COELHO, ANTÓNIO DE ALBUQUERQUE (1682-?). Governador de Macau de 1718 a 1720, António de Albuquerque Coelho nasceu no Brasil, cerca de 1682. Filho de António Albuquerque Coelho de Carvalho, que desempenhou diversas funções administrativas e militares no Reino e no Brasil, e de Ângela de Barros, Albuquerque Coelho foi muito cedo para Portugal e daí partiu, em 1700, para o Estado da Índia. No seguimento da sua carreira militar, viajou numa fragata de guerra até Macau, a cuja guarnição passou a pertencer em 1708. Na sua condição de oficial militar teve de intervir activamente nas contendas que envolveram o cardeal Charles-Thomas Maillard de Tournon e a sua comitiva. Excomungado pelo Legado Apostólico, Albuquerque Coelho continuou a participar em todos os episódios que exigiram a presença de soldados, incluindo o embarque forçado dos padres Jean-François de la Baluère e Giuseppe Ignazio Cordero, em 1713, onde já participou como membro do Senado. Entretanto, tornara-se notória a disputa que mantinha com outro oficial, devido à sua pretensão em casar com Maria de Moura Vasconcelos, então ainda criança. No pleito perdeu um braço, mas vitorioso celebrou o seu matrimónio a 30 de Junho de 1709. Pelo casamento passou a ser morador da cidade e a intervir na vida municipal, desempenhando os diversos cargos senatoriais. Foi, aliás, na qualidade de procurador do Senado que, em 1712, negociou com os mandarins as questões relativas à expulsão dos mencionados missionários da Propaganda Fide. Enviuvou em 1714 e nesse mesmo ano foi preso na fortaleza da Guia pelo ouvidor Manuel Vicente Rosa, com quem se tinha incompatibilizado. Na sequência destas dissensões, o vice-rei da Índia Vasco Fernandes César de Meneses, ordenou a sua retirada para Goa, onde residia em 1716. Consideradas excessivas, as queixas apresentadas pelos macaenses não impediram que Albuquerque Coelho fosse nomeado governador de Macau em 1717. Nesse mesmo ano devia ter tomado posse do cargo, substituindo Francisco de Alarcão Sotto-Mayor (1714-1718), mas o morador de Macau Francisco Xavier Doutel, que estava em Goa com o seu barco e deveria ter transportado o novo governador, zarpou furtivamente do porto goês, deixando ficar Albuquerque Coelho. Foram muitos os moradores de Macau que contestaram a indigitação de antigo morador da cidade para a capitania geral. O próprio bispo, D. João de Casal, se mostrou apreensivo com as consequências que poderiam advir desta nomeação. Albuquerque Coelho estava ciente desta oposição, mas não desanimou, decidindo partir para Macau, fazendo a viagem por via terrestre até à costa oriental da Índia e a partir daí por via marítima, nalgum barco que navegasse para a China. A viagem já se advinhava morosa, mas no plano do novo governador não estava prevista a estada de alguns meses no sultanato malaio de Johore à espera de monção. Aqui teria contribuído para a resolução de conflitos que haviam eclodido entre facções rivais. Duvida-se da importância atribuída a tal intervenção, porque tudo indica que os factos tenham sido propositadamente empolados com o objectivo de enaltecer as qualidades de Albuquerque Coelho. Com estes imprevistos, o novo governador só chegou a Macau em Maio de 1718 e, contrariando os receios dos seus adversários, conseguiu governar sem provocar conflitos. As recomendações que levava de Goa e a conjuntura económica favorável facilitaram a sua actuação. Efectivamente, Albuquerque Coelho teve a sorte de ser governador na altura em que o imperador Kangxi 康熙, por razões de política interna da China, tinha proibido os chineses de fazerem viagens para o exterior, ficando os macaenses com o exclusivo do comércio externo. Esta concessão, que vigorou de 1717 a 1723, permitiu que os macaenses vivessem anos de prosperidade, e esta atenuou por sua vez os conflitos decorrentes da rivalidade comercial em que frequentemente se envolviam os governadores. Apesar de ter tomado posse do governo um ano depois do previsto e das instâncias feitas para permanecer em Macau durante os três anos previstos para o mandato do governador, o vice-rei da Índia substituiu Albuquerque Coelho em 1719. Em Setembro deste ano entregou o governo e regressou a Goa, sendo em 1721 nomeado para o governo de Timor. Não foi aqui tão bem sucedido como em Macau. Entrou em conflito com o bispo, Frei Manuel de Santo António, a quem teve de impor a sua autoridade, conseguindo expulsá-lo da ilha. Além deste problema, teve ainda de enfrentar a rebelião dos naturais, mas, não obstante as adversidades, conseguiu manter-se no seu posto até à chegada do seu sucessor em 1725. As atribulações do seu governo em Timor foram amenizadas com a boa recepção que lhe foi dispensada em Macau, quando voltava para a Índia. Aqui permaneceu por pouco tempo, porque em 1728 foi nomeado para a capitania de Pate, na costa oriental da África, onde se vivia uma difícil situação militar. A praça, integrada na conquista de Mombaça, tinha sido reconquistada nesse ano pelos portugueses, mas os antigos ocupantes tentavam reocupá-la. Albuquerque Coelho acabou por abandonar a praça, acusando o governador de Mombaça, Álvaro Caetano de Melo e Castro, de não lhe fornecer os meios necessários para desempenhar a missão que lhe tinha sido confiada. Esta deserção foi objecto de um processo movido em Goa, mas foi ilibado, tendo participado, em 1738, na guerra contra os maratas, em Bardez. O vice-rei da Índia, em 1745, informava que Albuquerque Coelho tinha mais de 60 anos e vivia retirado no convento dos Franciscanos em Goa. Aí terá falecido por esses anos. Bibliografia: BOXER, Charles R., Estudos para a História de Macau, Séculos XVI a XVII, (Lisboa, 1991); MARIA, José de Jesus, Asia Sínica e Japónica, 2 vols., (Macau, 1988); MARTINS, Paulo Miguel, Percorrendo o Oriente. A Vida de António Albuquerque Coelho (1682-1745), (Lisboa, 1998); SALDANHA, António Vasconcelos; ALVES, Jorge Manuel Santos (dirs.), Os Governadores e Capitães Gerais de Macau, (no prelo); TEIXEIRA, Padre Manuel, Macau no século XVIII, (Macau, 1984).

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Data de atualização: 2020/07/09