A cultura chinesa foi, ao longo da sua História, moldada pela acção conjunta de três correntes de pensamento: Daoísmo, Budismo e Confucionismo. Estas filosofias, diferentes entre si, estão assentes num sistema ancestral de crenças e valores, dos quais se podem destacar o culto dos antepassados e o dos espíritos da natureza. Como os três pensamentos coexistiram, acabaram por se influenciar mutuamente, surgindo, a partir do século XI, uma simbiose da qual resultou uma mistura mais ou menos confusa de doutrinas diferentes, recebidas sem espírito crítico, dando origem a um sistema não coerente sobre as actuais práticas religiosas dos chineses. Assim, adoram- se, nos templos de Macau, divindades daoístas e budistas, praticam-se cultos animistas e veneram-se antepassados. Os crentes, fiéis à moral confuciana, que é um conjunto de normas político-morais e cerimoniais, solicitam exorcismos aos sacerdotes daoístas e cerimónias fúnebres aos monges budistas. Desta forma, não existe praticamente em Macau um templo consagrado exclusivamente a uma única religião. A preocupação chinesa não segue pela verificação da veracidade da religião, mas sim pela moralidade da mesma. A crença pretende garantir a harmonia entre o mundo natural e o sobrenatural. É interessante verificar que nunca se encontrou na China a imagem de um Deus supremo, mas sim de divindades, sem nunca formalizar o princípio supremo. Quando o Budismo foi introduzido na China, o Daoísmo, religião de Dão, termo que significa Caminho ou Via, apropriouse de muitos dos seus ídolos, de forma que não se pode distinguir se um templo é daoísta ou budista, pois cada um é uma mescla de ambos. O Daoísmo, ao popularizar- se, constituiu-se numa religião organizada, havendo um panteão numeroso de divindades que coexistem com práticas de adivinhação e superstição. Assim, estão integradas personagens históricas ou lendárias divinizadas, combinando deuses, espíritos e crenças populares. A construção dos templos respeitou sempre a orientação requerida pela geomancia, ou seja, a relação harmoniosa entre o homem e a Natureza (Fong-Soi [Feng Shui 風水]). Esta relação tem por base o equilíbrio entre os dois princípios fundamentais do pensamento chinês, Yin 陰 e Yang 陽, formas de energia cósmica. Os templos constroem-se em locais respeitando o nascimento do Sol, junto das águas, em locais arborizados, principalmente com as árvores baneanes, devido ao facto de Buda ter procurado a meditação à sombra de uma árvore chamada Bó. Não pode interferir com o chi (qi 氣), que é a respiração espiritual do Universo. Apenas o geomante pode definir o local ideal para a construção de um templo ou de um cemitério. O Budismo e o Daoísmo são religiões que requerem isolamento e meditação. Em princípio, os templos deveriam ser construídos numa base de simetria, no entanto, tal já não se verifica nos dias de hoje, pela destruição de pavilhões ou pelo crescimento desusado da cidade. Os locais verdes e aprazíveis propícios para a edificação de templos viram nascer prédios, fazendo com que as edificações religiosas apareçam integradas em zonas habitacionais, por vezes completamente coladas a novos edifícios. À entrada dos templos chineses existe, normalmente, um par de leões em pedra, que se devem à lenda Hindu que refere que Buda, ao nascer, proferiu um som semelhante ao rugido desse felino. Assim, o leão tornou-se o protector do Budismo, ainda que apareça igualmente nos templos daoístas. Segundo Ana Maria Amaro, os templos chineses têm as seguintes características: terreiro – geralmente com pequenos altares dedicados aos espíritos da terra; vestíbulo – com as divindades protectoras do templo que vedam a entrada aos mal-intencionados e aos espíritos impuros; pátio descoberto – com jambolões, um pequeno pavilhão e tanques com lótus; capelas – com altares principais e secundários, e dedicadas aos deuses da riqueza, patronos da medicina e deusas propiciadoras dos filhos ou protectoras de crianças; e, finalmente, as construções laterais, que são capelas menores onde se encontram divindades que satisfazem as necessidades dos devotos. Os deuses são sempre de sexo masculino, ainda que se apresentem com rosto feminino.

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Data de atualização: 2022/11/04