seguinte, servindo a primeira, viúva e sem filhos, como acompanhante de senhoras na sua família. Em 1816, Lucy casa com o cunhado viúvo, o capitão William Cleveland, tornando-se madrasta dos seus sobrinhos, prática comum entre os unitarians, segundo Harriett Low. O casal muda-se para Salem em 1821, sem nunca ter filhos. William dedica-se e novo ao comércio marítimo, enquanto a sua mulher escreve cerca de doze livros infantis. Em 29 de Outubro de 1828, Lucy e o seu enteado James Cleveland deixam Salem e, em 18 de Novembro de 1828, partem a bordo do Zephyr, para acompanhar o marido até Timor, onde este se desloca com o intuito adquirir sândalo para comercializar na China. A viagem dura cerca de um ano, terminando em 27 de Setembro de 1829. A viajante redige um breve diário da viagem e ilustra um sketchbook com duas dezenas de desenhos coloridos de Timor (7) e de Macau (13), onde visita a jovem Harriett Low, em 1829, desenhando e pintando, tal como George Chinnery e W. W. Wood, várias cenas do quotidiano macaense oito-centista, entre os quais “Apew” (Apun); o boy do lar da família Low; uma chinesa de pés enfaixados; uma mulher portuguesa a caminho da igreja, coberta pelo véu e acompanhada por um empregado; cules a carregar cadeirinhas aos ombros; um barbeiro e (três) jogadores chineses sentados no chão. De acordo com o seu diário, a cansativa viagem entre Timor e o enclave dura trinta e dois dias, chegando a diarista cansada à Rada de Macau em 12 de Outubro de 1829. A autora deixa de escrever até 8 de Janeiro de 1830, dia em que abandona Macau, observando-se portanto uma elipse na narrativa. Em 12 de Outubro de 1829, Harriett Low descreve, no seu diário, o primeiro encontro com Mrs. Cleveland, sua conterrânea, e com o seu marido, passeando com a recém-chegada, sua hóspede, pelas ruas de Macau, ouvindo-a tocar guitarra, observando jogos que esta lhe ensina e fazendo-lhe companhia devido à sua prolongada doença, enquanto o marido se desloca a Cantão, em negócios. Em 8 de Janeiro de 1830, o casal Cleveland deixa Macau, trocando Lucy correspondência com a jovem Low. Bibliografia: “Lucy Cleveland Papers” e “William S. Cleveland Papers”, Peabody Essex Museum: Phillips Library (Salem); CLEVELAND, Lucy, “Sketchbook”, cota: M1347, The Peabody Essex Museum, Phillips Library; CLEVELAND, Lucy, “Voyage of the Zephyr, 1829”, cota: MS 656 1829Z, The Pe¬abody Essex Museum, Phillips Library; CLEVELAND, Richard J., A Narrative of Voyages and Commercial Enterprises, (Cambridge, 1842); MARVIN, Reverend Abijah P., History of the Town of Lancaster, Massachusetts, (Lancaster, 1879); CLEVELAND, Edmund Janes; CLEVELAND, Horace Gillette (eds.), The Genealogy of the Cleveland and Cleveland Families, (Hartford, 1899); CARRICK, Alice Van Leer, “Playthings of the Past”, in Antiques, (Janeiro de 1922), pp. 10-16; PAYSON, Huldah Smith, Museum Collections of the Essex Institute, (Salem, 1978); LAHIKAINEN, Dean, In the American Spirit: Folk Art from the Collections, (Salem, 1994); RICHTER, Paula Bradstrees, “Lucy Cleveland’s ‘Figures of Rags’: Textile Arts and Social Commentary in Early-Nineteenth-Century New England”, in BARNES, Peter (ed.), The Dublin Seminar for New England Folklife. Annual Proceedings 1997 Textiles in Early England: Design, Production, and Consumption, (Boston), pp. 48-63; RICHTER, Paula Bradstrees, “Lucy Cleveland, Folk Artist”, in Antiques: The Magazine, (Agosto de 2000), pp. 204- 213; LOW, Harriett, Lights and Shadows of a Macao Life: The Journal of Harriet Low, Travelling Spinster – Part One: 1829- 1832 e Part Two: 1832-1834, 2 volumes, (Woodinville, 2002); PUGA, Rogério Miguel, “Macau e Timor em 1829: O Diário e os Desenhos Inéditos de Lucy Cleveland”, Oriente (Lisboa, (2006).
CLEVELAND, LUCY HILLER (1780-1866).
BREDERODE, MARTINHO TEIXEIRA HOMEM DE (1866-?). O diplomata e poeta Martinho Teixeira Homem de Brederode nasceu em Lisboa no dia 15 de Abril de 1866. Depois de concluir o Curso Superior de Letras, iniciou a carreira diplomática em 1889, ocupando o lugar de adido na Legação de Portugal em Bruxelas. Após a sua passagem pela Direcção Geral dos Negócios Políticos e Diplomáticos, foi colocado na Legação portuguesa de Tânger, como 2.º Secretário, onde chegou em Janeiro de 1906. Acabou por exercer interinamente as funções de Encarregado de Negócios. A sua promoção a 1.º Secretário conduziu-o a Pequim, nomeado por decreto de 14 de Março de 1907. As suas obrigações em Tânger adiaram a sua ida para a capital chinesa, onde chegou no dia 2 de Dezembro desse ano, assumindo a gerência da Legação na qualidade de Encarregado de Negócios. Em Pequim, onde permaneceu até 1912, Homem de Brederode foi uma testemunha atenta ao desenrolar da vida política chinesa, num período marcado pelos acontecimentos que acompanharam o fim da dinastia Qing 清 e a proclamação da república em 1911- 1912. A complexidade da situação política chinesa e as suas implicações em Macau, colocaram-no em contacto permanente com o Governador do Território. A sua capacidade de análise e de interpretação sobre o período de crise política, económica e social que atravessou a China, pode ser testemunhada nos inúmeros ofícios e telegramas que remeteu para o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal. Os lugares que ocupou e as missões que lhe foram confiadas foram sempre desempenhados com brio e empenho, tendo sido louvado, por portaria de 15 de Outubro de 1912, pela coadjuvação que prestou ao chefe da missão portuguesa no centenário da constituição de Cádiz. Homem de Brederode encontrava-se em Bucareste quando se aposentou em 1939. Foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo, da Ordem da Coroa da Roménia, da Ordem de S. Sava da Jugoslávia e da Ordem do Duplo Dragão Imperial Chinês. Homem de Brederode foi Comendador das Ordens de Santiago da Espada e de S. Maurício e S. Lázaro de Itália. Para além de oficial da Legião de Honra (em França), Homem de Brederode foi ainda nomeado Cavaleiro da Ordem de Carlos III. Martinho Homem de Brederode, para além da sua actividade diplomática foi ainda um homem de letras tendo deixado escritas três obras poéticas Charneca (1981), Pó da Estrada (1898) e Sul (1905) e, ainda, um romance, A Noite de Amor (1894), este último sob o pseudónimo de “Marco Sponti”. Bibliografia: Annuario Diplomático e Consular Português Relativo aos Annos de 1910 a 1913, (Lisboa, 1913); Anuário Diplomático e Consular Português de 1925, (Lisboa, 1926); Anuário Diplomático e Consular Português de 1928-1929, (Lisboa, s.d.).
BREDERODE, MARTINHO TEIXEIRA HOMEM DE (1866-?)
Personagem: | Conceição, Deolinda do Carmo Salvado da, 1913-1957 |
Tempo: | Época da República entre 1911 e 1949 |
Após o estabelecimento da RPC em 1949 até 1999$ |
Fonte: | Dicionário Temático de Macau, Volume I, Universidade de Macau, 2010, p. 394. ISBN: 979-99937-1-009-6 |
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