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Data de atualização: 2020/09/03
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Data de atualização: 2020/09/03
BOXER, CHARLES RALPH (1904-2000). Professor emérito da Faculdade de Estudos Portugueses do King’s College de Londres, perfila-se como o maior historiador da expansão marítima oriental portuguesa iniciada no século XV. Nasceu na ilha de Wight no dia 8 de Março de 1904 e faleceu em Londres no dia 27 de Abril de 2000, com 96 anos de idade. Descendia de uma família de tradição naval. Seu avô tinha sido oficial de marinha e Charles Boxer não conseguiu ingressar naquela arma devido apenas ao facto de usar óculos. Por isso acabaria por ingressar na academia do exército de Sandhurst, concluindo o curso como segundo tenente em 1923. Durante alguns anos prestou serviço na Irlanda até ser designado em 1930 para o Japão, a fim de servir como oficial intérprete na missão militar inglesa naquele país. Em 1936 transitou para os serviços de inteligência militar em Hong Kong, onde serviu até Dezembro de 1941, data em que os japoneses ocuparam aquele território. Ferido em combate, esteve prisioneiro num campo de concentração (em Cantão), até ser libertado no final da guerra e enviado de novo em missão ao Japão em 1946, de novo como adido militar. Em 1947 desligou-se do serviço militar, obtendo a regência da cadeira de Estudos Portugueses na Universidade de Londres. Condecorado pelo governo português com a Grã Cruz da Ordem de S. Tiago da Espada e Grã Cruz da Ordem do Infante, publicou aos 18 anos de idade o seu primeiro estudo sobre a história de Macau, sendo autor de mais de 350 trabalhos sobre a expansão portuguesa, espanhola e holandesa a Oriente, na era moderna. Apesar de não ser um académico na acepção formal do termo, começou a interessar-se pela expansão marítima portuguesa e holandesa enquanto serviu nos primeiros anos no Extremo Oriente, depois de ter contactado com elementos civis e militares holandeses na Indonésia. Em 1926 publicou os seus primeiros artigos sobre o tema, mas seria em 1930 que escreveria o seu primeiro trabalho académico: uma tradução dos Comentários de Ruy Freire de Andrade. Nesse tempo, nada ou quase nada era conhecido sobre a saga dos portugueses, japoneses e holandeses no Extremo-Oriente, nos meios universitários de língua inglesa, mas também nos de língua portuguesa. Servindo-se do facto de ser um oficial dos serviços de inteligência da Grã Bretanha, Charles Boxer, maximizou o seu interesse pela história utilizando os seus contactos no Extremo Oriente, mas particularmente em Macau, onde cultivou um conjunto de amizades junto dos círculos intelectuais macaenses, que lhe permitiram não só reunir um conjunto de informações de carácter histórico, mas também adquirir um acervo de documentos originais e livros de diversa índole, que lhe permitiram reunir em pouco tempo uma biblioteca invejável sobre o tema geral da expansão europeia no Extremo Oriente. Após a sua captura pelos japoneses, em 1941, a sua biblioteca foi considerada como tendo interesse de estado pelos japoneses, apreendida e enviada para Tóquio. Terminada a guerra, Boxer, graças à cooperação do governo britânico, conseguiria reaver o seu espólio, excepto um livro, que não constou do documento de apreensão japonês. Esse livro, veio a saber-se depois, tinha ficado nas mãos de um oficial japonês e somente viria a recupera-lo décadas mais tarde, já nos anos sessenta, recompletando assim a biblioteca da sua juventude. A nomeação de Charles Boxer para a regência da Cadeira Portuguesa de Camões no King’s College foi um evento memorável, tendo em conta a sua falta de credenciais académicas. Todavia, certo é que em 1947 Boxer seria nomeado para reger a cadeira, sucedendo ao professor George Young, seu fundador, e ao seu sucessor Edgar Prestage em 1947. Tratou-se de uma atitude inédita das autoridades universitárias do King’s College, tendo em conta que Boxer não possuía grau académico. Apenas tinha publicado uma obra e nunca tinha sido professor. Apesar disso, Boxer, não só era admitido como regente da cadeira de Prestage, como seria, em 1951, incumbido de reger o Departamento de Estudos Orientais e Africanos da Universidade, que dirigiria até 1953. Retirado do exército e dedicado à universidade, Boxer escreveu a primeira das suas grandes monografias intitulada: Fidalgos in the Far East. Essa monografia constituiu uma súmula alargada e aprofundada dos trabalhos avulsos que tinha escrito anteriormente e publicado em diversos jornais da especialidade. Logo a seguir publicou The Christian Century in Japan (1951) e no ano seguinte a obra Salvador Correa de Sá and the Struggle for Brazil and Angola (1952). Os Holandeses no Brazil seria a obra complementar que surgiria à estampa em 1957. The Great Ship from Amagon (A Grande Nau de Macau) seria o seu estudo seguinte, dedicado ao tráfico das sedas da China e da prata do Japão, no século XVI, que tinha como centro nevrálgico Macau e que surgiria em letra de forma em 1959. Na sequência dessa obra, Boxer produziria um outro livro sobre a “idade do ouro” do Brasil, em 1962, que continua por traduzir em língua portuguesa. Firmada a sua reputação em Inglaterra, com a série de obras publicadas a que se fez referência, Boxer seria naturalmente nomeado membro da Academia Britânica e o seu contributo requisitado por várias universidades, nomeadamente da Holanda e dos Estados Unidos da América. Assim, passou a ser professor convidado da universidade americana de Indiana (1967) e de Yale, onde regeria a cadeira de Estudos da Expansão Europeia Ultramarina (1969). Do ponto de vista pessoal, Charles Boxer viveu uma vida plena de aventuras, tendo em conta o facto de ser um elemento dos Special Inteligence Service da Grã Bretanha. Foi essa condição que lhe permitiu, em Macau, fazer amigos junto de um círculo de intelectuais macaenses dos anos 30, nomeadamente Jack Braga, Silva Mendes, Vicente Jorge e outros, que contribuíram para que conseguisse testemunhos históricos e fontes documentais portuguesas do Extremo Oriente a que de outro modo nunca teria tido acesso. Segundo um dos seus biógrafos, Boxer foi tudo quanto se pode ser no domínio da história: “autor, biógrafo, editor, bibliógrafo, arquivista, catalogador, tradutor e revisor”. Para além disso, a concepção de história de Charles Boxer ultrapassava qualquer ponto de vista pessoal, preferindo transmitir factos partindo dos documentos originais a que tinha acesso, segundo outro dos seus biógrafos. Neste ponto, porém, é importante salientar que uma nova escola de historiadores contesta esse comentário historiográfico que, alegadamente apenas, tem em vista “absolver” Charles Boxer das suas posições “conservadoras. Esse ponto de vista é subscrito nomeadamente pelo historiador indiano Sanjay Subrahmanyam, que afirma que Boxer não representa mais do que uma velha escola de historiadores que relatavam a história baseados apenas nos documentos coloniais, sem cuidar de consultar fontes e documentos autóctones, cujas línguas desconheciam. Saliente-se todavia, que, para além de dominar o inglês (sua língua materna), Boxer falava e lia japonês, português e holandês, embora não falasse fluentemente estas duas últimas. Todavia, saliente-se também que conseguia ler manuscritos dos séculos XVI e XVII em português e holandês, faculdade que não se encontra ao alcance de muitos historiadores e que por vezes constitui apenas domínio de alguns paleógrafos. Para além das obras mencionadas, Charles Ralph Boxer escreveu também os seguintes livros e ensaios, entre outros: O 24 de Junho. Uma façanha dos portugueses (1926); Relação da perda da nau “Madre de Deus” (1927); The Siege of Fort Zeeland and the Capture of Formosa from Dutch (1927); Subsídios para a História dos Português no Japão (1927-1928); A Portuguese embassy to Japan, 1644-1647 (1928); Notes on early European military influence in Japan (1931); European influence on Japanese sword fittings, 1543- 1853 (1931); Dutch Seaborne Empira 1600-1800; Church Militant & Iberian Expansion, 1440-1770; Dutch Merchants & Mariners in Ásia, 1602-1795; From Lisbon to Goa, 1500-1750; Studies in Portuguese Maritime Enterprise; Portuguese Conquest & Comerce in Southern Ásia, 1500-1750; Portuguese Embassy to Japan (1644-1647); Portuguese Merchants & Missionaries in Feudal Japan 1543-1640; Race Relations in the Potuguese Colonial Empire, 1415-1825. Relativamente a este último livro mencionado, de salientar que seria a obra que incorreria nas iras do regime de Salazar em Portugal e que levaria a que o governo português chefiado pelo então ditador (1931-1968) lhe retirasse as condecorações que lhe tinha anteriormente outorgado pela sua obra como historiador da expansão portuguesa ultramarina. Boxer seria, no entanto, reabilitado posteriormente à revolução de 25 de Abril de 1974, sendo-lhe não só restituídas as medalhas concedidas durante a vigência do Estado Novo, como atribuído o novo tributo da Ordem do Infante pelo presidente Mário Soares, em cerimónia solene realizada em Lisboa. Bibliografia: ALDEN, Dauril, Charles Ralph Boxer – An uncommon life, (Lisboa, 2001).
BOXER, CHARLES RALPH (1904-2000)
Historiador, geógrafo e pensador pioneiro do reformismo moderno da China, natural de Shaoyang 邵陽, Província de Hunan 湖南. Cognominado Hanshi 漢士 e com o nome literário de Moshen 默深, Wei Yuan 魏源 nasceu em 23 de Abril de 1794 e aos 15 anos alcançou o grau académico de Xiucai 秀才 [Licenciado]. Em 1814, foi mandado estudar para Pequim, onde conseguiu o grau académico de Juren 舉人 [Graduado Provincial], em 1822. Em 1844, aos 50 anos, tornou-se Kinshi (Jinshi 進士) [Doutor]. No ano seguinte, foi nomeado magistrado distrital de Xinghua 興化, Província de Jiangsu 江蘇. Em 1849, tomou posse como magistrado distrital de Xinghua 興化, na mesma Província. Possui uma fértil produção literária e, de entre as suas obras mais conhecidas, pode-se destacar Haiguotuzhi 海國圖誌 [Tratados Ilustrados de Reinos Marítimos], que teve a sua primeira edição em 1844, com apenas 50 capítulos. A segunda edição, datada de 1847, foi aumentada para 60 capítulos. A terceira versão, de 1852, foi a mais volumosa, com 100 capítulos. Como o próprio autor reconhece, para o significativo enriquecimento da obra sucessivamente aumentada, serviu- se de informações recolhidas nas Sizhouzhi 四洲 誌 [Crónicas dos 4 Continentes], de Lin Zexu 林則 徐 e noutras fontes ocidentais. A obra Haiguotuzhi 海國圖誌 esclarece imensas dúvidas sobre as muitas variantes da palavra Portugal em chinês. [J.G.P.] Bibliografia: FAIRBANK, John K., The Cambridge History of China, vol. 10, Late Ch’ing, l800-l911, parte 1, (Cambridge, 1978); GAO Hong, Fangyan Shijie Wei Yuan yu Haiguotuzhi, (Shenyang, 1997); HUANG Liyong, Wei Yuan Nianpu [Biografia Cronológica de Wei Yuan], (Changsha, 1985); HUMMEL, Arthur W., Eminent Chinese of the Ch’ing Period, vol. 2, (Taipei, 1991); LEONARD, Jane Kate, Wei Yuan and China’s Rediscovery of the Marítime Word, (1984); LI Hanwu, Wei Yuan Zhuan [Biografia de Wei Yuan], (Changshan, 1988); LI Hu, Wei Yuan Yanjiu [Estudos sobre Wei Yuan], (Pequim, 2002); NA Yu; LIU Xu, Wei Yuan Zhuan [Biografia de Wei Yuan], (Pequim, 1998); TANG Si, Aomen Fengwuzhi (Xupian) [Crónica de Coisas de Macau (Continuação)], (Pequim, 1999); VONG Tak Hong, Aomen Xinyu [Crónicas de Macau], (Macau, 1996); WEI Ying, Wei Yuan Zhuanlue [Breve Biografia de Wei Yuan], (Pequim, 1990); WEI Yuan, Haiguotuzhi [Tratados Ilustrados de Reinos Marítimos], (Xangai, 1898); WEI Yuan, Wei Yuan Quanji [Obras Completas de Wei Yuan], (Changsha, 1989); WU Zhiliang; IEONG Wan Chong, Aomen Baikequanshu [Enciclopédia de Macau], (Macau, 1999); YANG Jibo; WU Zhiliang; DENG Kaisong (dirs.) Mingqingshiqi Aomenwenti Danganwenxian Huibian [Colecção Documental de Arquivos das Dinastias Ming e Qing relativos a Macau], vol. 6, (Pequim, 1999); YANG Shenzhi; HUANG Liyong, Wei Yuan Sixiang Yangjiu [Estudos sobre o Pensamento de Wei Yuan], (Changsha, 1987); Zongguo Jindaishi Cidian [Dicionário da História Moderna da China], (Xangai, 1982).
WEI YUAN 魏源 (1794-1857)
BRAGA, JOSÉ MARIA ou BRAGA, JACK (1897-1988). Intelectual que se destacou na história Extremo Oriente, igualmente conhecido por Jack Braga, nasceu em Hong Kong a 22 de Maio de 1897, filho de conhecido membro da comunidade macaense da colónia inglesa de Hong Kong e de Olive Pauline Kollard, violinista, australiana de nascimento, que se havia fixado em Hong Kong por 1890. Foi o filho mais velho de uma família de treze filhos. O bisavô de J.M. Braga foi um dos pioneiros da comunidade lusa de Hong Kong, que ali se fixou após a sua ocupação pelos ingleses. Naquele território fundou a editora Noronha e Co., cuja actividade se prolongou por mais de cem anos, acabando por ser comprada pelo Governo de Hong Kong. O seu pai, José Pedro Braga, seguiria as mesmas pisadas e viria a ser impressor, editor e, posteriormente, director do Hong Kong Telegraph e de várias companhias locais, membro activo do Conselho Sanitário, hoje conhecido por Conselho da Cidade, e do Conselho Legislativo.Frequentou o St. Joseph’s College. Apesar de ter sido um dos melhores alunos da colónia de Hong Kong e ter o sonho de ser médico, o seu pai contrariou o desejo, pois queria que começasse a trabalhar para ajudar a família. Casou com Augusta e foram pais de sete filhos. A família deslocou-se para Macau e José Maria Braga foi leccionar as cadeiras de Língua e Literatura Inglesa no Seminário de S. José, na década de 1920. Tendo grandes dificuldades na expressão da língua portuguesa, comprou o seu primeiro livro a Viagem de Vasco da Gama. Ao dedicar-se ao estudo e investigação das primeiras relações entre a China e o Ocidente, deu origem a uma vasta obra que o realçou como um especialista no tema. Era conhecedor dos arquivos e bibliotecas de várias partes do mundo, como Japão, Inglaterra, Itália e Portugal, tendo encontrado muitos originais que deu a conhecer. Seria ali que o futuro padre Manuel Teixeira, com apenas 12 anos, o viria a encontrar. Professor durante vários anos no velho Seminário, coube-lhe o mérito de ter preparado algumas gerações de jovens macaenses no conhecimento da Língua e Literatura Inglesa, tão necessárias para um futuro mais adequado. Enquanto esteve em Macau foi conselheiro não oficial de vários governadores, no que tocava às relações entre Macau e Hong Kong. Foi correspondente da Reuter e do South China Morning Post. Ocupou também o lugar de gerente da Watco, empresa de fornecimento de água à China para ser usada em Macau, bem como desenvolveu outras actividades no campo da exportação e importação. Muitos dos seus alunos notabilizaram-se nas mais variadas actividades em Hong Kong, Xangai e outras cidades importantes do Extremo Oriente. Outros emigraram para a Austrália, Estados Unidos da América e Canadá, contribuindo para a divulgação da cultura de Macau nessas zonas. Durante a II Guerra Mundial, e apesar da sua família ser numerosa, pois incluía duas tias e uma avó, Jack Braga recolheu na sua casa muitas famílias refugiadas de Hong Kong, obrigando mesmo à venda de diversos bens pessoais para poder sustentar toda a gente. Segundo o jornal de Hong Kong, South China Morning Post, desenvolveu actividade em prol dos Aliados durante a Guerra do Pacífico, tendo sido o elo de ligação entre vários grupos dos Serviços Secretos, incluindo o governo chinês e o grupo de apoio ao Exército britânico. Jack Braga emigrou para a Austrália e, mais tarde, em 1973, para os EUA por motivos de saúde, onde fixou residência. Veio a falecer em São Francisco, a 27 de Abril de 1988, com 90 anos de idade. A sua vasta biblioteca, com cerca de 9000 livros, algumas primeiras edições raras, manuscritos, mapas, fotografias e desenhos, encontra-se na Biblioteca Nacional da Austrália, em Camberra. Alguns dos seus trabalhos estão sob o pseudónimo de J.A. Kollard, segundo o historiador macaense Luís Gonzaga Gomes, como, por exemplo, Early medical practice in Macao, publicado cerca de 1935 ou “Macao-Shekki Highway”, na Macau Review datada de 1930. Muitos dos seus artigos foram publicados nas revistas Boletim Eclesiástico de Macau, Arquivos de Macau, Mosaico, Studia, Renascimento, Boletim do Instituto Português de Hong Kong, Boletim do Instituto Luís de Camões, Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, Anuário de Macau. Segundo o seu amigo de longa data, Jeoffrey Bonsall, deveu-se a Braga a doação da casa e biblioteca de Robert Ho Tung (Hedong Tushuguan 何東圖書館). Este, quando regressou a Hong Kong após a II Guerra Mundial, foi persuadido a ceder a sua casa para efeitos culturais. Igualmente através de Braga, uma colecção completa do Hong Kong News, jornal de língua inglesa publicado pelos japoneses durante a ocupação de Hong Kong, foi comprada para a Biblioteca da Universidade. A sua vasta bibliografia encontra-se referenciada por Luís Gonzaga Gomes em Bibliografia Macaense, obra republicada pelo Instituto Cultural de Macau em 1987, bem como no n.º 2 da Revista de Cultura, 1988. Devido à sua contribuição para a cultura macaense, o Instituto Cultural de Macau propôs que, no dia 10 de Junho de 1988, lhe fosse atribuído o Grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, galardão que destaca personalidades cuja acção tenha contribuído para a expansão da Cultura Portuguesa no Mundo. Bibliografia: GOMES, Luís Gonzaga, Bibliografia Macaense, (Macau, 1987); José Maria Braga, Vida e Obra, (Catálogo, Macau, 1988).
BRAGA, JOSÉ MARIA ou BRAGA, JACK (1897-1988)
Autor/repórter, naturalista e explorador austríaco, com interesses nas áreas das Ciências Naturais e da Economia. A convite do arquiduque Maximilian Ferdinand, Karl von Scherzer participa, na qualidade de repórter, numa viagem de circum-navegação com o objectivo de levar a cabo investigação científica no Oceano Pacífico, a bordo da fragata Novara, entre 1857-1859, publicando, em Viena, entre 1864 e 1868, os três volumes do relato da viagem, Reise der Österreischischen Fregatte Novara um die Erde. Em 1869, o explorador acompanha uma segunda viagem à China, ao Japão e à Tailândia, publicando o relato da mesma, em 1872, Fachmännische Berichet über die Österreisch-ungarische Expedition nach Siam, China und Japan 1868-1871, tendo posteriormente desempenhado cargos diplomáticos, quer no Oriente, quer na Europa. O viajante austríaco chega a Macau, a bordo do Sir Charles Forbes, vindo de Hong Kong, em 1858, pouco depois da Guerra do Ópio e da fundação (inglesa) dessa cidade, comparando a beleza do enclave católico à da Victoria protestante. O cariz pitoresco da paisagem humanizada, sobretudo da Praia Grande e das sampanas no porto, é uma constante na descrição da urbe em que os mercadores europeus repousam nos meses de Verão e onde, de acordo com o autor, Camões, exilado, escreveu Os Lusíadas no romântico ambiente da Gruta situada no frondoso parque, criticando o mau gosto do busto do poeta, bem como o tráfico de cules para a América do Sul a partir de Macau. O autor é acolhido e guiado por Herr von Carlowitz, comentando os efeitos da Guerra do Ópio na comunidade estrangeira em Macau, o medo e a insegurança constantes, que já não se sentem nos passeios domingueiros dos inúmeros casais ao longo da Praia Grande e ao som da banda filarmónica. O visitante dirige-se posteriormente para Cantão, encontrando uma cidade ainda a erguer-se do estado de destruição em que a Guerra do Ópio a deixara. [R.M.P.] Bibliografia: DIAS, Jorge, “Macau in the Mid-Nineteenth Century: A Report by the Austrian Explorer Karl Ritter von Scherzer”, in Review of Culture, ano 2, vol. 2, n°s. 7/8, (Macau, Outubro de 1988/Março de 1989), pp. 27-31; NARCISS, George Adolf, Im Fernen Osten: Forscher und Entdecker in Tibet, China, Japan und Korea, 1689-1911, (Tübingen, 1978); VON SCHERZER, Karl Ritter, Reise der Österreischischen Fregatte Novara um die Erde, 3 vols., (Viena, 1864-1868); VON SCHERZER, Karl Ritter, Narrative of the Circumnavigation of the Globe by the Austrian Frigate Novara, Undertaken by Order of the Imperial Government, in the Years 1857, 1858, & 1859, 3 vols., (Londres, 1861-1863); VON WÜLLERSTORF-URBAIR, Bernahard Freiherr, Reise der österreichischen Fregatte Novara um die Erde in den Jahren 1857, 1858, 1859, 3 vols., (Viena, 1867-1875); VON WÜLLERSTORF-URBAIR, Die k. u. k. österreichisch-ungarische Expedition nach Indien, China, Siam und Japan, 1868-1971 […], (Estugarda, 1873).
SCHERZER, KARL RITTER von (1821-1903).
BOCARRO, ANTÓNIO (1594-?). António Bocarro nasceu em 1594, provavelmente em Abrantes. Filho de cristãos-novos, teve uma educação católica no colégio Jesuíta de Santo Antão. Mas, em 1610, foi convertido ao judaísmo por Manuel Bocarro Francês, um dos seus irmãos mais velhos. Em 1615 embarcou para a Índia, tendo prestado serviço militar em diversas expedições navais portuguesas. A determinada altura estabeleceu-se em Cochim, onde veio a casar e a estabelecer relações com a comunidade de judeus de origem portuguesa daquela cidade indiana. Por volta de 1624, contudo, depois de um período de sérias dúvidas existenciais, abraçou de novo o catolicismo, fazendo uma confissão voluntária perante a Inquisição de Goa, que o absolveu do seu passado judaizante. Em 1631, D.Miguel de Noronha, conde de Linhares, que tomara posse do governo do Estado da Índia dois anos antes, nomeava-o para o cargo de cronista e guarda-mor da Torre do Tombo goesa, com o propósito explícito de dar continuação às Décadas da Ásia, que haviam sido interrompidas com a morte de um dos anteriores cronistas, Diogo do Couto, em 1616. No exercício das suas novas funções, António Bocarro começou por preparar um Livro das plantas de todas as fortalezas, cidades e povoações do Estado da Índia Oriental, vasta e rigorosa compilação, concluída em 1635, dirigida a Filipe IV de Espanha e III de Portugal, onde se fazia um levantamento exaustivo das possessões portuguesas no Oriente, bem como de todas as rendas de lá provenientes e de todos os cargos de nomeação régia. Este trabalho fora expressamente encomendado pelo monarca ibérico, poucos anos após a sua subida ao trono de Espanha e Portugal, em 1621, com o intuito de ficar a conhecer em maior detalhe a extensão das suas possessões orientais portuguesas, que, na realidade, se estendiam desde Sofala, na costa oriental de África, até Solor e Timor, nas mais remotas paragens da Insulíndia. Bocarro teve a valiosa colaboração de Pedro Barreto de Resende, secretário do conde de Linhares, que se encarregou de elaborar o magnífico conjunto de desenhos que ilustram a obra. Uma das descrições e um dos desenhos incluídos no Livro das Plantas são dedicados precisamente a Macau, porto luso-chinês que é apresentado como “uma das mais nobres cidades do Oriente, por seu rico e nobilíssimo trato para todas as partes, de toda a sorte de riquezas e coisas preciosas em grande abundância, e de mais número de casados e mais ricos que nenhuns que haja neste Estado” da Índia. Este trabalho de Bocarro ficou na época manuscrito, tendo apenas recentemente sido objecto de uma edição crítica. A Década 13, extensa crónica dos feitos portugueses no Oriente, entre 1612 e 1617, também preparada por Bocarro no período que vai desde a sua nomeação para cronista até 1635, ficou igualmente inédita, só vindo a ser impressa em 1876, pela Academia das Ciências de Lisboa. António Bocarro trata nesta obra dos cinco anos do vice-reinado indiano de D. Jerónimo de Azevedo, embora inclua igualmente bastante material sobre os anos imediatamente anteriores. Trata-se de uma fonte preciosíssima para o conhecimento da presença portuguesa na Ásia, na primeira metade do século XVII, período especialmente mal estudado pela historiografia recente, durante o qual se assistiu na Ásia à chegada em força de potências europeias como os Países Baixos e a Inglaterra, que desde cedo começaram a disputar muitas das posições estratégicas até então dominadas por Portugal. O cronista português, entretanto, dedica especial atenção à Ásia Oriental, revelando, à semelhança de tantos outros escritores europeus da época, especial fascínio e interesse pela China. A primeira e única edição da Década 13 é hoje uma obra extremamente rara, só disponível em bibliotecas especializadas, pelo que a volumosa obra do cronista português mereceria decerto uma nova edição. Até à sua morte, em 1642 ou 1643, Bocarro continuou a exercer o cargo para que fora nomeado em Goa. A documentação seiscentista permite atribuir a António Bocarro duas outras obras: uma Reformação do Estado da Índia, cujo paradeiro hoje se desconhece; e uma Relação dos feitos de Sancho de Vasconcelos, capitão português da fortaleza de Amboíno entre cerca de 1571 e 1591, publicada por Artur Basílio de Sá em 1956. Na realidade, esta última obra parece ter sido escrita por algum autor anónimo e apenas transcrita por Bocarro. Bibliografia: BOCARRO, António, O Livro das Plantas de todas as Fortalezas, Cidades e Povoações do Estado da Índia Oriental, 3 vols., (Lisboa, 1992); BOXER, Charles R., “António Bocarro and the Livro do Estado da Índia Oriental”, n.° especial, (Lisboa, 1956), pp. 203-218.
BOCARRO, ANTÓNIO (1594-?)
Personagem: | Pessanha, Camilo de Almeida |
Tempo: | Época da República entre 1911 e 1949 |
Após o estabelecimento da RPC em 1949 até 1999 | |
1916 | |
1990 | |
Local: | Portugal - Lisboa |
Palavra-chave: | Poeta |
Português |
Fotografia: | Pires, Daniel |
Fonte: | Arquivo de Macau, documento n.º MNL.01.09f.Icon |
Entidade de coleção: | Arquivo de Macau |
Fornecedor da digitalização: | Arquivo de Macau |
Idioma: | Português |
Tipo: | Imagem |
Fotografia | |
Preto e branco | |
Formato das informações digitais: | TIF, 1324x2000, 7.58MB |
Identificador: | p0001240 |
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